Dentro de um intervalo de dois anos, 14 dos 21 países latino-americanos realizarão eleições presidenciais. Ainda neste ano, haverá disputa no Chile e em Honduras. Em 2018 o caldeirão vai ferver no Brasil, México, Colômbia, Paraguai, Costa Rica e Venezuela. Para 2019, haverá disputa presidencial na Argentina, Uruguai, El Salvador, Panamá e Guatemala.
O mercado está relativamente tranquilo com a eleição presidencial do Chile, que já começa no dia 19 de novembro (primeiro turno). Sebastián Piñera, candidato conservador, de viés pró-mercado, e que inclusive já governou o país entre 2010 a 2014, é o grande favorito na disputa.
Piñera está com 32,8% das intenções de voto no primeiro turno, muito a frente do candidato de centro-esquerda Alejandro Guiller, com 13,8% das intenções de voto. Tanto Guiller, quanto Piñera, tentaram usar ao máximo a imagem de outsider. Porém, o fato de Guiller ser visto como uma sucessão da impopular centro-esquerda Michelle Bachelet, atual presidente do Chile, favoreceu para que Piñera pudesse crescer como outsider, porém com um discurso mais a direita. Bom lembrar que a esquerda de Bachelet falhou em seu plano de governo, o que culminou num período de fraco crescimento e desemprego de 6,7% no maior exportador de cobre do mundo.
A maior preocupação dos analistas, agências de rating e do próprio mercado é justamente com o calendário de 2018. O cenário base geral para os países no qual passarão por disputas presidenciais em 2018 é de baixo crescimento, sensação de insegurança, decepção com casos absurdos de corrupção e cansaço com políticos tradicionais, elementos considerados “fermentos poderosos” para ascensão não necessariamente de outsiders, mas de candidatos populistas ou salvacionistas.
A percepção é de que há potencial apoio considerável da população à figuras salvacionistas no México, Colômbia e Brasil. Enrique Peña Nieto, atual presidente do México, tem aprovação de apenas 12% e os maiores partidos de oposição (incluindo o esquerdista PRD) estão formando aliança para derrotar o partido do governo (PRI) nas eleições de 2018. O PRI governou o México por sete décadas até 2000, voltou ao poder em 2012 com Peña Nieto, mas agora parece que sua hegemonia está novamente ameaçada.
Na Colômbia, o partido da Farc (Força Alternativa Revolucionária do Comum), antiga guerrilha, enxergou espaço para disputar as eleições presidenciais com candidato próprio (seu principal líder, Rodrigo Londoño Echeverri). O primeiro turno das eleições presidenciais na Colômbia será em maio de 2018, mas as eleições legislativas para o Senado e Câmara ocorrerão em março deste ano, também com candidatos próprios da Farc. A disputa no Congresso será fundamental para investidores e agências de rating traçarem as perspectivas econômicas para o médio e longo prazo.
No Brasil o quadro é ainda mais complicado, pois o atual governo Temer, teoricamente de centro-direta, com discurso pró-mercado, trabalha com uma aprovação extremamente baixa (3% apenas da população), taxa de desemprego muito elevada (12,4%), recuperação econômica lenta, com PIB potencial ridiculamente baixo para países emergentes.
Um candidato, portanto, que utilizar o mesmo discurso/estratégia de Temer pode não conseguir apoio suficiente da população nas eleições presidenciais do ano que vem, já que os próprios indicadores econômicos pesam contra o discurso. A população não entende que os problemas atuais são consequência do passado desastroso da nova matriz econômica, o que pode enfraquecer um discurso com viés mais ortodoxo no próximo ano.
Grande parte dos analistas brasileiros acredita que o próximo presidente será um candidato de centro-direita, mas, apesar da grande necessidade de se colocar a casa em ordem, o mercado não parece tão confiante nesta hipótese. Convencer a população com medidas impopulares, semelhantes à agenda do governo Temer, para solucionar o gigantesco passivo fiscal, parece missão praticamente impossível, pois a realidade do crescimento baixo e desemprego alto pesam bastante na escolha do eleitor.
Na verdade, a baixa credibilidade do discurso ortodoxo, evidenciada pelos indicadores econômicos, juntamente com o clima de decepção com a classe política tradicional, abre espaço para salvadores da pátria surgirem com discursos diferentes, aproveitando-se do desespero por mudança.
Em particular, as agências de classificação de risco não parecem dispostas a esperar o resultado das eleições no Brasil para tomar uma decisão sobre o nosso atual rating BB, dois níveis abaixo do grau de investimento. A Standard & Poor’s emitiu um alerta recentemente de que a nota brasileira pode ser rebaixada, caso as mudanças nas regras de aposentadoria e pensão não aconteçam em tempo hábil de dar algum respiro ao próximo governo.
Nesta sexta-feira, vazou informação de que a Moody’s pode rebaixar o rating de até três grandes economias da América Latina (muito possivelmente o Brasil faz parte deste grupo no alvo da Moody’s) e não esperará os resultados das próximas eleições presidenciais.
Para o caso brasileiro, a reforma da previdência está se mostrando fator fundamental não somente para Moody’s, mas Standard & Poor’s e Fitch, tomarem uma decisão logo. Não há tempo para discussões sobre o que fazer com os insustentáveis déficits fiscais. A trajetória do nível de endividamento está se aproximando de um caminho sem volta, quando combinada com a carga de juros atuais (contratos futuros). Se não atacarmos o problema com urgência e devido rigor, estaremos comprando passagem para descer mais um degrau na escala de rating.