A arrecadação melhorou no ano de 2017, porém o déficit fiscal continua. A maior receita do governo está relacionada não ao crescimento da economia, que leva ao maior consumo, vendas e, por consequência, ao maior pagamento de impostos. O que ocorreu foi um aumento das alíquotas de alguns tributos (PIS e Cofins sobre gasolina, diesel e etanol), novo Refis e o recebimento de Royalties. Apesar de ter sido revertida a tendência registrada nos três anos anteriores, o aumento ainda deixa a desejar diante do tamanho do rombo fiscal. O incremento foi de 0,59% para R$ 1,34 trilhão, segundo dados apresentados na sexta-feira pela Secretaria da Receita Federal.
A arrecadação maior não impedirá que o governo continue deficitário neste e nos próximos anos, apesar de as estimativas dos economistas darem conta de que o crescimento econômico será bem maior em 2018, o que impacta positivamente a arrecadação. Em seu relatório trimestral, o FMI já melhorou a perspectiva para o incremento do PIB brasileiro que, segundo o órgão deve ficar em 1,8% este ano. Já os economistas ouvidos pelo relatório Focus esperam um aumento bem maior, de 2,7%.
No entanto, a perspectiva é de que o déficit fiscal permaneça próximo a R$ 160 bilhões, ao menos esta é a meta aprovada pelo Congresso. Em 2016, o rombo foi de R$ 154,2 bilhões. Os sucessivos déficits levam ao crescimento exacerbado da dívida pública, o que piora a classificação de risco do país e pode, inclusive, provocar a perda do que foi conquistado na política monetária. A continuar esta situação, os urubus alertam: a taxa de juros pode subir.
Aliado ao déficit fiscal está o déficit de transações correntes, que registrou no ano passado um rombo próximo a US$ 10 bilhões. Os chamados déficits gêmeos são algo preocupante para uma economia emergente, que se torna cada vez mais dependente do ingresso de investimentos estrangeiros para se financiar. O país está em uma situação melhor que no ano anterior, quando o resultado foi negativo em US$ 23,54 bilhões. A redução do rombo está relacionada ao melhor resultado da balança comercial, com as exportações de commodities crescendo. Em 2017, o saldo comercial ficou positivo em US$ 64 bilhões. Para este ano, os economistas ouvidos pelo Focus esperam um déficit de US$ 27,65 bilhões.
O que surpreendeu negativamente em 2017 foi o fraco desempenho do investimento estrangeiro direto. O resultado é o menor desde 2013, pouco mais US$ 70 bilhões. No ano de 2016, os aportes somaram US$ 78,2 bilhões. A expectativa é que haja um aumento dos investimentos este ano. A previsão do Banco Central é de inversões da ordem de US$ 80 bilhões.
Especialistas no setor apontam os chineses como um dos principais interessados em fazer aportes diretos no país, com ênfase no setor de infraestrutura. Segundo David Denton, da Okto Finance, outros segmentos como educação, tecnologia e saúde também devem se destacar na área de M&A. Além da compra de empresas, o mercado de capitais brasileiro começa a chamar a atenção. Diversas empresas já anunciaram a intensão de abrir capital ou realizar operações de follow on, o que cria uma esfera mais positiva. “O rebaixamento da nota de risco do país nada impacta neste apetite”, diz Denton.
O que pesará no ano para o atrativo de estrangeiros é a insegurança quanto às eleições. A condenação de Lula em segunda instância foi vista como algo positivo, pois reduz a viabilidade de sua candidatura, o que privilegia o espaço para um candidato de centro direita. A leitura de fontes do mercado é que o afastamento de Lula da corrida eleitoral também enfraquece o presidenciável Bolsonaro. “Sem a polarização Lula-Bolsonaro, há um aumento da confiança do investidor”, diz uma fonte.
Segundo uma pesquisa divulgada pelo UBS a seus clientes, o que pesa hoje entre os eleitores não é mais o desempenho econômico, mas sim a corrupção. A leitura do relatório demonstra que a impopularidade do governo Temer está relacionada às denúncias de corrupção, mesmo que tenha ocorrido uma melhora econômica. Entretanto, é preciso lembrar que Temer lançou mão de reformas impopulares e as poucas conquistas econômicas, se é que foram conquistas, ainda estão bem distantes do bolso do brasileiro.