O novo ministro da Fazenda da Argentina, Alfonso Prat-Gay, disse nesta quinta-feira (14) que acompanha com “preocupação” o que acontece com o Brasil – principal sócio do pais no Mercosul (bloco regional integrado também por Paraguai, Uruguai e Venezuela). Como economista, no entanto, considera que as atuais dificuldades podem ser superadas em 2017, porque fazem parte “dos ciclos econômicos” que se caracterizam por anos de muito crescimento e por anos de crescimento menor.
Prat-Gay, que se reuniu ontem (14), em Buenos Aires, com o ministro da Fazenda brasileiro, Nelson Barbosa, afirmou que “a projeção da Argentina para o mundo não pode ser feita separada do Brasil”. Disse, ainda, que o Brasil passa por correções de medidas tomadas nos últimos anos e elogiou a independência dos poderes, do Judiciário. Segundo ele, “isso faz parte de ter regras claras” que, para o investidor, é fundamental.
Crescimento da economia
Pela primeira vez desde a posse do presidente do país, Mauricio Macri, no ultimo dia 10 de dezembro, Prat-Gay fez uma previsão de crescimento da economia argentina. Segundo ele, o índice ficará entre meio e um por cento em 2016, depois de quatro anos de estancamento, para depois chegar a 4,5% de aumento do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com o ministro, o principal objetivo de Macri é estabelecer regras claras e transparentes em seu goveno. Parte do trabalho será rever as estatísticas nacionais, uma vez que o Indec (órgão estatal que mede inflação e pobreza) foi questionado depois de sofrer uma intervenção pelo governo anterior. Pelos cálculos de consultoras privadas, a inflação argentina em 2015 foi de 30% e três em cada dez argentinos não tem o suficiente para pagar a cesta básica.
Segundo Prat-Gay, falta muito por fazer, a começar pela redução da pobreza (que afeta 30% dos argentinos) e da inflação (que este ano deve ficar entre 20 e 25%).
Fundos abutres
A Argentina ainda arrasta um problema da crise de 2001 – a maior da recente historia, que resultou no calote da divida externa. Os ex-presidentes Nestor e Cristina Kirchner (que governaram o pais de 2003 até a posse de Macri em 2015) propuserem dois pacotes de renegociação, que foram aceitos por 93% dos credores.
Uma minoria (1%) – os chamados “fundos abutres” – aproveitou o calote para comprar títulos baratos e entrar na justiça norte-americana para receber o total, sem desconto. Um juiz de Nova York (EUA) deu sentença favorável aos abutres, que foi validada pela Suprema Corte dos Estados Unidos. A Argentina desacatou a ordem alegando que duas leis nacionais proíbem oferecer condições melhores àqueles que não aderiram aos planos de renegociação.
O novo governo retomou as negociações (pré-requisito para voltar a ter acesso aos mercados internacionais) mas, segundo Prat-Gay, qualquer acordo será submetido ao Congresso, onde a oposição é maioria. “Nao podemos prometer (aos credores) algo que depende da aprovação do Congresso”, disse, acrescentando esperar dos “abutres” uma proposta de solução razoável.
Prat-Gay, no entanto, esclareceu que os 93% dos credores que aceitaram os dois pacotes de renegociação da divida (em 2005 e 2010) ja recuperaram a totalidade do capital que investiram.