Hora de voltar à defesa?
Autor(es): Adriana Cotias
Valor Econômico - 23/10/2009
Com o Ibovespa em pleno rali de alta, com fôlego mesmo após a taxação do capital estrangeiro, as ações de empresas tradicionais pagadoras de dividendos ficaram para escanteio na Bovespa. Mas depois de o índice acumular ganhos de 76,1% no ano, os analistas ponderam se não é hora de o investidor reequilibrar o portfólio com papéis considerados um pouco mais defensivos. Não que o ciclo de valorização de ativos ligados a crescimento tenha se esgotado, mas há incertezas no meio do caminho que suge...
Hora de voltar à defesa?
Autor(es): Adriana Cotias
Valor Econômico - 23/10/2009
Com o Ibovespa em pleno rali de alta, com fôlego mesmo após a taxação do capital estrangeiro, as ações de empresas tradicionais pagadoras de dividendos ficaram para escanteio na Bovespa. Mas depois de o índice acumular ganhos de 76,1% no ano, os analistas ponderam se não é hora de o investidor reequilibrar o portfólio com papéis considerados um pouco mais defensivos. Não que o ciclo de valorização de ativos ligados a crescimento tenha se esgotado, mas há incertezas no meio do caminho que sugerem um pé atrás. Eventuais medidas adicionais de restrição ao capital externo, a reversão do processo de redução dos juros e a safra de resultados corporativos referentes ao terceiro trimestre são eventos que precisam ser observados atentamente nesta reta de fim de ano.
É essa a tônica da seleção da Carteira Valor de Dividendos para o intervalo entre outubro e dezembro. As corretoras participantes mesclaram papéis típicos de dividendos com ativos que ainda prometem ganhos de capital na bolsa. No "top 5" ficaram os nomes tradicionais de dividendos, do setor elétrico e de telecomunicações: as preferenciais (PN sem voto) da AES Tietê, Eletropaulo PNB, Coelce PNA, Transmissão Paulista PN e Telesp PN.
Levantamento da Economática em cima da amostra com todas as indicações evidencia tanto ações que neste ano já garantiram retorno com dividendos e juros sobre capital próprio de mais de 25% até o dia 16 - caso de Eletropaulo PNB e Equatorial ON -, quanto ativos com o chamado "dividend yield" mais enxuto. É o caso das units (recibos de ações) da SulAmérica ou das ordinárias (ON, com direito a voto) da Redecard, que mostraram visível boa vontade com os acionistas ao terem anunciado neste ano, respectivamente, distribuição equivalente a 168% e 150% de tudo que informaram no exercício anterior. Nesse quesito, a Equatorial também lidera (184%), mas Copasa ON (151%), Confab PN (148%) e Telemar PN (128%) não ficam muito atrás.
Quando há um processo contínuo de ingresso de estrangeiros, as carteiras de dividendos parecem perder sentido, mas esses portfólios devem ser olhados sob a ótica do longo prazo, diz o chefe de pesquisa e análise da Ágora Corretora, Marco Melo. "Levando-se em conta uma Selic média de 9,3% no ano que vem, há ótimos retornos em dividendos", afirma. Na sua seleção ele considerou companhias que distribuem aos acionistas pelos menos 50% dos resultados. A média de "yield" projetada para 2010 é de 9,5%. O melhor retorno esperado da lista é de Eletropaulo PNB, com 15,8%.
Mesmo que o juro básico suba em 2010 para a casa dos 10,5% ao ano, Melo não considera que os dividendos perderão apelo. Já a taxação do capital estrangeiro com 2% de IOF pouco altera o risco cambial para esse investidor, mantendo a atratividade dos ativos brasileiros. Embora a rápida valorização do Ibovespa nos últimos meses tenha surpreendido, ele avalia que há espaço para as ações ligadas a commodities, cerca de 30% abaixo do que valiam antes da crise.
Setores muito prejudicados ao longo do último semestre de 2008 e do primeiro de 2009 agora mostram potencial de recuperação da atividade e já faz alguns meses que vêm roubando recursos dos segmentos menos cíclicos, pontua a chefe de análise da Ativa Corretora, Luciana Leocádio. Dados de recuperação das economias chinesa e americana têm patrocinando esse movimento, mas ela adverte que há um certo grau de risco no curto e médio prazos. "Não é para navegar contra a maré do fluxo, mas também não custa nada ficar com um pé atrás, balanceando o portfólio com um pouco de dividendos." A sua carteira é predominantemente formada por elétricas e a única ação que foge disso é a operadora logística Tegma PN, que, favorecida pelo IPI reduzido no setor automobilístico, tende a engordar seu faturamento no ano. Para ela, a retirada gradual do incentivo deve ser compensada pelo aumento das vendas de veículos que decorrem do maior ritmo da atividade.
Combinar expansão econômico com dividendos também foi a estratégia do analista Jayme Alves, da Spinelli Corretora. Ele elegeu nomes tradicionais do setor elétrico e de telecom, mas também garimpou no financeiro, com Redecard ON e Banrisul PNB, "que podem ter desempenho melhor se a economia confirmar um crescimento sustentável". Embora o movimento de desvalorização do dólar no mercado mundial venha favorecendo as commodities, ele considera que o momento é propício para os setores de dividendos. "Os juros estão num nível historicamente baixo e esse é o tipo de papel que é uma excelente porta de entrada para o risco bolsa", diz. A lógica é que, assim como na crise as ações de dividendos caem menos e têm melhor capacidade de amortecer o tombo, num período de recuperação acabam ficando para trás. A vantagem é que é justamente nesses intervalos que os ativos ficam mais baratos.
Entre os conhecidos casos de dividendos do mercado brasileiro, o chefe de análise da Planner Corretora, Ricardo Martins, procurou pinçar as ações mais atrasadas e também aquelas que poderiam assinalar valorização na bolsa por conta de algum evento societário. Ele incluiu, por exemplo, Equatorial, que está às voltas com a Cemig para adquirir fatia da empresa na Light. Na seleção ainda há Eternit ON ("yield" projetado para 2010 de 15,5%), Coelce PNA (14,8%) e Copasa ON (7,3%), além de Telesp ON (9,9%). Embora tenha levado em conta que pode haver um ajuste no pagamento de dividendos da operadora de telefonia fixa após a Telefônica ter feito oferta de R$ 6,5 bilhões pela GVT, ele pondera que a tendência da empresa, se concretizado o negócio, é fazer uma captação no exterior. "Com alavancagem, a companhia pode garantir remuneração melhor para o majoritário - e, por tabela, para o minoritário."
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