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Tudo na normalidade

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Pseudodemocracia, escândalos de corrupção que, de tão banais, tornam-se irrelevantes, economia estagnada, dívida público elevado, juros altos, endividamento generalizado… Num cenário assim, seria querer demais que houvesse aqui um mercado de capitais. Sua quase inexistência, entretanto, não se deve apenas a fatores pontuais – se podem ser chamados assim.

Os avanços em termos de auto regulação dos últimos anos se mostraram inócuos frente à postura do empresariado que pensa mais em captar dinheiro fácil do que em cumprir as regras. Dentro deste contexto, de pouco vale a legislação, se a punição é mais barata do que o dinheiro ganho com as falcatruas.

Nesta sexta, a polícia federal realizou operação de busca e apreensão na JBS, empresa listada no Novo Mercado – onde, em tese, é exigido o mais elevado grau de Governança Corporativa –, para investigar as operações de compra e venda de dólares às vésperas da divulgação da delação de seus executivos e verificar se houve ganhos devido à posse de informação privilegiada. No decorrer da história do mercado, entretanto, o que se vê é que em todos os casos em que a CVM apurou irregularidades a multa foi menor do que o ganho obtido. Assim, abre-se espaço para que haja a continuidade de novos escândalos, agravando a falta de credibilidade com o mercado brasileiro.

A ideia de que o mercado de capitais deveria ser um instrumento para financiar os investimentos das empresas, de um lado, e de poupança de longo prazo, de outro, é, e sempre foi, uma realidade distante do Brasil. Até porque as duas coisas inexistem por aqui. A participação das pessoas físicas nos negócios é pífia. Segundo os dados da B3, as pessoas físicas atualmente representam pouco mais de 17% dos negócios (compra e venda). Além de endividados, os brasileiros ficam receosos em experimentar investimentos de risco e, quando o fazem, perdem dinheiro. A maior parte deste percentual que opera no mercado é formada por especuladores que compram e vendem os papéis e não buscam investir como poupança de longo prazo. O objetivo antigo da bolsa de fomentar os chamados clubes de investimento não surtiu efeito. Atualmente representam menos de 0,5% dos negócios, praticamente um traço.

Já os estrangeiros continuam sendo os principais agentes que operam ações no Brasil, com cerca de 50% do volume de compra e vendas no mês de junho. Novamente, a maior parte do capital vindo para a bolsa é especulativo. Os ativos brasileiros são vistos como baratos e, diante do noticiário, pode-se ganhar dinheiro com a especulação. Até porque se pegarmos as bases que levam os fundos estrangeiros a investirem em mercados emergentes, estamos bem longe disso.

Segundo a metodologia EMDB, são três grandes fatores que envolvem a decisão de um estrangeiro de investir em um mercado emergente: demográficos; quadro político e aspectos do governo que estão sendo exercidos no país e o estado em que se encontram os fundamentos econômicos, em particular, as condições econômico-financeiras vigentes (incluindo suas transações com o exterior, a política fiscal, o sistema financeiro, o mercado de capitais, a administração da dívida pública e o papel exercido pelos agentes de mercado). Todos eles, com exceção dos demográficos, mostram-se inconsistentes no caso do Brasil.

Independente da decisão do TSE – esta coluna foi fechada no final da tarde de sexta-feira – a admissão do presidente da República de que usou o jato da JBS para viagem pessoal demonstra que havia uma relação próxima com a empresa, centro do último escândalo do país. Por muito menos, presidentes de outros países caíram ou renunciaram.

Além do aspecto moral – altamente relativo nestas terras – há a importância de haver alguém no lugar ocupado hoje por Temer. Se, conforme a esfarrapada e talvez satisfatória desculpa, não sabia quem era o dono da aeronave, como conheceria as condições mecânicas do tal jato? Ou não percebeu a importância de haver um presidente da República? Talvez não mesmo, como mostraram ele e os que o puseram lá. Quem movimenta milhões e bilhões costuma ser mais atento a esse tipo de coisa que, por aqui, é um mero detalhe. Tanto que, conforme seu subordinado, Henrique Meirelles, tudo dentro da normalidade.

 

Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação

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