A volta do feriado no Brasil deve ser marcada por ajustes nos mercados, já que ontem foi um dia de perdas nas bolsas de Nova York, em meio à falta de apoio entre os senadores republicanos à reforma tributária de Trump, e diante do recuo do presidente Michel Temer em promover uma ampla mudança ministerial, poupando aqueles que estão na mira da Lava Jato. Agora, a dança das cadeiras na Esplanada será feita por etapas.
Enquanto este último fator, relacionado à decisão do governo, renova as dúvidas em relação ao apoio da base aliada à reforma da Previdência, o desempenho em Wall Street ontem não foi de todo ruim para os negócios com ativos emergentes. O índice S&P 500 caiu mais de 0,5% pela primeira vez desde o início de setembro, encerrando uma sequência de 50 pregões sem registrar perdas tão aceleradas, o que não era visto desde 1968.
O índice Dow Jones recuou 0,6% e o Nasdaq também caiu 0,5%. Os dados da inflação ao consumidor nos EUA, que apontaram alta de 0,1% em base mensal, fizeram pouco para alterar a probabilidade de elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve novamente no próximo mês, já que o núcleo do indicador subiu para 0,2%, ao passo que as vendas no varejo do país mostraram uma demanda resiliente durante a temporada de férias.
Mas a sinalização para o dia é positiva, com os índices futuros das bolsas de Nova York em alta, o que animou o pregão na Ásia. Os investidores se apoiam na perspectiva de que um adiamento do início da proposta de corte de gastos às empresas e às famílias nos Estados Unidos é favorável aos mercados emergentes, uma vez que o crescimento econômico norte-americano não tão acelerado reduz o risco de pressão inflacionária e de aumento de juros.
Tanto que ontem os recibos de ações brasileiras negociadas no exterior (ADRs) subiram e o dólar caiu, refletindo a percepção de que para os EUA o atraso na reforma tributária pode não ser tão bom, mas para o Brasil e os países emergentes em geral, sim. A Câmara dos Representantes nos EUA vota hoje a proposta sem o apoio dos senadores republicanos, que defendem a redução de tributos corporativos só a partir de 2019.
No Brasil, Temer aproveita o período de calmaria em Brasília para costurar o apoio da base aliada em relação à reforma da Previdência. Mas depois da reação de aliados, que avisaram que só preferem sair do governo em abril, o presidente tende a reduzir a troca de ministros às pastas hoje ocupadas pelo PSDB no Ministério das Cidades e na Secretaria de Governo, preservando os cargos de ministros citados em delações premiadas da Odebrecht e da JBS.
Resta saber se essa reforma ministerial mais enxuta não irá prejudicar a votação no Congresso de um texto já desidratado sobre as novas regras para a aposentadoria. Os investidores devem manter a cautela, cientes das chances de aprovar a Previdência ainda nesta ano. Afinal, as mudanças ministeriais prometidas por Temer podem não ser suficientes garantir os 308 votos necessários para aprovar uma emenda à Constituição (PEC) na Câmara.
Na agenda econômica do dia, os EUA anunciam números sobre a indústria no mês passado (12h15), além dos pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país (11h30). Logo cedo, sai o dado final da inflação ao consumidor na zona do euro (8h). No Brasil, serão conhecidas leituras de índices de preços em novembro (IGP-10 e IPC-S), além dos dados semanais do fluxo cambial (12h30).