O “grande acordo nacional” segue seu curso, com o Supremo Tribunal Federal (STF) fazendo parte dele e dando o aval para a nomeação de Moreira Franco, investigado na Operação Lava Jato, como ministro do governo. A decisão fortalece a articulação política de presidente Michel Temer e deve ampliar os dias de glória do mercado brasileiro neste mês – e também em 2017. O movimento deve ser amparado pelo rali no exterior.
Os bancos são o grande destaque de alta nos mercados internacionais, com as apostas de que a administração Trump irá liberar a regulamentação do setor financeiro, deixando Wall Street mais livre. Ontem, a ação do Goldman Sachs atingiu o maior valor da história, a US$ 249,46 na Bolsa de Nova York, em meio ao otimismo de que o presidente Donald Trump estimulará a negociação e reduzirá os impostos corporativos.
Os índices futuros das bolsas norte-americanas seguem no azul nesta manhã, o que favoreceu o pregão na Ásia – exceto Xangai (-0,15%) – e estimula a abertura dos negócios na Europa. Os comentários otimistas da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, de que não é preciso esperar pelo plano fiscal expansionista de Trump para elevar a taxa de juros norte-americana, contribuem no avanço.
Segundo ela, esperar muito tempo para um novo aperto monetário poderia prejudicar os mercados financeiros. A fala dela esquentou as apostavam em relação ao ciclo de alta nos juros dos EUA, indicando 34% de chance de aumento já no encontro de março e quase 50% de possibilidade de pelo menos três altas neste ano, conforme o prognóstico do Fed. Até o fim de 2017, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) reúne-se outras seis vezes.
Novamente hoje é a presidente do Fed que concentra as atenções dos investidores. Desta vez, ela dará depoimento na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a partir das 13h, e a novidade deve ficar com a sessão de perguntas e respostas dos deputados.
Ontem, no Senado, o tom do discurso de Yellen foi duro (“hawkish”), mas não o suficiente para sinalizar um aperto dos juros já no mês que vem. De qualquer forma, ela sinalizou que seria “insensato” esperar muito tempo e observou que um ajuste adicional da taxa nas próximas reuniões pode ser “apropriado”.
Assim, os investidores continuam céticos de que o Fed irá adotar um ritmo agressivo no ciclo de alta dos juros, que começou em dezembro de 2015 e demorou um ano para ter continuidade no movimento. Com isso, o dólar e o rendimento (yield) dos títulos dos EUA (Treasuries) estão na linha d’água nesta manhã, o que favorece o apetite por ativos de risco.
As moedas de países emergentes e as commodities metálicas mostram que têm mais espaço para avançar, seguindo o tom positivo das bolsas. O petróleo, por sua vez, oscila em baixa com novos sinais de excesso de oferta, enquanto o cobre é beneficiado pela demanda na China e a paralisação de minas.
Nesse ambiente, a Bovespa deve renovar hoje os maiores níveis em 5 anos, após não conseguir reaver a marca dos 67 mil pontos nas duas últimas sessões, ao passo que o dólar tende a buscar novos fundos abaixo de R$ 3,10, um dia depois de fechar no menor valor desde meados de 2015. Esse movimento local é alimentado pelo exterior positivo e também pela queda da inflação, o que deixa o caminho aberto para juros mais baixos e impulsiona a entrada de recursos estrangeiros no país visando ativos mais ligados à economia real.
O mercado doméstico tem sido pragmático em relação ao noticiário político e não se mostra preocupado com o jogo pesado do governo para abafar a Lava Jato. Ao contrário, enquanto esses desdobramentos não estiverem atrapalhando o andamento das reformas econômicas no Congresso – principalmente a previdenciária e a trabalhista – o otimismo com o país tende a continuar.
Tanto que a medida mais importante de risco no Brasil, o CDS, já se situa em níveis de países vistos no exterior com o selo de bom pagador, o tal grau de investimento. Assim, para boa parte dos investidores a Lava Jato já teria até cumprido o seu papel, minimizando os riscos de uma implosão do governo Temer antes do fim do seu mandato de dois anos.
Na agenda econômica do dia, antes da nova participação de Yellen no Congresso, o calendário dos EUA estará carregado. Às 11h30, saem o índice de preços ao consumidor e as vendas no varejo, ambos referentes a janeiro. Depois, às 12h15, é a vez da produção industrial norte-americana no mês passado.
Na sequência, às 13h, serão conhecidos os estoques das empresas em dezembro e o índice de confiança das construtoras em fevereiro. Às 13h30, saem os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados e, por fim, às 19h, é a vez do fluxo de capital estrangeiro nos EUA em dezembro.
No Brasil, sai o primeiro Índice Geral de Preços (IGP) da Fundação Getulio Vargas (FGV) no mês, o IGP-10, às 8h. Depois, o IBGE anuncia (9h) a pesquisa mensal do setor de serviços em dezembro que, juntamente com os dados da indústria e do varejo já anunciados pelo instituto, irão ajudar na formação das expectativas para o indicador do Banco Central sobre a atividade econômica no acumulado do quarto trimestre de 2016.
O IBC-Br será conhecido apenas amanhã. Hoje, às 12h30, o BC anuncia os dados semanais do fluxo cambial. Também merece atenção a pesquisa CNT/MDA sobre a avaliação do governo e do desempenho pessoal do presidente Michel Temer. Mas, como se sabe, Brasília não se importa tanto com a opinião pública e segue fortalecida para entregar aquilo que o mercado tanto espera.