Diesel para abastecer caminhões e carros, graxas que lubrificam mesmo em altas temperaturas, cremes anti-rugas que nunca deixam a pele melada e até vitaminas. A tecnologia desenvolvida pela Amyris pode extrair todos esses produtos da mesma garapa, o caldo de cana-de-açúcar que mata a sede. A empresa é americana, mas pode mudar a lógica de produção nas usinas brasileiras – e chamou a atenção da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES).
A Amyris é uma empresa de biotecnologia molecular. Seus funcionários são cientistas com mestrado e doutorado. ...
Diesel para abastecer caminhões e carros, graxas que lubrificam mesmo em altas temperaturas, cremes anti-rugas que nunca deixam a pele melada e até vitaminas. A tecnologia desenvolvida pela Amyris pode extrair todos esses produtos da mesma garapa, o caldo de cana-de-açúcar que mata a sede. A empresa é americana, mas pode mudar a lógica de produção nas usinas brasileiras – e chamou a atenção da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES).
A Amyris é uma empresa de biotecnologia molecular. Seus funcionários são cientistas com mestrado e doutorado. Seus investidores são grandes fundos e empresas interessadas em colocar altas quantias de recursos em inovação e novas tecnologias.
Na lista estão o Texa Pacific Group (TPG), que tem mais de US$ 50 bilhões aplicados em novos negócios, o KPCB, que bancou a criação de empreendimentos de ponta como o Google, e a Khosla Ventures, do indiano Vinod Khosla, um admirador das energias limpas. Duas empresas brasileiras estão na Amyris: a Votorantim Novos Negócios, braço do grupo Votorantim voltado a empreendimentos de ponta, e o grupo Cornélio Brennand, tradicional investidor do setor elétrico.
Em seus centros de pesquisas nos Estados Unidos e no Brasil, a Amyris desenvolve processos biológicos que buscam extrair da cana milhares de novas moléculas. Com apenas uma delas, a empresa já tem tecnologia para produzir diesel puro, renovável e sem enxofre e, ao mesmo tempo, matérias-primas naturais para segmentos tão distintos quanto o de polímeros e o farmacêutico. O nome científico dessa molécula é farneseno. A Amyris tem a patente dela e chegou a registrá-la com uma marca. Comercialmente seu nome é Biofeno.
Atualmente, a partir da garapa se produz o açúcar e o álcool. Apesar de ambos serem produtos com mercados grandes e garantidos, seus preços sofrem oscilações violentas que levam os usineiros do lucro ao prejuízo em poucos meses. O valor do açúcar, por exemplo, segue a cotação dos contratos da bolsa de Nova York dedicada a produtos agrícolas, a NYBOT. O preço do etanol, por sua vez, muda de acordo com a produtividade da safra, a oferta de álcool e a cotação internacional do barril do petróleo.
O Biofeno, no entanto, pode ser vendido diretamente ao cliente final, em contratos negociados entre as partes. Em alguns mercados, um litro de Biofeno pode custar quase R$ 50 – enquanto o litro do etanol no posto e o quilo do açúcar no supermercado não chegam a R$ 2.
Entre os bancos que avaliam investir no projeto está BNDES. O banco não apenas avalia como elevar seus ganhos, mas também de que forma projetos ligados a biotecnologia, como o da Amyris, podem criar alternativas de negócios para a cana brasileira, dos mais tradicionais produtos agrícolas do país.
Também entraram em contato com a Amyris empresas petroquímicas e petroleiras, entre elas a Petrobras, interessadas em entender como a produção a partir de moléculas pode criar uma nova geração de produtos biológicos capazes de substituir similares a base de petróleo.
Investimento em novos equipamentos
Usinas interessadas em aderir a biotecnologia terão que se adaptar. Enquanto o açúcar é um produto granulado, o etanol, um líquido, o Biofeno é um óleo. Para produzi-lo na mesma usina, junto com o açúcar e o etanol, é preciso abrir uma terceira linha de produção. Segundo John Melo, presidente da Amyris, o investimento em novos equipamentos soma cerca de US$ 50 milhões.
Pelos anúncios feitos nos últimos dias, seis usinas de quatro empresas tendem a investir nesse novo negócio. Assinaram acordo de intenção a Cosan, controlada pelo empresário Rubens Ometto Silveira Mello, a Guarani, subsidiária do grupo francês Tereos, e a trading Bunge.
Também participa do projeto o grupo São Martinho, que negociou com a Amyris a venda de 40% de uma de suas usinas, a Boa Vista, exclusivamente para o projeto. “Reunimos um grupo de empresas que têm visão de futuro e capacidade técnica para investir em um novo conceito de negócio”, diz Roel Collier, presidente da Amyris no Brasil. Nesse cenário, serão necessários cerca de US$ 300 milhões de investimentos em novas linhas de produção.
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