Ibovespa sobe 0,75%, com presidente Lula assegurando a autonomia do BC e novas medidas fiscais

Ibovespa encerrou em alta o pregão desta sexta-feira, enquanto vértices da curva de juros tiveram firme queda, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recorrendo a vídeo, ao lado do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para assegurar autonomia da autarquia e falar em potenciais novas medidas fiscais.

O Ibovespa encerrou em alta de 0,75%, aos 122.102 pontos, acelerando os ganhos depois do vídeo. No entanto, o índice acumulou perda semanal de 2,01%, a pior desde 29 de novembro – quando foi apresentado o pacote de contenção de gastos. O volume de negócios foi de R$30,0 bilhões, acima da média móvel dos últimos 50 pregões.

Os juros futuros encerraram a sessão regular em queda de até 44 pontos-base, em uma sessão volátil, com nova intervenção do Tesouro, enquanto vídeo de Lula ajudou a desidratar curva. O Tesouro recomprou, mais cedo, 1,9 milhão de NTN-F, de dois milhões ofertados. Também recomprou 3,4 milhões de LTN, de 15 milhões ofertados.

Já o dólar futuro operava ao fim do dia em firme queda de 1,25%, a R$6,088, embora acumule avanço semanal de 0,67%, em um período marcado por intervenções expressivas do Banco Central no câmbio, em função de disfuncionalidade observada, via leilões de linha e leilões à vista. Índice dólar DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante uma cesta de divisas, recuava 0,73%, a 107,6 pontos, ao fim do dia.

Mais cedo, o Banco Central vendeu US$3,0 bilhões em leilão de dólar à vista, referenciado na Ptax, de acordo com comunicado. Também hoje, BC vendeu US$4,0 bilhões, distribuídos em dois leilões de linha, de até US$2,0 bilhões cada.

Na véspera, BC interveio duas vezes, via leilão à vista, somando US$8,0 bilhões, na maior intervenção diária da série histórica, iniciada em 1999, de acordo com levantamento da Warren Rena. Ontem, presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou entender que há “uma maior saída, atípica, ao fim do ano”, e que o BC tenta fazer intervenção que se contrabalanceia ao fluxo observado.

Em vídeo, Lula prometeu ao futuro presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, autonomia à instituição, e não descartou mais medidas fiscais. “É que hoje estamos oferecendo um presente, uma novidade ao Brasil. Esse jovem chamado Galípolo está assumindo a presidência do Banco Central”, disse Lula.

O presidente da República também disse que seguirá “atento à necessidade de novas medidas fiscais”. As falas impulsionaram o Ibovespa, que passou a testar máximas intradiárias. Os vértices da curva de juros testaram mínima intradiárias, enquanto dólar futuro acelerou trajetória de queda.

“O mercado acaba melhorando, estava precisando de algum motivo para surfar um movimento de melhora, mas não é esse vídeo, essa fala, que mudará estruturalmente a situação fiscal do país, muito menos a curva de juros. Existe, sim, uma crise de confiança”, afirmou Alex Martins, contribuidor do TC.

Mais cedo, em relatório, a Fitch afirmou que o forte processo de aperto monetário do BC, na ausência de uma âncora fiscal forte, pode aumentar os desafios fiscais do Brasil adiante. Na visão da Fitch, desenvolvimentos fiscais positivos serão importantes para interromper um ciclo de feedback negativo entre as políticas monetária e fiscal, de acordo com o analista Todd Martinez.

Em live de despedida do BC, Campos Neto fez balanço da gestão, desde 2019, e afirmou que uma autonomia financeira e administrativa é necessária para uma “blindagem melhor do BC”. Também de acordo com ele, a blindagem da autarquia deve aumentar ao longo do tempo, “naturalmente”. Campos Neto também disse ter feito transição “suave” da presidência para Galípolo, respeitando a institucionalidade da autarquia, e garantiu posição técnica do colegiado que segue.

Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ser preciso “corrigir a escorregada do dólar”. Também de acordo com ele, o governo quer transformar a revisão de gastos em rotina, e que não houve desidratação do pacote de contenção de gastos no “nível em que se imaginava”. De acordo com Haddad, “Lula tem todas as condições de chegar competitivo em 2026”.

O Senado aprovou hoje o projeto de lei que restringe o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), e impôs limites ao aumento real do salário-mínimo. Projeto foi aprovado com 42 votos favoráveis e 31 contrários.

Nos mercados acionários, ao fim da sessão, as ON de Vale, PN de Itaú e ON de B3 foram as maiores contribuidoras do índice, avançando 1,58%, 1,16% e 2,91%, respectivamente.

Em Wall Street, os principais índices acionários reverteram trajetória inicial de queda, encerrando em firme alta, após leitura da inflação de preços PCE, de novembro, mostrar aceleração abaixo do consenso nas bases mensal e anual.

Operadores também monitoravam votação de financiamento do orçamento dos EUA, para evitar uma paralisação da máquina pública, cujo vencimento ocorre nesta noite.

Os índices Dow Jones, Nasdaq 100 e S&P500 encerraram em firme alta de 1,18%, 1,24% e 1,09%, respectivamente. Na semana, o Dow Jones acumulou perda de 2,25%, pior desempenho desde a semana encerrada em 25 de outubro. O S&P500 recuou 1,99%, pior desempenho desde a semana encerrada em 15 de novembro. O Nasdaq 100 perdeu 1,86%, também pior desempenho desde 15 de novembro.

Republicanos da Câmara dos Representantes disseram que irão votar, nesta sexta, o financiamento do governo, para evitar uma paralisação da máquina pública até 14 de março. Na véspera, a Câmara dos Representantes rejeitou proposta de financiamento temporário, apoiada pelo presidente eleito, Donald Trump, e Elon Musk. Congressistas têm até 2h00 deste sábado, horário de Brasília, para aprovar uma proposta de orçamento e evitar paralisação da máquina pública.

A inflação de preços PCE avançou 0,1% em novembro, na base mensal, ante consenso de alta de 0,2%. Na base anual, a leitura avançou 2,4%, ante 2,5% de consenso. Já o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis, como alimentos e energia, avançou 0,1% na base mensal, ante consenso, de alta de 0,2%. Na base anual, avançou 2,8%, ante consenso, de 2,9%.

Foi o menor avanço da leitura do núcleo do PCE, na base mensal, desde maio deste ano, representando um passo para autoridades do Federal Reserve na direção de cortes de juros em 2025. As Treasuries yields de dois anos – sensíveis à política monetária – aceleraram trajetória de queda imediatamente após a divulgação dos dados, às 10h30.

Na quarta-feira, mediana de projeções contida no “Dot-Plot” do Federal Reserve passou a projetar apenas dois cortes de juros em 2025, e tom “hawkish” adotado pelo chair do Fed, Jerome Powell, pressionou para queda os índices acionários, enquanto Treasuries yields avançaram significativamente.

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   (Com informações da TCMover e Momento B3)