Uma bomba estourou no Brasil na noite desta quarta-feira. As gravíssimas denúncias reveladas pelo jornal O Globo, se confirmadas, inviabilizarão a continuação do governo Temer. O mercado fez vista grossa às várias citações ao atual presidente em depoimentos dados pelos ex-diretores da Odebrecht, pois a lei impede que o presidente da república seja investigado por fatos ocorridos antes de seu mandato.
Desta vez é diferente. As denúncias feitas pelos executivos da JBS, conforme destaca a reportagem, referem-se a atos ilícitos cometidos nos meses anteriores, com provas concretas, tais como gravações de áudio, entregas de malas de dinheiro filmadas, cédulas com números de série informados aos procuradores e malas ou mochilas com chips para rastrear o caminho dos reais.
Temer possui uma base muito forte no Congresso e vai seguir com sua agenda de reformas para tentar criar um clima de normalidade, mas basta uma figura importante se declarar oposição para o castelo ruir. Será muito difícil evitar distensões na base, até porque, movimentos de força expressiva acompanhados pelos parlamentares, como o MBL, por exemplo, já estão pedindo a renúncia do presidente.
Com as reformas praticamente fora de jogo, não há escapatória. Os argumentos para manutenção do clima de tolerância no mercado chegaram ao fim. A bolha Temer está prestes a explodir.
Se comprovada, a delação da JBS abrirá três caminhos possíveis: (i) Congresso aprovar o impeachment de Temer; (ii) presidente pedir renúncia; (iii) cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE. Todas as três opções são desastrosas à imagem do Brasil no quadro externo, já que antes mesmo de todos esses escândalos estourarem já fazíamos parte do famoso grupo dos cinco frágeis.
Como se não bastasse, todas as três opções estão longe de apresentar expectativa de superação do atual caos político. Conforme determina a Constituição Federal, será necessário realizar uma eleição indireta para escolha do novo presidente. O problema é que parte relevante dos membros do Congresso está envolvida na Lava Jato. Não parece haver clima para eleição indireta.
A PEC do deputado Miro Teixeira tende a ganhar força na sociedade e, consequentemente, no Congresso. Se for aprovada, abrirá caminho para a realização de uma eleição direta. Desta forma, o povo será convocado a escolher o novo presidente. Este cenário favorece a oposição, já que Lula está disparado em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Aécio Neves é praticamente considerado carta fora do baralho. A reportagem do jornal O Globo revelou que o senador foi gravado pedindo 2 milhões de reais a Joesley (um dos proprietários da JBS) para pagar despesas com a sua defesa na Operação Lava Jato. O outsider Joao Doria tende a ser o candidato do PSDB numa eventual eleição direta. O primeiro problema é que mesmo os outsiders precisam de uma imagem e reconhecimento expressivo nacional para ganhar eleições e Doria ainda é um desconhecido para a maioria dos brasileiros. A campanha é curta. O segundo problema é que o tremendo arranhão causado por Aécio à imagem do PSDB.
Independente dos próximos desdobramentos no campo político, a economia, lamentavelmente, tende a continuar sendo prejudicada. Pior, os fundamentos da ortodoxia estão queimados por terem falhado no governo Temer, fato que abre precedente para retorno das famosas ideias ultrapassadas que sempre rodearam a América Latina.
O impacto sobre os preços dos ativos é inevitável. Os juros futuros locais tendem a subir, juntamente com o câmbio. A bolsa de valores (gráfico no blog) tende a continuar o movimento de correção iniciado no pregão desta quarta-feira. O candle de força relevante deve jogar o índice para teste sobre a LTA dos 62,8k. Em caso de rompimento descendente, as vendas tendem a ganhar força, sinalizando nascimento de uma nova perna de baixa.
O movimento de aversão ao risco é fortemente impulsionado por variável local, mas sua determinante tem aval externo. O Brasil está na rota de um furacão, mas fato é que as vendas estão ganhando volume nas principais praças financeiras mundiais em função da deterioração do governo Donald Trump.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos nomeou o ex-diretor do FBI, Robert Mueller, como conselheiro especial para investigar possíveis conluios entre a equipe de campanha de Donald Trump e a Rússia em 2016, sob suspeita de que favoreceriam o resultado da eleição presidencial.
Além disso, alguns parlamentares norte-americanos estão intensificando investigações sobre a demissão do chefe do FBI, incluindo membros do partido republicano (base de Trump no Congresso).
A mídia norte-americana começa a falar em impeachment de Trump, algo devastador para os ativos sobrevalorizados em Wall Street. O surgimento das primeiras palavras na imprensa jogou o S&P500 (gráfico no blog) para a linha inferior de bollinger, incentivando o fechamento de posições compradas. O mercado norte-americano está com bases fracas de apoio, onde a próxima linha de suporte está localizada na faixa dos 2.320 pontos.
O influente senador republicano, John McCain, disse que o caso de Trump tem o tamanho e a escala de Watergate. Acusado de abuso de poder e obstrução à justiça, Richard Nixon teve de renunciar em 1974 para fugir de um impeachment, em curso, no Congresso.
Se houver surgimento de prova concreta de tentativa de obstrução à justiça, Trump pode sofrer impeachment. Ainda há muita especulação e a possibilidade é pequena. Importante ressaltar que existe uma briga intensa, desde o período de campanha eleitoral, entre Donald Trump e alguns veículos de comunicação norte-americanos.