Olha, eu que já tive Eternit (ainda que não continuamente) desde os tempos áureos antes da RJ, perdi completamente a paciência com a empresa.Lá atrás, ainda antes de entrar em colapso, a empresa tomou uma decisão de manter o foco em telhas a base de amianto. Se por um lado rendeu bons lucros e gordos dividendos por anos, para o longo prazo se mostrou um erro, que acabou sendo fatal quando o STF decidiu pela proibição de comercialização de telhas de amianto no país. Por conta disso mais multas e processos movidos pelo ex-trabalhadores da empresa, a receita despencou, as dívidas for...
Olha, eu que já tive Eternit (ainda que não continuamente) desde os tempos áureos antes da RJ, perdi completamente a paciência com a empresa.Lá atrás, ainda antes de entrar em colapso, a empresa tomou uma decisão de manter o foco em telhas a base de amianto. Se por um lado rendeu bons lucros e gordos dividendos por anos, para o longo prazo se mostrou um erro, que acabou sendo fatal quando o STF decidiu pela proibição de comercialização de telhas de amianto no país. Por conta disso mais multas e processos movidos pelo ex-trabalhadores da empresa, a receita despencou, as dívidas foram subindo e veio a RJ. Um detalhe: naquele contexto a empresa tentou um processo de diversificação, construindo uma fábrica e lançando produtos do segmento de louça sanitária (vasos, pias e cubas). Essa unidade nunca conseguiu decolar.Pois a empresa entrou em RJ e depois de um corte negociado das dívidas, mais capitalização, conseguiu se reerguer. À rigor, ainda se mantém em RJ apenas por conta de um impasse com TJT por conta do modelo de pagamento de eventuais dívidas trabalhistas futuros. O montante em si dessas dívidas, hoje é desprezível. O problema é que se mantida a decisão do TJT, abre-se uma brecha complicada para eventuais contingências trabalhistas (na RJ foi definido um modelo de pagamento dessas dívidas via emissão de ações da cia, de modo a não onerar o caixa).Fato é que já com dívidas equacionadas a empresa conseguiu chegar a um belo caixa e praticamente sem dívidas, para o que contribuiu o período de ouro para construção civil entre segundo semestre/20 e final de 2021. Ai que a coisa se complica. Gozando de uma situação folgada de caixa a empresa optou por adquirir a Confibra, por R$ 110MM, com a justificativa que essa aquisição permitiria atingir novos mercados e ganhos de custos com sinergias. Parecia fazer todo sentido. O que sempre me incomodou, e eu cheguei a participar de calls de resultados e questionar a empresa a respeito, foi a prática da empresa de não divulgar guidance (até entendo) somada a não visibilidade sobre ganhos, números, vendas, margens da empresa adquirida. Como investidor, me sinto navegando num mar sem bússola, tendo que confiar plenamente no comandante, sem saber exatamente para onde ir, quando chegar, quanto tempo levar.Outra coisa que é um ponto de preocupação na Eternit é o fato de que boa parte da receita (~30%) e principalmente do lucro bruto (~40-50%) vir do segmento mineral crisotila, já que por conta de uma lei/liminar do Estado de Goias, a Eternit ainda segue explorando o amianto e exportando, já que no Brasil seu uso foi banido. Se os resultados já vem se deteriorando com a manutenção dessa unidade, imagina se ela tiver que ser definitivamente descontinuada, o que imagino que possa acontecer em algum momento. A empresa até lançou um novo produto, telhas solares, mas é algo ainda muito seminal e tampouco temos uma projeção mínima (ainda que calcada em cenários A, B e C) de quanto possa contribuir nas receitas futuras, ainda que num horizonte mais largo. É evidente que todo segmento relacionado a materiais de construção vem sofrendo ao longo de 2022 e início de 2023. Primeiro foram os impactos de custos, que de início até puderam ser repassados aos preços. Mas com a reabertura e volta do perfil de consumo mais normal, os volumes começaram a recuar ao mesmo tempo que os custos ainda não cediam, por conta do choque do petróleo em 2022 e também de outras matérias primas.E cá estamos em 2023. Achei o resultado do último trimestre péssimo. Outras que já divulgaram como a Dexco (ex-Duratex) e Eucatex, do mesmo segmento, materiais para construção, não apresentaram resultados tão ruins. Dexco, inclusive, foi muito bem, engrenando altas após a divulgação (alta de quase 10% desde 2/ago).O que me causa mais preocupação é pensar que adquiriram uma empresa do mesmo segmento por R$ 110MM e mesmo assim o faturamento do Q2'23 foi 11% menor que o do mesmo período do ano anterior, quando as vendas da Confibra não estavam computadas. Então me pergunto: quanto a Confibra trouxe de receita? Quanto teria sido essa receita sem ela? Uma eventual resposta, e imagino que a empresa não me daria se eu perguntasse ao RI, me causaria mais apreensão ainda. Foi uma boa aquisição? Foi cara? Foi barata? Foi estratégica?Eu li em algum lugar que o Barsi está perdendo a paciência com a Eternit. Pois eu já perdi e cai fora.
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