Ações da Campari despencam após a apreensão de participação de € 1,3 bilhão

As ações da Campari (BIT:CPR) despencaram depois que as autoridades italianas apreenderam uma participação majoritária na empresa, detida por seu acionista controlador, a Lagfin, holding sediada em Luxemburgo e pertencente ao presidente Luca Garavoglia, como parte de uma investigação de fraude fiscal. A apreensão, realizada na sexta-feira, 31 de outubro, envolve ações avaliadas em quase € 1,3 bilhão, representando parte dos 52% de participação majoritária de Garavoglia no grupo de bebidas.

A Guardia di Finanza anunciou que a apreensão foi ordenada pelo juiz de instrução preliminar do tribunal de Monza, sob acusações de declaração fraudulenta por outros meios e responsabilidade administrativa de pessoas jurídicas, de acordo com um comunicado da Procuradoria Pública de Monza. Tanto Garavoglia quanto Alberto Giovanni, representante legal de Lagfin, foram indiciados como suspeitos.

A investigação teve origem numa fiscalização fiscal após a fusão, em 2018, da subsidiária italiana da Campari com a Lagfin. Os investigadores alegam que o grupo deixou de declarar mais de 5,3 mil milhões de euros em ganhos de capital sujeitos ao imposto de saída italiano após a fusão. As autoridades acreditam que a Lagfin transferiu formalmente ativos para uma filial italiana recém-criada, mantendo o controlo financeiro efetivo na sua sede no Luxemburgo.

Segundo a Guardia di Finanza, a apreensão foi executada “inteiramente por meio da constituição de um gravame sobre as ações ordinárias da Campari”, correspondente ao valor do imposto não pago relacionado à transferência da empresa para o exterior.

A notícia provocou uma reação imediata no mercado: as ações da Campari caíram 4% no início do pregão na Bolsa de Valores de Milão, atingindo € 5,67, tornando-se o pior desempenho do índice FTSE MIB, que registrava alta de 0,7% naquele momento.

A empresa emitiu rapidamente dois esclarecimentos. No primeiro comunicado, a Campari confirmou que “a disputa não diz respeito à Davide Campari-Milano NV nem ao grupo Campari”, acrescentando que “não há consequências” para a empresa ou suas operações.

Em um segundo comunicado citando Lagfin, a holding enfatizou que a questão “diz respeito a uma disputa tributária que se arrasta há aproximadamente dois anos e que nunca envolveu o grupo Campari de forma alguma”.

A Lagfin afirmou ainda que “tem certeza de que sempre operou em total conformidade com todas as normas, incluindo as normas fiscais italianas, e se defenderá vigorosamente com rigor e serenidade em todas as instâncias competentes”.

A empresa também tranquilizou os investidores, afirmando que “como a Lagfin detém mais de 80% dos direitos de voto da Campari, a medida não tem absolutamente nenhuma capacidade de afetar a participação majoritária da Lagfin na Campari”.

Analistas, no entanto, alertaram que o desenvolvimento poderia afetar o sentimento do mercado. O JP Morgan afirmou que “embora o grupo Campari não esteja envolvido, a notícia pode pressionar as ações, com a incerteza persistindo até que a disputa tributária seja resolvida”.

Estrategistas de mercado estimam que as ações apreendidas representam cerca de 16% da capitalização total de mercado da Campari — um nível que eles descrevem como “significativo” caso as autoridades decidam vendê-las para recuperar impostos não pagos.

Analistas da WebSim Intermonte observaram que a disputa tributária entre a Lagfin e as autoridades italianas “já era de conhecimento público” e reiteraram que “a medida não afeta a participação majoritária da Lagfin na Campari”.

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