A Minerva Foods registrou lucro líquido de R$ 114 milhões no
primeiro trimestre de 2023. O valor representa estabilidade
(-0,52%) ante o lucro de R$ 114,6 milhões reportado em igual
período de 2022.
O Ebitda – lucro antes de juros,
impostos, depreciação e amortização – ficou em R$ 531,9 milhões,
queda de 17,7% sobre os R$ 646 milhões verificados no mesmo
intervalo do ano anterior. A margem Ebitda foi de 8,3%, ante 8,9%
no primeiro trimestre de 2022.
A receita líquida obtida entre janeiro e março somou R$ 6,381
bilhões, 11,7% a menos sobre os R$ 7,229 bilhões obtidos nos três
meses do ano anterior, segundo a empresa. As exportações continuam
correspondendo a mais da metade da receita obtida pela Minerva,
cerca de 63% do acumulado, ou R$ 4,260 bilhões, enquanto o mercado
interno foi responsável por quase 40% do total, ou R$ 2,549
bilhões.
A empresa diz, em comunicado, que o resultado destaca a
assertividade da estratégia de diversificação geográfica.
“Fundamental durante o período das suspensões temporárias da carne
bovina brasileira para a China, nos proporcionando um footprint,
flexibilidade operacional e comercial. Atendemos à demanda dos
chineses, por meio de nossas operações na Argentina e no Uruguai”,
comenta.
O índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda)
ficou em 2,6 vezes, superior a um ano antes, quando o índice era de
2,5 vezes. Segundo a companhia, a mudança ocorreu após o desembolso
de R$ 245,2 milhões para a aquisição da Australian Lamb Company
(ALC).
A Minerva também informa que o volume de vendas subiu 0,6% no
primeiro trimestre deste ano, passando de 275,7 mil toneladas para
277,4 mil toneladas. A jornalistas, o CFO da Minerva, Edison Ticle,
disse que o resultado foi beneficiado, em parte, pelas vendas da
ALC que “vieram full no período” acrescentando cerca de R$ 500
milhões nas vendas da empresa. “Ajudou a compensar outras
operações”, acrescenta. Em contrapartida, no primeiro trimestre de
2023, os abates diminuíram 4,3%, para 836,3 mil cabeças.
De acordo com o CEO da empresa, Fernando Galletti, a Minerva
mostrou desempenho positivo em um trimestre desafiador e, como
estratégia, segue integrando as operações. “Estamos alavancando o
bovino dentro dos canais de ovinos e de ovinos dentro dos canais de
bovinos. Tudo isso para que os nossos clientes tenham mais
disponibilidade e para que estejamos mais próximos do consumidor
final”, diz.
A companhia afirma, ainda, que efetuou o pagamento de dividendos
complementares no montante de R$ 208,6 milhões, ou cerca de R$
0,36/ação. No exercício fiscal de 2022, a distribuição de proventos
da Minerva totalizou R$ 336,7 milhões ou R$ 0,58/ação.
Os resultados da Minerva Foods (BOV:BEEF3)
referentes suas operações do primeiro trimestre de 2023 foram
divulgados no dia 09/05/2023.
Teleconferência
De acordo com os executivos da Minerva, na teleconferência de
resultados realizada realizada hoje, a grande mudança no fluxo de
caixa aconteceu por conta da disponibilização de crédito aos seus
fornecedores. Com os bancos mais receosos, a empresa teve de se
movimentar.
“O crédito secou no Brasil e tivemos de usar nosso balanço. No
capital de giro, independente de termos operações diferentes da
Americanas, os bancos ficaram muito mais conservadores. Linhas de
convênio e de risco sacado ficaram menos disponíveis. Uma parte do
limite de crédito nosso é alocado para que nossos fornecedores
antecipem recebíveis, com o banco assumindo nosso risco. Os bancos
reduziram as linhas disponíveis para todos os setores e tivemos de
financiar nossos fornecedores”, explicou Edison Ticle, diretor
financeiro (CFO) do frigorífico.
De acordo com ele, porém, é esperado que o capital de giro
melhore até o final do ano, requerendo mais, no máximo R$ 200
milhões.
“Esperamos uma melhora de R$ 600 milhões. Terceiro e quarto
trimestre devem ser os melhores de 2023. Em relação às linhas de
crédito para financiar cadeias, elas secaram no primeiro trimestre,
voltaram um pouco no segundo, mas ainda longe do que eram. Melhora
virá de outras frentes”, falou.
A Minerva não pretende, por conta do resultado, mudar sua
política operacional. A companhia continua de olho em possíveis
expansões inorgânicas, tendo comprado o BPU, frigorífico do
Uruguai, em janeiro.
“Estamos sempre de olho em M&As [fusões e aquisições, na
sigla em inglês], mas por enquanto não há nada no pipeline”, disse
o diretor executivo (CEO) Fernando Galletti de Queiroz. “Não é por
um trimestre que tivemos um fluxo de caixa um pouco pior que
mudaremos as políticas da companhia”, completou o CFO.
- Gasto de caixa trouxe benefícios operacionais para a
Minerva
Ainda de acordo com os executivos, contudo, o fato de a
companhia ter financiado seus fornecedores abriu alguns benefícios
operacionais. Fornecedores venderam gado mais barato para Minerva
de olho no financiamento que a empresa forneceu.
“A gente conseguiu ter uma margem bruta melhor por conta da
nossa habilidade na compra. Usamos o credit crunch para ajudar a
melhorar nossa margem. Com a volta de China, a tendência é de
avançar ainda mais”, falou Ticle.
- Companhia está otimista para restante do
ano
A Minerva também vê o cenário melhorando para a sua operação até
no restante de 2023.
“Com a recente retomada de exportações do Brasil para a China, a
gente continua bastante confiante nas perspectivas e oportunidades
desse mercado a partir do segundo e terceiro trimestres” falou
Ticle.
Para além da China, os executivos enxergam que, cada vez mais, o
frigorífico está menos dependente deste único país, com regiões
como o Sudeste Asiático, por exemplo, ganhando espaço.
“Houve uma pressão sobre a matéria prima, olhando o que acontece
nos Estados Unidos. Uma soma de fatores que tende, no mercado
internacional, a nos deixar mais otimistas. A América do Sul deve
tomar mais mercado”, mencionou o CFO. “Países do Sudeste asiático
começaram a ter mais importância para nós. China é um importante
destino, mas estamos vendo uma arbitragem de preços em outros
locais”.
Para o mercado brasileiro, porém, a percepção não é a mesma.
“Mercado brasileiro, por enquanto, não tem perspectiva de melhora.
Inflação corroeu poder de compra e desemprego está aumentando.
Apesar do ciclo positivo, com preço da arroba estável ou caindo até
um pouco, a carne não vai ter muita força para subir no Brasil,
seja por demanda ou por oferta”, explicou o CFO.
De qualquer forma, a Minerva vê os volumes crescendo dois
dígitos em 2023, com impactos na receita, Ebitda e fluxo de
caixa.
VISÃO DO MERCADO
Bradesco BBI
“Na comparação com o consenso da Bloomberg, a receita líquida
foi em linha mas o Ebitda veio 3% acima do esperado, com gastos com
vendas, gerais e administrativos [SG&A, na sigla em inglês] 2%
abaixo do esperado, o que deve explicar a movimentação positiva das
ações no pregão”, falou o Bradesco BBI.
Apesar da alta das ações e da visão positiva, o Bradesco BBI
apontou que gostaria de ter mais clareza sobre o consumo de caixa
de R$ 853 milhões (versus R$ 173 milhões no ano passado).
“Dadas as condições de crédito restritivas, entendemos que os
fornecedores (por exemplo, pecuaristas) podem enfrentar desafios
para antecipar recebíveis com bancos, o que pode ter levado o
Minerva a utilizar dinheiro para antecipar eles mesmos esses
pagamentos”, avalia.
Essas condições resultaram em prazos de pagamento mais curtos,
uma situação que não está clara quanto tempo vai durar, o que
explica o consumo de caixa substancial.
Assim, embora a ação esteja sendo negociada abaixo da sua média
histórica, o BBI segue com recomendação neutra, também cauteloso
sobre o mercado chinês.
Itaú BBA
“O fluxo de caixa ficou negativo em R$ 853 milhões, resultado de
fracos números operacionais e capital de giro pior. A alavancagem
[medida pela relação entre dívida líquida e lucro operacional]
subiu para 2,6 vezes, de 2,2 vezes no quarto trimestre”, fala o
time de analistas do Itaú BBA, chefiado por Gustavo Troyano. “Ainda
não está claro para nós se o consumo de capital de giro será ou não
revertido nos próximos trimestres”.
“Como esperado, os resultados foram amplamente afetados pela
proibição de exportações para a China, levando o Ebitda [lucro
antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em
inglês] a cair 18% no ano, para R$ 532 milhões, mas 3% acima da
nossa projeção”, fala o time do BBA. “A Minerva apresentou
resultados fracos para a divisão brasileira, amplamente esperados,
com queda de 19% dos preços e de 27% da receita bruta no ano, para
R$ 6,8 bilhões”.
Santander
O Santander destaca que a Minerva conseguiu, parcialmente,
compensar o prejuízo do Brasil com melhores preços na Argentina e
na Colômbia, bem como pelo resultado provindo da ALC – companhia
que trabalha com cordeiros na Austrália adquirida em outubro do ano
passado.
“Em nossa visão, o ritmo de ganhos deve começar a melhorar no
segundo trimestre, impulsionado pela recuperação das exportações de
carne bovina da América do Sul para a China (especialmente do
Brasil, onde a disponibilidade de gado é ampla)”, falam os
analistas do Santander, liderados por Rodrigo Almeida.
XP Investimentos
A equipe da XP Investimentos destacou que, apesar do impacto
negativo da China, a Minerva apresentou uma margem sólida de 8,3%,
“estabelecendo uma referência elevada aos seus pares”. O país
asiático fechou seu mercado para a carne brasileira por mais de um
mês em fevereiro por conta de um caso atípico de Vaca Louca.
De toda forma, porém, os resultados do período entre janeiro e
março foram vistos como pouco inspiradores pelos especialistas.
* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney,
Estadão
MINERVA ON (BOV:BEEF3)
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