Um investidor precisa estabelecer objetivos honestos. Alguns investem para
> acumular ou expandir riqueza, alguns para se divertir, outros para esnobar o
> cunhado no domingo. Pode parecer absurdo, mas é verdade. Grande parte dos
> investidores age por impulsos de origem psicológica ou cultural de forma
> irracional em relação aos seus investimentos. E irracionalidade só leva a
> catástrofes ou, no máximo, a resultados medíocres.
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> A grande maioria dos investidores no Brasil ainda sofre de uma doença muito
> séria chamada imediatismo. E fazem u...
Um investidor precisa estabelecer objetivos honestos. Alguns investem para
> acumular ou expandir riqueza, alguns para se divertir, outros para esnobar o
> cunhado no domingo. Pode parecer absurdo, mas é verdade. Grande parte dos
> investidores age por impulsos de origem psicológica ou cultural de forma
> irracional em relação aos seus investimentos. E irracionalidade só leva a
> catástrofes ou, no máximo, a resultados medíocres.
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>
> A grande maioria dos investidores no Brasil ainda sofre de uma doença muito
> séria chamada imediatismo. E fazem um péssimo trabalho. Sim, é isso mesmo.
> Ainda precisamos aprender muito, mas muito, sobre investimentos. Nós
> brasileiros somos investidores ruins: não maximizamos retornos de longo
> prazo e não entendemos nada sobre riscos. Mas muitos falam sobre estes
> assuntos com fluência ímpar, apesar da profundidade de uma poça d'água.
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>
> Radical? É a intenção, afinal o assunto é sério. A doença do imediatismo
> traz conseqüências horríveis, culminando até em potencial ruína financeira.
> Um dos sintomas evidentes é a proliferação de algo completamente absurdo: os
> fóruns e grupos de discussão sobre investimentos na internet.
>
>
> O que significa alguém entrar pela manhã na internet e decidir se envolver
> em arriscados day-trades baseado na sugestão de desconhecidos, muitas vezes
> envolvendo ações sem liquidez de empresas em situação crítica? Ninguém
> razoável pode considerar este exercício insano uma boa forma de
> investimento.
>
>
> Por que alguém que soubesse alguma coisa de valor sobre empresa listada na
> Bovespa, algo que fosse fazer esta ação subir, perderia seu tempo se
> esforçando na internet para convencer disso outros? Acordem, é malandragem!
> Ficar adivinhando qual ação irá disparar hoje ou amanhã não é fazer
> investimento. É o equivalente financeiro de um caça-níquel.
>
>
> Apesar de extremo ao ponto de ser caricato, este comportamento suicida
> mostra claramente um traço do comportamento que é extremamente prejudicial
> aos que se dizem investidores. Quase todos ficam atrás de alguma "grande
> tacada", de alguma forma de ganhar muito dinheiro muito rápido.
>
>
> Mostra também outro traço que os fazem agentes contrários ao seu próprio
> enriquecimento. Ficar todo dia correndo atrás de um grande investimento não
> é a melhor forma de acumular patrimônio. Desta forma, os gastos com
> corretagem e outros custos subjacentes às movimentações irão aumentar muito,
> além de cair nas armadilhas e largar bons ativos somente porque estão
> "demorando para andar". A postura de longo prazo se inicia na definição de
> objetivos e metas e transborda para o comportamento do investidor.
>
>
> O outro importante aspecto que desqualifica grande parte dos investidores
> brasileiros é uma incrível falta de entendimento de risco e, mais importante
> do que isso, suas consequências. Confundem volatilidade de curto prazo com
> risco. Confundem movimentos naturais e esperados do mercado com risco. E
> esquecem completamente os fatores de risco reais, aqueles que efetivamente
> podem comprometer a criação de riqueza, como alavancagem e concentração de
> portfólios. Só para deixarmos claro: volatilidade não é risco. É somente uma
> forma de tentar estimá-lo. Muito ruim por sinal.
>
>
> Um fundo alavancado pode "quebrar" em poucos dias, apesar de ser possível
> que este mesmo fundo estivesse antes deste evento apresentando volatilidades
> diárias de cotas muito inferiores a um fundo de ações tradicional sem
> alavancagem. Qual é mais arriscado? Se você respondeu que um fundo de ações
> é a aplicação mais arriscada, você não tem idéia do que é risco.
>
>
> Já uma carteira muito concentrada pode parecer uma boa idéia quando o
> mercado está em alta e quase tudo sobe. Mas vai trazer prejuízos talvez
> irrecuperáveis quando algo der errado - note o "quando" e não um "se" antes
> do "algo der errado". A certeza de que em algum ponto algo dará errado,
> algum erro será cometido, é uma das maiores qualidades dos investidores
> vencedores no longo prazo. E quanta falta faz essa certeza para alguns dos
> aventureiros de hoje.
>
>
> Finalizando, a conclusão é: não busque enriquecer em um mês! Investimentos
> devem ser feitos para o longo prazo (vários anos, não várias horas) e é
> fundamental entender sobre os riscos envolvidos. Investimento de curto prazo
> e jogar no cassino são atividades com a mesma probabilidade de sucesso. Isto
> vale também para quem gosta de aplicar e resgatar de fundos contando o prazo
> em breves semanas ou não respeitando o prazo de maturação dos investimentos.
> Ignorar riscos, os verdadeiros, vai em algum ponto prejudicar de forma
> permanente o resultado final de seus investimentos.
>
>
> Fabio Carvalho é sócio da Orbe Investimentos escreveu para Coluna do Gestor
> do Valor Economico
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