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Isentões, UNI-VOS!

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Cheguei tarde em casa. O trabalho foi puxado. Notícias pipocam no meu celular sobre uma queda de avião, no qual aparentemente um ministro do STF estava presente. Antes de confirmar a autenticidade da lista dos presentes na aeronave, já surgiam teorias para explicar a tragédia: “claro, o presidente em exercício estava sendo investigado!”, “o partido que ficou 13 anos no poder tem a ver, são todos ladrões, não lembram do caso Celso Daniel?”. Pouco depois, a morte é confirmada. Mais “textões” apresentam fortes indícios de emboscada. Leio de relance que chovia bastante na hora da queda, e o aeroporto de Paraty sequer tem torre do controle. Fico na dúvida. Aliás, o meu forte é ficar na dúvida, ou como gostam de falar, em “cima do muro”.

Não que eu goste deste selo ou fardo. Pelo contrário. Gostaria simplesmente de tomar uma posição e pronto: permita o aborto, descriminalize as drogas, permita o porte de armas, reduza a maioridade penal. Seria melhor. Não ficaria mais pensando no assunto, perco muito tempo com isso. Enfim, seria um alívio.

Mas não, prefiro permanecer na dúvida, pois simplesmente não tenho dados suficientes para tomar uma decisão e segurar a opinião mesmo contra bons argumentos apresentados do outro lado. Fico em dúvida se meu argumento é convincente. E sigo minha sina, ser chamado de isentão. Antes era conhecido por ser moderado; agora parece que esse termo vem ganhando adeptos brasil à fora.

Meu conforto é pensar que, nas sombras da sociedade, eles estão lá. Na discussão de família, na macarronada de domingo, ele sempre está lá: normalmente quieto, pensando em quantos absurdos sem comprovação estão sendo ditos por segundo. “Ahh o PT…”, “ah o governo ilegítimo…”. Trump isso, Obama aquilo. O isentão até gostaria de trazer dados e discutir moderadamente, mas sabe que a discussão política atual é tão carregada de ideologia que não abre mais espaço para “dúvidas”, apenas para “certezas”.

Não dá nem mais vontade de falar. Vão nos achar uns bobocas manipulados pelo grande establishment. Dizem que a grande mídia faz o que quer e manipula a informação como bem entende. O estranho é que procurei na mídia alternativa informações sobre diversos temas polêmicos, e encontrei mais opiniões do que fatos. Não consegui encontrar quase nada verificável, com a mínima comprovação na realidade. Ouvi até que o Nazismo era na verdade um movimento de esquerda (afinal, Hitler era de uma partido socialista) [1] ou que na verdade a Previdência Social recebe mais do que gasta (é superavitária) [2]. Fiquei em dúvida, para variar. Fico com raiva disso.

E toda essa discussão envolta em uma capa esquerda x direita, petralhas x coxinhas, ou como preferir. Tenho sido chamado de esquerdista nas minhas últimas intervenções. Mas não sou, juro que não. Acho uma besteira esse negócio de um planejador central e estado forte. E me surpreende também não ter sido chamado de direitista (ou nas discussões mais acaloradas, de fascista). Acho que os direitistas têm um pouco de vergonha de se autodeclarar conservadores. Só impressão. Mas o ponto é que ambos opinam sobre tudo, mesmo sem entender quase nada. Sobre economia, política ou qualquer outro assunto. Citam estudos que geralmente não acho. Mas dizem com todas as letras que é a minha versão da história que está deturpada.

Será que a verdade sempre esteve à minha frente e deixei escapar? Pode ser. Fiquei confuso. Lembrei do caso do Ministro do STF e vi na TV que já estava especulando quem seria seu substituto à frente da relatoria do Operação Lava-Jato. “Como as coisas são hoje em dia”, pensei eu, afinal, o cara tinha morrido há duas horas e já se comentava quem o substituiria, fora as certezas vinculadas aos culpados pela morte, “nada acidental”. O que valia era a notícia e o clique; a vida do ministro não vale quase nada.

Perdi a fome. Tentei pensar em outra coisa. Mas o meu celular não parava de vibrar com mensagens lembrando outros casos de “acidentes” com personalidades políticas. Um elo ligava os casos, mostrando se tratar de eventos planejados. Ou poderia ser tudo coincidência. O benefício da dúvida quase não existe mais. As certezas prevalecem. [3]

Queria ter mais conviccção das coisas. Quem sabe um dia vou conseguir atingir esse objetivo. Costumavam me dizer que eu era inteligente, mas nas rodas de conversa, quando começam as discussões, costumam me dizer que eu preciso estudar mais, que estou envolto numa grande mentira. Talvez esteja mesmo, vai saber.

Por isso, antes que seja tarde: Isentões, uni-vos!, ou um dos lados vai tomar o controle.

Notas

[1] Aqui você acha um texto que trata do assunto: http://www.ilisp.org/artigos/hitler-e-o-nazismo-uma-politica-nacional-socialista-e-portanto-de-esquerda/

[2] Sobre a previdência, veja aqui: http://www.intersindicalcentral.com.br/em-tese-de-doutorado-pesquisadora-denuncia-a-farsa-da-crise-da-previdencia-no-brasil-forjada-pelo-governo-com-apoio-da-imprensa/

[3] Sobre o avanço das investigações sobre o caso Teori: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/01/1852549-piloto-que-levava-teori-menciona-chuva-em-audio-e-nao-relata-falhas.shtml

Escrito por Arthur Solow, editor do Terraço Econômico.

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