O ajuste pós-carnaval prevaleceu nos mercados domésticos ontem e o ritmo de folia será testado nesta quinta-feira, tanto na cena interna quanto no exterior. Lá fora, Wall Street renova o fôlego após quatro altas seguidas, apesar do avanço do juro projetado pelos títulos dos Estados Unidos, ao passo que, aqui, a ata do Banco Central (8h) pode trazer um tom mais duro, resgatar a volatilidade nos negócios.
Diante das turbulências globais que se aproximam – com a inflação ao consumidor nos EUA (CPI) registrando a maior alta em cinco meses e reforçando o cenário de mais altas nos juros pelo Federal Reserve – o Comitê de Política Monetária (Copom) deve redobrar a cautela. Ou seja, na ausência de novas surpresas, a Selic tende a ficar em 6,75%.
O Comitê pode até apontar quais “surpresas” seriam essas, citando fatores em relação à inflação, à atividade, à agenda de reformas estruturais no Congresso ou mesmo às condições externas, que poderiam permitir uma queda adicional, a 6,5%. Mas seria arriscado deixar a porta aberta para mais um corte no juro básico em março.
Ainda assim, o BC pode olhar pela janela, pois antes da próxima reunião do Copom, são esperados dados do Produto Interno Bruto (PIB) e de preços ao consumidor (IPCA-15 e IPCA de fevereiro), além da tentativa de votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. Portanto, tampouco é o momento de trancar a porta.
No mesmo horário de divulgação do documento do BC, sai o primeiro IGP de fevereiro, o IGP-10. Já no exterior, o destaque fica com os números de janeiro nos EUA sobre a inflação ao produtor (PPI) e a produção industrial (12h15). A previsão é de alta de 0,2% da indústria em relação a dezembro.
Ontem, os números acima do esperado do CPI norte-americano combinados com um cenário de aumento salarial no país, dólar fraco globalmente, estímulo fiscal por parte do governo Trump e mercado de trabalho apertado deixaram claro a capacidade dos EUA de alimentar pressões inflacionárias.
Esses sinais de alta de preços podem encorajar o Fed a subir os juros do país até quatro vezes neste ano. Por ora, os investidores ainda apostam mais de 50% de chance de três aumentos na taxa do Fed Fund (FFR) em 2018, sendo o próximo aperto já em março. Os outros 50% estão divididos entre apenas duas altas (30%) e uma elevação adicional até dezembro (20%).
Seja como for, o rendimento do título norte-americano de 10 anos (T-note) é negociado nos maiores níveis desde 2014, já na faixa dos 2,9%, o que indica que o horizonte à frente é de juros mais elevados na maior economia do mundo. O movimento interrompeu uma tendência de baixa de 20 anos, o que tende a retirar recursos de ativos arriscados, como os emergentes, em busca de risco baixo e retorno seguro.
A questão é que quando a inflação nos EUA aumenta, os rendimentos dos títulos do Tesouro do país (Treasuries) crescem de modo a acomodar essa expectativa de elevação dos preços à frente. Esse aumento no rendimento é reflexo da maior demanda por esses papéis, o que derruba os preços dos bônus, tornando-os mais atrativos e provocando uma correção nos preços de todos os demais ativos (ações, commodities, moedas etc.).
Mas não é esse ambiente que se apresenta no exterior nesta manhã. O sinal positivo prevalece nos índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã, dando continuidade aos ganhos acelerados ontem, o que estendeu o rali nos negócios na Ásia, em uma sessão esvaziada diante das comemorações pela chegada do Ano do Cachorro, que começa amanhã e mantém os mercados na China fechados até o próximo dia 21.
Ainda assim, a Bolsa de Tóquio subiu pela primeira vez em quatro dias, apesar do novo avanço do iene em relação ao dólar. A moeda norte-americana perde terreno para os rivais, com destaque para a queda frente ao xará australiano e também ao rand sul-africano. Os metais básicos e o petróleo são beneficiados pelo dólar fraco e também pelo retorno do apetite por risco, o que animam a abertura do pregão na Europa.
Por ora, os investidores ainda se debatem sobre o que deve disparar uma quebra nas correlações do mercado. Enquanto isso, as ações, moedas e commodities seguem atraentes em relação aos títulos e os ativos de risco não devem ser afetados por maiores taxas de juros de longo prazo nos EUA – desde que o rendimento do papel de 10 anos permaneça abaixo de 4%.