Janeiro começa com um cenário indefinido para o Brasil, com os desdobramentos políticos novamente se sobressaindo ante os indicadores econômicos. Os dados de atividade previstos ao longo da primeira semana de 2018 tendem a confirmar a tendência positiva de crescimento aqui e no exterior. Já as incertezas domésticas em ano eleitoral tendem a garantir uma dose extra de volatilidade nos mercados no curto prazo.
Os investidores têm duas datas em mente: 24 de janeiro e 19 de fevereiro. A primeira refere-se ao dia do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode definir a participação dele como candidato no pleito de outubro. A expectativa simplória de que um placar unânime pode tirá-lo do jogo ainda é a que predomina. Com Lula fora de cena, a reforma da Previdência entra em campo, logo depois do carnaval.
O governo ainda precisa angariar apoio apolítico para garantir os 308 votos necessários e aprovar as novas regras para aposentadoria, em dois turnos, na Câmara dos Deputados ainda em fevereiro. Se conseguir, o tema entra em pauta no Senado em março, onde deve passar com facilidade e antes do prazo para os interessados deixarem seus cargos no governo (e no Congresso) para disputarem novos mandatos.
Só que os governadores do Nordeste deixaram claro que não será à base da chantagem – ou troca de favores – que o governo vai conseguir votos para mudar a idade mínima e o tempo de contribuição para aposentar em pleno ano eleitoral. O toma-lá-dá-cá terá de ser conduzido de uma forma diferente, pois o impacto nas urnas do apoio a mudanças tão polêmicas ainda não é mensurável.
Pode-se dizer que o julgamento de Lula deve “virar a página” do país, com ou sem reforma da Previdência em 2018. Afinal, com o ex-presidente no palco político, mas fora da disputa, a agenda de reformas pode ganhar força durante a campanha eleitoral e ter mais legitimidade se tocada por um governo eleito, no próximo ano. À espera de um desfecho desse cenário, os investidores recebem dados de atividade ao longo da semana.
No Brasil, os números de novembro da produção industrial saem na sexta-feira. No mesmo dia, os Estados Unidos publicam o relatório oficial sobre o mercado de trabalho (payroll) no mês passado, sendo que a criação de vagas no setor privado será conhecida um dia antes. Indicadores sobre as vendas de veículos no Brasil e nos EUA em dezembro serão divulgados a partir de amanhã.
Hoje, merece atenção o relatório semanal Focus do Banco Central (8h25), cujas revisões otimistas para crescimento econômico (PIB) e inflação (IPCA) tendem a ratificar o espaço para mais um corte na taxa básica de juros na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2018, em fevereiro. A aposta é de uma queda adicional de 0,25 ponto, levando a Selic a um novo piso histórico, a 6,75%.
Ainda na agenda econômica do dia, será conhecido o desempenho da balança comercial brasileira (15h) e da indústria norte-americana (12h45) em dezembro. Na virada do dia, saiu o índice Caixin dos gerentes de compras (PMI) na indústria, que subiu a 51,5 em dezembro, contrariando a estimativa de queda a 50,7 e ficando acima da leitura de novembro, de 50,8. Um dia antes, porém, o índice PMI oficial caiu a 51,6, de 51,8, no mesmo período.
Apesar de os indicadores de atividade chinês apresentarem conflito, o dia foi de ganhos na Ásia. A Bolsa de Xangai subiu mais de 1% e em Hong Kong a alta foi de quase 2%, embalando também as commodities. O barril do petróleo tipo WTI flerta com a marca de US$ 61, ao passo que o cobre tenta se firmar no positivo.
O sinal positivo na Ásia embala a abertura do pregão na Europa, mas as praças da região são impactadas pelo recuo das montadoras. Os papéis de bancos e de empresas do setor de energia tentam fazer um contraponto. O euro ganha terreno em relação ao dólar, sendo que a moeda norte-americana perde espaço para os demais rivais, tanto de países emergentes quanto desenvolvidos.
Ainda assim, o volume de negócios nos mercados internacionais permanece fraco, com muitos investidores ainda ausentes nesta primeira sessão de 2018, após um ano vencedor para os ativos de risco. A valorização das bolsas liderou os rendimentos em 2017, em meio a uma expansão econômica simétrica e uma abordagem lenta dos bancos centrais lenta para a retirada de estímulos monetários nas principais economias.