A primeira grande disputa política do governo Trump pode ter o seu desfecho nessa sexta-feira, dia 24 de março, um dia após a implementação do Obamacare, uma reforma do sistema de saúde que ficou conhecida pelo nome do ex-presidente.
O desejo dos democratas mais socialistas, como Obama, sempre foi a criação de um sistema universal de saúde, ou seja, colocar como uma obrigação do Estado a oferta de tratamento médico para todos, como ocorre no Brasil.
Sabemos o que acontece nesse caso: a ineficiência estatal gera gastos cada vez maiores, serviços caros e ruins mantidos por impostos cada vez maiores. Esse último aspecto, impostos maiores para sustentar um Estado cada vez maior, é o maior objetivo da esquerda.
Como Obama não tinha condições políticas para impor a saúde universal, foi criado o Obamacare, um mostrengo que envolve a criação de impostos para subsidiar planos de saúde para os mais pobres, além da obrigação das seguradoras de aceitar pacientes doentes, pagando o mesmo que pacientes saudáveis, formando um segundo subsídio, onde os mais saudáveis pagam pelos mais doentes. Essas empresas ofereceriam esse tipo de apólice em mercados organizados em cada estado da federação, ou seja, haveria aí um componente de livre mercado para reduzir o preço dos seguros.
Ao mesmo tempo, todo americano passou a obrigatoriamente ter que contratar um seguro ou pagar multas.
Não tinha como dar certo, e de fato não deu…
A cada ano, mais seguradoras saíram do mercado do Obamacare e os prêmios dos seguros aumentaram exponencialmente, em alguns casos, mais de 300% em 7 anos, além dos segurados contarem com cada vez menos serviços e não conseguirem manter os seus médicos, o que era uma promessa de Obama.
No final das contas, a reforma foi ótima para os pacientes doentes e horrível para os saudáveis e mais jovens, além de impor um imposto a mais para as empresas.
Uma promessa da campanha de Trump foi acabar com o Obamacare e substituí-lo por um novo programa. O grande problema é exatamente fazer essa transição, pois Trump prometeu manter a regra de obrigar as empresas a aceitar, pelo mesmo preço, clientes doentes, além de permitir que filhos sejam dependentes dos pais até os 26 anos de idade.
O plano apresentado de substituição oferece ainda créditos fiscais para aqueles que não tem condições de pagar por um apólice no novo sistema, além de aumentar a cobertura do Medicaid, o sistema de auxílio para quem não tem nenhum plano de saúde.
O problema é que para a ala mais conservadora do Partido Republicano, o plano ficou ainda muito pesado para o Estado, pois mantém alguns subsídios e um período de transição. Essa ala queria votar simplesmente o fim do Obamacare e ponto. Já os republicanos mais centristas acham que o plano ficou muito radical, produzindo o fim da cobertura para muita gente. Esse é o impasse.
Trump hoje avisou que acabaram as negociações e o o tema irá a voto, sendo a última chance para acabar com o Obamacare. Se os republicanos não se entenderem, eles que encarem o eleitorado nas eleições do ano que vem.
É nesse espírito que a votação deve ocorrer.
Por que isso importa para o mercado?
Simples, uma falha em acabar com o Obamacare, além de manter os impostos relacionados às empresas, colocaria em dúvida a capacidade de Trump de impor uma agenda que corte impostos e diminua regulamentações, além dos prometidos investimentos em infraestrutura. Tudo isso animou muito o mercado, que já precificou tais reformas nos preços das ações.
Um passo atrás agora poderia gerar uma reavaliação do mercado nesse sentido e uma queda nas ações americanas, além de baixa nos juros.
O S&P e os Treasuries já reagiram nos últimos dias ao impasse, com as ações caindo e os bonds subindo.
Agora o mercado trabalha em compasso de espera e devemos ter forte movimentação dependendo do resultado.
*Escrito por Leandro Ruschel, sócio-fundador da Liberta Global.