Arezzo no pé da China
O câmbio não ajuda e o frete está caro. Mesmo assim, a marca brasileira abre lojas no mercado que mais cresce no mundo
A AREZZO, UMA DAS PRINCIPAIS fabricantes brasileiras de calçados femininos, resolveu ficar no pé da China. No mês passado, inaugurou duas lojas em Xangai. Agora em julho, serão duas novas unidades. São os primeiros passos do que poderá se tornar, em cinco anos, uma rede de 200 lojas, praticamente o tamanho atual da Arezzo no Brasil. "Estamos exportando um conceito de negócio, uma marca, e não produtos", diz Alexandre Birman, vicepr...
Arezzo no pé da China
O câmbio não ajuda e o frete está caro. Mesmo assim, a marca brasileira abre lojas no mercado que mais cresce no mundo
A AREZZO, UMA DAS PRINCIPAIS fabricantes brasileiras de calçados femininos, resolveu ficar no pé da China. No mês passado, inaugurou duas lojas em Xangai. Agora em julho, serão duas novas unidades. São os primeiros passos do que poderá se tornar, em cinco anos, uma rede de 200 lojas, praticamente o tamanho atual da Arezzo no Brasil. "Estamos exportando um conceito de negócio, uma marca, e não produtos", diz Alexandre Birman, vicepresidente da Arezzo e filho do fundador, Anderson. As lojas da Arezzo, dona das marcas Arezzo e Schutz, estão em pontos nobres de Xangai e visam a emergente classe média alta. "Uma delas é uma loja-conceito, de apresentação da marca, e tem 120 metros quadrados e dois andares", diz Mario Goldberg, diretor de expansão e franquias da rede. Não há preocupação, portanto, em relação ao preço final dos produtos: os calçados da Arezzo, que serão fabricados no Brasil e enviados para Xangai, vão custar US$ 200, o dobro do praticado no Brasil. "Os clientes querem uma marca internacional associada a um estilo de vida", afirma Goldberg. "E é isso o que estamos oferecendo." O preço salgado também é a forma de viabilizar a equação financeira da operação da Arezzo na China. Afinal, há pelo menos dois fatores que poderiam inibir esse tipo de investida. Um deles é a valorização do real, que prejudica as exportações. Outro é o aumento constante nos fretes, em virtude do preço internacional do petróleo. Por isso, a Arezzo já estuda a eventual produção na China em alguns anos. Além disso, a exportação de uma marca é a estratégia correta para ingressar no mercado chinês, observa o consultor da Trevisan Consultoria, Pedro Raffy Vartanian. "O câmbio e o custo da logística não favorecem a venda de produtos para a China", diz ele. "Portanto, se for para brigar contra o produto chinês, é preciso levar algo com expressivo valor agregado."
Fundada no final da década de 70, a Arezzo, já presente em Portugal, enfrenta na China seu maior desafio internacional. Mas não há outro caminho. Vartanian estima que, em 2015, a China será o segundo maior mercado consumidor do planeta, atrás apenas dos EUA. Por isso, Goldberg conduziu pessoalmente a negociação com os parceiros locais, o grupo Prime Success, um dos maiores do ramo calçadista na China, com ações negociadas na Bolsa de Hong Kong. Não foi fácil. Durante as negociações, Goldberg engoliu sapo e cobra - ambos literalmente. "Foram muitos os jantares exóticos", conta ele. "Na China, você é quem você conhece e, por isso, é preciso conviver com as pessoas em situações sociais." Em um desses jantares, o cardápio era realmente sinistro para os padrões brasileiros. Oferecia apenas três opções: "coisas que andam", "coisas que voam" e "coisas que nadam". "Não podia desagradar aos anfitriões e, na dúvida, escolhi coisas que andam", conta Goldberg, que, até agora, não sabe (e não quer saber) ao certo o que comeu. Além disso, para lidar com o idioma, exigiu em contrato a participação de uma intérprete nas negociações. A diferença de horário, o inverso do Brasil, também foi outra fonte de transtornos. "Quando parava de trabalhar lá na China às 20 horas, por exemplo, eu precisava iniciar por e-mail o expediente no Brasil", conta Goldberg, que esteve cinco vezes em Xangai no último ano. Mas a maratona, de trabalho e degustação, deu certo.
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