A Petrobras confirmou que seu presidente do conselho de administração, Pietro Adamo Sampaio Mendes, foi indicado pelo Ministério de Minas e Energia para consideração da Casa Civil como proposta de nome para ocupar uma diretoria na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“Caso a Presidência da República aprove a indicação do nome, este ainda dependerá de sabatina pelo Senado Federal e posterior nomeação pelo presidente da República”, afirmou a estatal em nota, acrescentando que Pietro Mendes segue na sua função de presidente do conselho durante esse processo.
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A indicação de Mendes é a primeira de uma série de mudanças esperadas na estatal e na ANP. A percepção de que o governo Lula pode ampliar a influência do PT na petrolífera gerou repercussão no mercado financeiro ontem. Os papéis da companhia fecharam em queda de 0,96%, cotados a R$ 42,37 para PETR3, e 0,63%, a R$ 39,25 para PETR4.
O substituto seria indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), escolhendo um nome do Ministério da Casa Civil, subordinado ao ministro Rui Costa.
De acordo com o Estadão/Boradcast, o mais cotado atualmente é o economista Bruno Moretti, e nomes como Vitor Saback e Renato Galuppo também estariam na mesa. Já segundo a coluna de Malu Gaspar, no O Globo, a vaga seria do advogado Benjamin Alves Rabello.
Segundo o Estadão, a troca foi pensada de forma a não alterar a correlação de forças no colegiado de 11 administradores, dos quais seis são diretamente indicados pelo governo. Segundo uma pessoa com conhecimento do assunto, o governo vai aguardar a indicação de Mendes avançar, com aprovação no Senado, para comunicar à estatal sobre a mudança.
O caminho natural, disse ao jornal uma das pessoas que acompanham as negociações, é que Pietro renuncie à presidência do conselho antes da reunião marcada para 20 de dezembro ou durante este encontro e, então, o governo comunique o novo indicado.
Ainda de acordo com o jornal, Moretti larga na frente, mas qualquer outro dos conselheiros do governo poderia assumir a função em uma companhia “pacificada” após a troca de comando, quando Jean Paul Prates deixou a presidência executiva da empresa para a chegada de Magda Chambriard.
Prates e Pietro protagonizaram meses a fio de conflitos por indicações e diretrizes estratégicas, que vieram a público por meio de críticas cruzadas entre Prates e Silveira. O grupo de Prates, inclusive, chamava Pietro e os demais indicados de Silveira na companhia de “silveirinhas”.
Alinhamento Silveira-Costa
Uma pessoa a par das tratativas afirmou ao Estadão que a mudança vem em linha com a relação dos ministros Silveira e Costa e os planos comuns para a companhia.
Segundo o jornal, essa pessoa disse que, dentro do conselho de administração, a única indicação que destoaria em alguns pontos dessa visão alinhada seria a de Rafael Dubeaux, conselheiro ligado ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A troca de Pietro por Moretti significaria “mudar para manter como está”. O jornal diz ainda que só a indicação de Dubeaux poderia significar alguma perda de poder de Silveira na companhia hoje, mas seria improvável. Os demais nomes possíveis – Vitor Saback e Renato Galuppo (Magda Chambriard não poderia acumular a função) estariam alinhados ao projeto do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil para a Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4).
Vaga livre
A saída de Pietro abre, de toda forma, uma vaga no conselho da Petrobras. Nos bastidores, já circula o nome do advogado Benjamin Alves Rabello, próximo de Silveira, e que já foi indicado à função, mas não obteve os votos suficientes. Sua entrada no colegiado agora seria a manutenção do número de indicados de Silveira. Segundo pessoas a par das discussões, no entanto, isso ainda não está garantido.
Todas as indicações e aprovações, inclusive de Magda, deverão ser ratificadas em assembleia de acionistas marcada para 16 de abril.
‘Consórcio’ governista assume cargo
Em setembro, reportagem do Estadão mostrou que o governo Lula patrocinou trocas na cúpula da Petrobras após Magda Chambriard assumir a presidência da estatal, aumentando a influência dos ministros Silveira e Costa na empresa. As nomeações ocorridas nos 100 primeiros dias de gestão Magda incluem pessoas de confiança dos ministros para tocar projetos estratégicos da companhia nas áreas de exploração, engenharia e transição energética.
‘Condomínio’ de nomeações que se formou na petroleira conta também com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical associada à CUT; nos 100 primeiros dias da gestão atual as trocas passaram de 30 nomes, tendo aliados do governo Lula ampliado a presença na estatal.
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VISÃO DO MERCADO
A XP investimentos avalia a notícia como neutra, uma vez que não espera nenhuma mudança significativa na direção estratégica da Petrobras.
Caso o Mendes seja confirmado como diretor da ANP, ele deverá deixar o cargo no conselho da estatal. Relatos da mídia sugeriram que Bruno Moretti, o Secretário de Assuntos Governamentais da Casa Civil, é um candidato em potencial para substituir o Mendes como Presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Moretti é membro do Conselho de Administração da petrolífera desde o governo do Presidente Lula e participou de discussões importantes, incluindo a última aprovação de distribuições extraordinárias de dividendos, a atual política de preços e a formulação do plano de investimentos da empresa.
A Genial Investimentos, por sua vez, vê a movimentação como negativa, reiterando os riscos de governança incorporados em sua tese de investimentos.
Já existe uma ação popular no TRF-3 contra Pietro Mendes, atual presidente do conselho, devido à sua dupla função na Petrobras e cargo dentro do ministério de Minas e Energia, a ser votada nestaa quinta-feira (5). Entretanto, a possível indicação de Bruno Moretti promove mais inseguranças sobre a gestão, dada a direta relação do conselheiro com a Casa Civil e especialmente o presidente Lula e seu partido.
A Genial Investimentos mantém recomendação neutra e preço-alvo de R$ 47.
Para João Daronco, analista da Suno Research, a movimentação de cadeiras não deverá impactar as condições de geração de caixa da estatal e nem a sustentabilidade dos seus dividendos.
Daronco lembra que a Petrobras tem passado por diversas mudanças internas e essas mudanças não alteraram de forma material os principais pilares da tese, que são: “manutenção da política de preços, investimentos diligentes e boa distribuição de dividendos”.