DA REVISTA ISTO É DINHEIRO:http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/125306_ELES+ENCANTAM+OS+ACIONISTAS
Eles encantam os acionistas
Conheça as estratégias de sucesso das empresas que mais brilharam na Bolsa no primeiro semestre, em seus setores
Por Patrícia ALVES
O primeiro semestre de 2013 ficará registrado na memória da bolsa como uma coletânea de histórias de horror. Com algumas exceções, porém. Em meio às turbulências que sacudiram os pregões, um pequeno grupo de CEOs conseguiu fazer seus investidores sorrirem. Ações de gigantes como Cielo e Embraer e de companhias menor...
DA REVISTA ISTO É DINHEIRO:http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/125306_ELES+ENCANTAM+OS+ACIONISTAS
Eles encantam os acionistas
Conheça as estratégias de sucesso das empresas que mais brilharam na Bolsa no primeiro semestre, em seus setores
Por Patrícia ALVES
O primeiro semestre de 2013 ficará registrado na memória da bolsa como uma coletânea de histórias de horror. Com algumas exceções, porém. Em meio às turbulências que sacudiram os pregões, um pequeno grupo de CEOs conseguiu fazer seus investidores sorrirem. Ações de gigantes como Cielo e Embraer e de companhias menores como Kepler Weber, Trisul e Grendene não só superaram por larga vantagem os parâmetros do mercado acionário brasileiro, como o Índice Bovespa, mas também brilharam entre as concorrentes que são companheiras do pregão. O que seus executivos fizeram para garantir esses resultados? Conheça as lições do sucesso dessas empresas.
Cielo: comunicação
Há mais de dois anos, a processadora de pagamentos eletrônicos Cielo vem sendo uma das estrelas do pregão. Com valorização de 273% desde o IPO e de 20,6% no primeiro semestre, a mágica da Cielo apoia-se em duas premissas. Além dos bons resultados – a companhia é pouco endividada e uma forte geradora de caixa –, um dos pilares de sua estratégia é a boa comunicação com o mercado. “Fazemos 18 conferências no ano e reuniões individuais com acionistas, o que nos aproxima dos investidores”, afirma Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo. “Essa atitude transparente, que não gera expectativas que não somos capazes de cumprir, e a entrega de bons resultados é o que faz a diferença e nos ajuda a resistir à crise.”
O mercado, segundo o CEO, vê as ações da empresa como não cíclicas, ou seja, que não sofrem com as crises e com alta liquidez. “Não sofremos com a volatilidade e, por isso, temos margens melhores”, diz. A baixa necessidade de investimento no próprio negócio também a transformou numa grande pagadora de dividendos, sendo o mais recente equivalente a 70% do lucro. Os analistas são enfáticos em recomendar a ação. Segundo Felipe Miranda, analista da empresa de avaliação independente Empiricus Research, a Cielo é um excelente papel. “É uma compra para quem está disposto a pagar um pouco mais por uma ação de qualidade”, afirma o analista. “Apesar das recentes valorizações, é um papel que ainda pode subir mais, dada a consistência dos seus resultados.”
Kepler Weber: diferenciação
Depois de chegar ao fundo do poço em 2007, vergada por uma crise financeira que gerou dívidas no valor de R$ 500 milhões e quase a fez fechar as portas, a gaúcha Kepler Weber, que produz equipamentos para armazenagem de grãos, deu a volta por cima. A empresa, com fábricas em Panambi e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e em Mato Grosso do Sul, vem apresentando resultados positivos desde uma virada em 2010. Nesse curto período, ela recuperou os clientes perdidos e reconquistou 50% de seu mercado. A companhia foi a que apresentou os melhores resultados em relação a seus concorrentes. Suas ações subiram 55%, ao passo que a média do setor amargou uma baixa de 21,9%. Anastácio Fernandes Filho, que chegou ao comando da companhia há sete anos para recuperar o negócio, acredita que o segredo para o brilho na bolsa foi o esforço para se diferenciar da concorrência.
A Kepler Weber também foi beneficiada pela pujança do agronegócio, que assumiu um ritmo acelerado de crescimento desde o início de sua recuperação: em 2010, ano em que a safra brasileira de grãos atingiu 149 milhões de toneladas, as previsões dos especialistas e do próprio gover-no revelavam que o País alcançaria os 180 milhões de toneladas apenas em 2020. “Essa projeção já foi ultrapassada no primeiro semestre deste ano”, diz Olivier Michel Colas, vice-presidente da Kepler Weber. Miranda, da Empiricus Research, avalia que o primeiro semestre de 2013 foi marcado pela tentativa bem-sucedida de reaproximação da Kepler Weber com o investidor. “Apesar da alta de mais de 50% no semestre, ainda há espaço para valorização dos papéis”, afirma o analista, que recomenda a compra das ações.
Embraer: expansão
A alta do dólar ao longo do segundo trimestre causou fortes dores de cabeça, mas a Embraer, a maior empresa brasileira do setor aeronáutico, atravessou um céu sem nuvens. Com 86% de suas receitas em dólar, a apreciação da taxa de câmbio ajudou na arremetida das cotações no primeiro semestre. A empresa presidida por Frederico Curado atribui a alta de 42,9% no período ao bom aproveitamento de oportunidades que surgiram no radar. “Nos últimos anos, a Embraer trabalhou para aumentar a eficiência e diversificar seu portfólio, ampliando sua presença nas áreas de defesa, segurança e aviação executiva”, disse Curado em uma nota. “Combinadas, essas atividades devem responder por 46% das receitas em 2013.” O segmento militar, que representava 6% do faturamento em 2008, cresceu para 17,1% em 2012 e deverá manter uma taxa de expansão de 30%.
Além disso, a companhia de São José dos Campos subiu um degrau em sua oferta de produtos e lançou jatos maiores, capazes de transportar entre 80 e 144 passageiros. Ela também foi favorecida pela recuperação da economia dos Estados Unidos, principal mercado da aviação comercial mundial. A necessidade de modernizar frotas antigas e o acordo assinado entre as companhias aéreas americanas e os sindicatos para substituição dos jatos regionais propulsaram as vendas. Desde o início do ano, a Embraer fechou a venda de 87 jatos regionais do modelo 175; 40 deles para a SkyWest, em uma transação estimada pelo mercado em US$ 1,7 bilhão, e 47 para a também americana Republic Airways. Nas contas dos analistas, só essas duas transações movimentam US$ 3,7 bilhões. Segundo Eduardo Miziara, analista da gestora de recursos paulista Capitânia, a retoma das encomendas pelos clientes trouxe um alívio aos investidores. “No ano passado, os investidores estavam preocupados com a carteira de pedidos da Embraer, que estava muita baixa”, afirma o analista.
Trisul: tradição
A incorporadora paulista Trisul é uma empresa tradicional, com mais de três décadas de mercado. Em 2007, ela deu dois passos ousados. O primeiro foi abrir seu capital, captando R$ 330 milhões na Bolsa de Valores de São Paulo. O segundo foi mergulhar no segmento de imóveis econômicos. Quatro anos depois, porém, a companhia presidida por Jorge Cury fez meia-volta. Passou a trabalhar exclusivamente com a faixa de imóveis de médio e alto padrão e reduziu sua abrangência geográfica, voltando a concentrar-se apenas no Estado de São Paulo. “Essas mudanças vêm garantindo o bom desempenho dos papéis na bolsa”, diz Cury. “Passamos a lançar empreendimentos mais rentáveis, de olho na geração de caixa e na redução da alavancagem.” Segundo Cury, há pouco mais de dois anos os executivos da Trisul perceberam que a rentabilidade da construção de imóveis econômicos não era capaz de satisfazer os investidores. “Optamos por voltar às origens, para fazer o que sempre fizemos bem-feito”, diz ele.
Deu resultado. Enquanto as ações do setor de construção caíram 16,8%, em média, no semestre, os papéis da Trisul subiram 38,2%. Segundo o executivo, nos primeiros seis meses do ano a empresa aumentou sua comunicação com os investidores, com encontros e reuniões para mostrar o momento da companhia e onde ela quer chegar. Para ampliar a geração de valor ao acionista, a Trisul anunciou, em junho, um programa de recompra de ações. O plano é adquirir, em um ano, três milhões de ações ordinárias, que equivalem a pouco mais de 9% dos papéis em circulação. “Apesar da alta, consideramos que nossas ações ainda estão subavaliadas”, afirma Cury. “Além disso, com o programa, mostramos a recuperação da companhia, com geração de caixa e desalavancagem”, afirma. Miranda, da Empiricus, avalia que as ações da Trisul ainda estão baratas e, mesmo com a alta no semestre, há espaço para crescer. A concentração geográfica é uma vantagem, diz ele, pois a descentralização regional afetou os resultados. “A volta às origens vai marcar o retorno aos tempos de boas rentabilidades.”
Grendene: produtividade
O setor calçadista vem enfrentando a concorrência de produtos da China, aos mesmo tempo em que tem de lidar com a alta dos custos de matéria-prima e de mão de obra. Apesar da concorrência asiática, a gaúcha Grendene vem expandindo receita, lucros e patrimônio. Com alta de 26% no primeiro semestre, seus papéis ficaram muito acima da média do setor, que registrou perdas de 6,7%. A saída foi apostar no mercado interno e nos ganhos de produtividade. “Investimos na modernização das fábricas e na melhoria dos processos”, diz Francisco Schmitt, CFO da empresa. Em abril, o comando da empresa foi profissionalizado. Os fundadores Alexandre e Pedro Grendene deixaram a presidência e a vice-presidência executivas, que ocupavam respectivamente, e passaram para o Conselho de Administração.
A presidência foi para as mãos do até então diretor-operacional Rudimar Dall’Onder, engenheiro há 30 anos na companhia, e a vice-presidência passou para Gelson Luis Rostirolla, que dirigia as áreas de controladoria, financeira e administrativa, outro com três décadas de casa. “Essa experiência e o conhecimento dos executivos deram confiança aos investidores, que consideraram importante o comando ter sido passado para pessoas que participaram efetivamente da estratégia da companhia”, diz Schmitt. De acordo com Sandra Peres, analista da Coinvalores, por ser um papel defensivo, a empresa tende a sofrer menos em épocas de incertezas. “A Grendene não tem dívidas, tem caixa e não precisa de investimentos”, afirma Sandra. “Além disso, é uma excelente pagadora de dividendos, o que atrai os investidores mais conservadores e acostumados a receber uma renda.”
Colaborou: Fernando Teixeira
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