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Bananas, estúpido!

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Em qualquer outro país, a principal lembrança relacionada a Bill Clinton refere-se a carícias recebidas sob a mesa do Salão Oval da Casa Branca. Aqui, porém, uma frase lapidar usada em sua campanha à presidência norte-americana em 1992 rivaliza com a estagiária Mônica ou pelo menos serve para descrever a razão de tudo o que se passa hoje no país: “É a economia, estúpido”. Houvesse crescimento, as manifestações de 2013 não teriam passado de uma meia dúzia se queixando aqui e ali sobre a tarifa do transporte público e deputados, que geralmente não trabalham às segundas, quintas e sextas, jamais iriam à Câmara no domingo. O governo cria este ambiente desde 2008.
Os estímulos fiscais, que evitaram a derrocada da economia brasileira pós-crise americana de 2008, foram ótimos naquele momento. E, como deu certo, o governo esqueceu que precisaria pagá-los adiante e, pior, aumentou seus gastos e subsídios.
Em economia, reina o trade off: tudo tem um lado bom e um ruim. Déficits têm um efeito importante na economia. No curto prazo, déficits maiores aumentam a renda disponível dos consumidores (renda menos impostos) e, portanto, levam a um incremento da demanda e do produto. Mas o governo, apesar de ter um papel importante como estimulador do crescimento econômico, não pode viver de déficits crescentes. No longo prazo, o aumento da dívida pública diminui a acumulação de capital e o produto. Os elevados déficits do governo, mantidos por muitos anos, levam ao risco de crises fiscais, com altas taxas de juros que provocam déficits ainda maiores e novos incrementos das taxas de juros. A crise Grega deixa isso claro, e agora se vive o mesmo no Brasil.
O dinheiro escasseou, esqueceu-se da Lei de Responsabilidade Fiscal e começou-se a pedalar. De acordo com os dados do Banco Central, a conta do Tesouro a ser paga aos bancos no final da gestão FHC somava R$ 948 milhões. Já em 2015, o governo devia R$ 60 bilhões. A dívida pública apresentou crescimento contínuo e chegou a hora de arcar com as consequências. A expectativa do Tesouro Nacional é de que a dívida pública continuará avançando em 2016 e deverá superar os R$ 3 trilhões no fim deste ano. Isso em um cenário de recessão.
Se o governo tivesse parado antes, reorganizado suas contas e deixado a economia seguir seu rumo, conseguiria hoje governar. Não o fez. Independente da decisão que se tomará domingo, estará consumada uma ou outra ameaça a quem depende de trabalho aqui, a quem investe, produz no país e principalmente a quem vive no Brasil. Se foi barrado o impeachment – o que nos deixaria surpresos –, permanecerá o clima de terror, a polarização nas ruas, a obstrução pelo Congresso de qualquer tentativa oficial de consertar erros, as manifestações e seu uso por parlamentares e novas tentativas de cassação da presidente baseadas ou não em provas – incompetência não vale.
Se aprovado, afora os transtornos no trânsito ou o domingo fechado em casa, talvez haja novamente a crença de que este seja o país do futuro, ao menos de um futuro breve, que proporcionará riqueza suficiente para sobreviver pelos parcos meses antes do que nos espera. Entre os que irão às ruas comemorar o fim da corrupção trajando camisas da imaculada CBF, haverá vários que creem em Fraga na Fazenda, na alta das ações de seu fundo e num do dólar que possibilitará aquela viagem ao exterior. Retomaremos a esperança no futuro.
Provável até. Provável que aí a Justiça pare de vazar grampos, que haja um chefe do Executivo capaz ao menos de nomear ministros e, suspirando aliviados, congressistas parem de obstruir esforços para reverter a caminhada rumo ao abismo e, ao invés de projetos como estatutos da família ou censura à internet, votem reformas e ajuste fiscal. O trânsito de Temer, o fim da longa abstinência de seu partido por cargos e a imparcialidade demonstrada pela Justiça nos últimos tempos prometem trazer alguma tranquilidade à República. Haverá, enfim, uma coalizão. Ao menos por alguns meses, o que é muito tempo para uma nação jovem, o país do futuro, como diziam antigamente, quando eram necessários tanques para se fazer o que está em curso. Agora, tudo é legal e capitaneado pelo principal acusado de corrupção.
E, diante deste quadro, viramos piada internacional. “Nesta história da política brasileira, falta, na verdade, uma única coisa: a moral”, publicou o jornal alemão Die Zeit. The New York Times diz que “Rousseff é uma raridade entre as principais figuras políticas do Brasil que não encara acusações de enriquecimento ilícito” e que “estão tentando impeachment por manipulação orçamentária envolvendo o uso de recursos de bancos estatais para cobrir lacunas de orçamento”.
Mas tudo poderá ir tão bem que nem precisemos mais de dinheiro do exterior. Aí, análises de fundos internacionais, que exigem democracia nos solos onde colocam seus recursos, do Financial Times, que considera que o impeachment jogará o país em um terreno desconhecido, ou mesmo a do Estado Islâmico que, ao prometer atentados nas Olimpíadas, diz que irá atacar “esse país de merda” não façam a menor diferença. Afinal, eles não entendem nada de Brasil.

Ana Borges e Maurício Palhares são diretores da Compliance Comunicação

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