Já que a crise da carne não assustou os mercados domésticos, que
seguem a estratégia do governo e tentam minimizar a questão, os
negócios locais devem, então, se voltar ao ambiente externo. Em
meio à agenda econômica novamente fraca hoje, que traz como
destaques o balanço da Petrobras e discursos de dirigentes do
Federal Reserve, os investidores ficam mais soltos para manter o
apetite por risco.
Porém, como se já não bastasse a dificuldade do governo em
aprovar as reformas estruturais, diante dos sinais de uma base
aliada não tão coesa, as investigações da Justiça – seja na Carne
Fraca, seja na Lava Jato – mostram ao investidor, estrangeiro
principalmente, todo o risco que envolvem os cenários político e
corporativo no Brasil. Tal percepção suplanta a confiança de que o
país estaria saindo da recessão.
Ontem, vários países anunciaram restrições à importação da carne
brasileira após a operação da Polícia Federal e apenas a Coreia do
Sul voltou atrás, retomando a compra do produto. O governo insiste
que os frigoríficos e servidores envolvidos no esquema representam
um núcleo “diminuto”, que não pode prejudicar o setor alimentício e
o agronegócio como um todo, camuflando os números para sustentar
tal discurso.
Qualquer semelhança dessa estratégia em relação ao tom usado
pelo governo para envolver a opinião pública na relevância da
aprovação das reformas estruturais, não é mera coincidência. Apesar
das mais de 160 emendas apresentadas à proposta sobre mudanças nas
regras para a aposentadoria e diante da crescente contestação sobre
as leis trabalhistas, o governo mantém o discurso de confiança da
vitória.
Mais que isso, o Congresso tenta convencer a população de que o
excesso de leis no Brasil tem gerado desempregados. Segundo o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assim como existe um mito em
relação à perda de direitos no âmbito da reforma da Previdência, há
o mito de que a regulação trabalhista gera emprego.
Assim, a Casa deve aprovar o antigo projeto que regulamenta a
terceirização da mão de obra de qualquer atividade de uma empresa,
a fim de agilizar a tramitação. O texto, de 1998, foi aprovado pelo
Senado em 2002 e corre em paralelo com a proposta de 2015, que
ainda precisa ser apreciada pelos senadores.
Se a matéria resgatada por Maia for aprovada sem alterações, o
texto seguirá para sanção do presidente Michel Temer. O projeto que
legaliza a contratação de prestadoras de serviços para executarem
também as atividades-fim de uma empresas – e não apenas serviços de
apoio, como é hoje – pode não só comprometer os direitos
trabalhistas, mas também permitir que empresas fechem as portas,
deixando para trás um enorme passivo.
Na mesma linha, a equipe econômica usa uma estratégia parecida,
ciente dos desafios à frente. Na divulgação do relatório de
avaliação fiscal, amanhã, Ao invés de tratar diretamente da questão
e assumir que o aumento de impostos está no radar, o governo irá
apresentar o que é possível fazer em termos de corte de gastos.
Porém, há um limite – constitucional até – sobre o
contingenciamento das despesas. E, caso o número traçado não seja o
suficiente para cumprir a meta fiscal de 2017, por causa da
arrecadação federal fraca, será, então, necessário elevar os
tributos.
Por enquanto, essa tentativa semelhante ao “vai que cola” não
incômoda os mercados. Mas a percepção é de que o Brasil está
incrustado em uma rede de corrupção, com envolvimento em escândalos
que parecem correr na veia dos poderes público e privado, de modo
até natural. E por mais que tentem ser minimizados, os efeitos
começam a fazer preço no custo produtivo do país.
Até porque ainda são desconhecidos o conteúdo e os impactos da
“Lista de Janot” e das delações da Odebrecht na classe política.
Aliás, uma semana depois de terem sido protocolados, o relator da
Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson
Fachin, deve receber hoje os 83 pedidos para investigar políticos
com foro privilegiado. Caberá a Fachin decidir sobre a abertura de
inquérito.
Ainda assim, o ambiente externo favorável à tomada de risco dos
países emergentes deve manter encoberta todas essas delicadas
questões no Brasil. Os ativos de mercados emergentes são o grande
destaque no exterior, com o Fed retomando o debate sobre um novo
aumento na taxa de juros norte-americana.
O índice MSCI de mercados emergentes subiu pelo oitavo dia
seguido hoje, diante dos ganhos nas bolsas e no petróleo, em meio
às perdas do dólar. O sinal positivo prevalece em Wall Street e na
Europa nesta manhã, sendo que o euro salta ao maior nível em um mês
diante do esfriamento tensão política após o debate presidencial na
França.
O movimento foi amparado por declarações ontem de que “não há
pressa” em subir o custo do empréstimo nos Estados Unidos
novamente, embora ainda possam haver duas, três ou quatro altas
este ano. Hoje, mais três integrantes do Comitê do Fed
discursam.
Por aqui, saem os resultados corporativos de Bradespar
(BOV:BRAP4), antes da abertura, e da Petrobras (BOV:PETR4), após o
fechamento. A estatal petrolífera passa por uma reviravolta
operacional, que tem alterado sua cultura gerencial, e deve
continuar engordando o caixa.
PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
PETROBRAS PN (BOV:PETR4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024