O dólar à vista encerrou esta quarta-feira praticamente estável, em meio a uma sessão agitada e de forte volatilidade. A moeda americana contrariou o movimento de baixa observado no exterior, influenciada por fatores tanto locais quanto internacionais.

No radar dos investidores estiveram os dados de inflação ao produtor (PPI) nos Estados Unidos, além de declarações controversas de Donald Trump, que voltou a sugerir a demissão do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.

No cenário doméstico, o câmbio também sentiu os reflexos das discussões sobre as tarifas impostas pelos EUA ao Brasil e da tensão política em torno de uma possível convocação do governador Tarcísio de Freitas, citada pelo ministro Alexandre de Moraes em uma apuração sobre reunião com teor golpista.

No fechamento, o dólar à vista teve leve alta de 0,07%, cotado a R$ 5,5619, após oscilar entre R$ 5,5415 e R$ 5,5949 ao longo do dia. Já o contrato futuro para agosto subia 0,10%, negociado a R$ 5,5790 às 17h05. Enquanto isso, no mercado internacional, o índice DXY — que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes — caía 0,31%, a 98,311 pontos. O euro subia 0,34%, cotado a US$ 1,1639, e a libra avançava 0,25%, para US$ 1,3419.

Mais uma vez, as tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos dominaram o noticiário. Desde que Trump anunciou, na semana passada, a intenção de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, o mercado tem monitorado com atenção a reação do governo brasileiro. O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o Executivo está empenhado em reverter a medida “o mais rápido possível”, e que pode buscar um prazo adicional para negociar.

Por outro lado, as sinalizações vindas de Washington aumentaram a temperatura. O representante comercial Jamieson Greer declarou que foi iniciada uma investigação sobre práticas comerciais supostamente “injustas” por parte do Brasil, especialmente no que se refere ao tratamento dado ao comércio digital. A avaliação é que isso pode estar penalizando empresas americanas — o que adiciona um novo capítulo à já conturbada relação bilateral.

No Brasil, as incertezas também giram em torno da cobrança do IOF. A tentativa de conciliação entre o Executivo e o Congresso, mediada pelo Supremo Tribunal Federal, terminou sem consenso, e agora ambas as partes decidiram aguardar a decisão da Corte. Apesar disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou confiança em uma resolução rápida para a disputa.

Com tantos focos de tensão, os investidores adotaram uma postura defensiva. A procura por ativos considerados mais seguros aumentou, impulsionando a demanda por dólares. “O mercado está em modo de espera, mas com um viés claro de proteção”, afirmou Fernando Bergallo, diretor da FB Capital. Para ele, a investigação aberta pelos EUA e o impasse sobre o IOF ajudaram a ampliar o clima de incerteza. “Esses fatores pioram a percepção de risco”, disse.

Fora do Brasil, as negociações comerciais também seguem no centro das atenções. Os Estados Unidos continuam ajustando suas tarifas com grandes parceiros como a União Europeia e o Japão, antes do prazo final de 1º de agosto para mudanças tarifárias mais amplas. O mercado avalia o impacto potencial dessas tarifas na inflação americana, especialmente após os dados divulgados na véspera mostrarem uma aceleração nos preços ao consumidor em junho — ainda que dentro das expectativas.

Apesar da recente pressão política por parte de Trump para cortes imediatos nos juros, os investidores seguem apostando que o Federal Reserve poderá realizar até dois cortes ainda em 2025, com o primeiro deles possivelmente já em setembro.

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(Com informações da Reuters, BDM Online e Uol)