O impeachment da presidente Dilma Rousseff, com todas as suas contradições, deixa claro que a crise institucional supera, de longe, a crise econômica. A queda da atividade econômica, o aumento do desemprego, a conta das irresponsabilidades com o dinheiro público e a soberba dos políticos nos últimos meses tornaram-se alguns ingredientes do quadro que o presidente interino irá enfrentar. A forma como foi conduzido o processo abre precedentes para que outros do tipo se repitam, o que põe em xeque a soberania da democracia brasileira. Como iremos resolver aos imbróglios deixados após a saída de Dilma?
Com a palavra fica Michel Temer, que já montou seus ministérios, bem antes da votação. Ao contrário de Itamar Franco, a certeza das cartas marcadas deixou claro sua visão de que tudo era questão de tempo. A falta de governabilidade que atingiu o governo Dilma tornou-se um problema muito maior e mais grave que sua irresponsabilidade fiscal. Mas qual o preço do processo? O mundo olha para o Brasil e ri. Ao ouvir os discursos dos parlamentares, entende-se o motivo.
O maior erro de Dilma consistiu na condução das expectativas dos agentes econômicos. A base para a condução de um governo consiste em apenas uma palavra: credibilidade. No jogo pelo poder, ganhar as eleições, mesmo sabendo das distorções provocadas pelo seu próprio governo, tornou-se prioridade. Para isso, era preciso pedalar, colocar a sujeira para baixo do tapete, fazer promessas impossíveis de serem cumpridas para a população e deixar as mudanças para o próximo governo, no caso, dela mesma.
Ela fez o movimento para colocar a casa em ordem. Aí, o descrédito veio. As promessas de campanha eram apenas promessas nem um pouco críveis e a herança maldita não podia ter outro culpado senão ela mesma. Ao invés de aprofundar os programas de estímulos para a retomada do crescimento, como prometeu, virou-se para o necessário corte de gastos, reformas nada fáceis de se conseguir. Ao se contradizer, Dilma perdeu apoio até de membros do PT. Tentou emplacar as reformas necessárias, capitaneadas pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Nada foi aprovado no Congresso. Sem sucesso, Levy sai e outro erro é cometido. Escolhe-se um desenvolvimentista, o que aumentou ainda mais o descrédito da presidente aos olhos do mercado financeiro. Sem grau de investimento nem sinalizações de que algo seria feito para conter o crescimento da dívida pública, instituições como o FMI, passaram a projetar a economia brasileira no fundo do poço.
Ao manter de lado teorias como a das expectativas racionais, o governo entrou em descrédito. A credibilidade se foi. O Brasil se torna piada no mercado internacional. Arma-se o tal “golpe”. A Lava-Jato não consegue chegar em Dilma. Mas, ao se olhar para as contas do governo dela – e apenas para estas –, aponta-se o “crime”: irresponsabilidade fiscal. Tudo pronto: deixa-se Cunha para conduzir a abertura do impeachment na câmara. Cumprido seu papel, Cunha é destituído… Entra um tal Maranhão… tenta um contragolpe… não dá certo. Volta-se ao senado. Dilma é afastada do poder e … ufa… volta a governabilidade.
Quem se beneficiou com a recessão de 2015 e a atual provocada pela falta de governabilidade? Os novos políticos? A população? O mercado financeiro? Seu vizinho? A economia? Tanto Temer quanto Dilma, na briga pelo poder, esqueceram para quem governam. Mas, antes o primeiro do que a segunda, pensam empresários que promovem acampamentos na porta de suas casas.
Os políticos empurraram a economia para o buraco junto com Dilma para agora tentarem salvá-la. E o primeiro discurso de Temer começa a dar certo. Qual o motivo? A simples mudança de expectativa. Nas primeiras palavras do presidente interino, alento para os anseios da sociedade: reforma fiscal e previdenciária que agradam o mercado financeiro; manutenção dos benefícios sociais como Bolsa Família e programas de educação, além da redução do nível de desemprego, que agradam a população; retomada da economia e da credibilidade externa, agradando os empresários. Se o discurso sair do papel, já poderemos vivenciar uma melhora nos próximos meses.
O simples ato desta semana, apesar de tanta coisa torta no meio do caminho, é um fator que leva à retomada. Por qual motivo? Expectativas racionais. Dilma sai, bolsa sobe, dólar cai… tapamos o sol com a peneira e esquecemos do stress. Temer usufrui da credibilidade que a obscuridade lhe propicia e o país acredita que o novo ministério será o ideal para tirar a economia da crise. Esquece-se de que é preciso medidas antipopulares para retomar a credibilidade do governo. Quais medidas serão realmente efetivadas? Pouco se sabe. Quando retornaremos ao grau de investimento? Se acontecer, levará o resto das vistas de quem viu o que aconteceu por aqui.
Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação
Prezada Ana,
Você se esquece de comentar um aspecto muito importante, pois alem do golpe legislativo para carregar nas costas o Presidente interino momeou um ministério que na melhor das avaliações, exceto o Meireles, é simplesmente ridículo.
Falar em mudar o país e nomear quatro filhos de senadores para garantir a aprovação no Senado é uma das maiores barbaridades cometidas no país , nem a Dilma no auge do desespero para não perder o mandato cometeu tal barbaridade.
Basta ver o ” curriculum ” do filhinho de papai colocado simplesmente para comandar um dos ministérios mais importantes do país.
Fernando Coelho Filho nasceu em 28/02/1984, em Recife (PE). Graduou-se em Administração de Empresa pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Assumiu aos 22 anos sua primeira legislatura como deputado federal em 2007, sendo em seguida reeleito por mais dois mandatos. Fernando é filiado ao PSB, partido que liderou de 1º de fevereiro de 2015 até ser nomeado ministro de Minas e Energia e o mais importante, fato omitido na reportagem, filho do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), tem 32 anos e nenhuma experiência administrativa a não ser gastar a mesada do pai.Não vou perder tempo em citar os outros 3 filhos presenteados pelo papai.
Para ter alguma possibilidade Temer teria que nomear um ministério de personalidades ilustres nas diversas áreas e mesmo assim teria de carregar o golpe nas costas.
Em pouco tempo o “mercado” começará a ficar desapontado pois você acha possível tomar mediadas impopulares como criar novos impostos e mexer na previdência social com eleições para prefeito das capitais dentro de alguns meses, quem vai para o sacrifício nas eleições de prefeito o psdb , o pmdb pois esses 2 teriam que pagar o “pato”.
Tempus dominus rationis est – O tempo é o senhor da razão.