Ambipar derrete mais de 56% na bolsa de valores, em meio a crise de confiança e risco de recuperação judicial

Ações da Ambipar caem para mínima histórica após suspeitas de irregularidades em FIDC e pedido de proteção contra credores. Mercado teme iminente recuperação judicial e pressiona a cotação na B3.

A Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. (BOV:AMBP3) vive um dos momentos mais delicados de sua história na bolsa de valores. Depois de acumular fortes perdas na quinta-feira (02/10), as ações da companhia continuam em queda livre nesta sexta-feira (03/10), despencando 56,36%, cotadas a R$ 1,20 às 13h44 — mínima histórica desde sua abertura de capital.

O tombo acontece em meio a uma sucessão de notícias negativas, incluindo suspeitas de irregularidades em um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) onde a empresa afirma estar boa parte de seu caixa. Segundo apuração da imprensa, o veículo teria indícios de operações cruzadas entre partes relacionadas, colocando em xeque a real liquidez da companhia.

A crise se agravou após a Ambipar entrar com um pedido de tutela cautelar na Justiça do Rio de Janeiro, buscando proteção emergencial contra credores e evitando disparar cláusulas de vencimento antecipado que poderiam levar a uma obrigação imediata superior a R$ 10 bilhões. Embora a medida não configure ainda recuperação judicial, especialistas apontam que este pode ser o próximo passo caso não haja acordo.

Além disso, credores como o Banco Sumitomo contestaram a decisão judicial, alegando que a Ambipar utilizou contratos para blindar 353 sociedades e questionando a necessidade da medida, já que o grupo afirma possuir R$ 4,7 bilhões em caixa, dos quais R$ 2 bilhões estariam disponíveis em liquidez imediata. A divergência, porém, está diretamente ligada às suspeitas envolvendo os FIDCs.

Para tentar contornar a situação, a companhia contratou a BR Partners para assessorar uma reestruturação de dívida, depois de negociações frustradas com a Seneca Evercore. Paralelamente, grupos de bondholders já se organizam para iniciar conversas.

O mercado de crédito e as agências de risco também reagem. A Fitch afirmou que um eventual anúncio formal de plano de reestruturação levaria à reclassificação para “RD” (inadimplência restrita) ou “D” (default), enquanto a S&P Global Ratings rebaixou a nota da Ambipar de “BB-” para “D”, refletindo o elevado risco de insolvência.

No pregão desta sexta-feira (03/10), as ações da Ambipar (BOV:AMBP3) abriram a R$ 1,99, mas desabaram rapidamente até o patamar de R$ 1,20, mínima do dia até o momento. O volume financeiro negociado supera R$ 11,6 milhões, em reflexo direto da fuga de investidores diante da crise de confiança. Na comparação, a ação já acumula uma perda superior a 88% apenas no último mês.

A Ambipar atua no setor de serviços ambientais e de resposta a emergências, com operações no Brasil e no exterior, e vinha expandindo sua atuação por meio de aquisições e internacionalização. Seus principais concorrentes estão em áreas de gestão ambiental, logística de resíduos e atendimento a crises ambientais.

Para os investidores, o cenário inspira cautela máxima. A XP Investimentos recomenda “ficar de fora” para quem não tem posição e adverte que os acionistas enfrentam o dilema de realizar perdas agora ou assumir o risco de queda adicional — inclusive até perda total em caso de recuperação judicial.