Por: Marco A. S. Martins*
Em 29 de julho de 2015 o Comitê de Política Monetária (COPOM) encerrava um ciclo de elevação da taxa Selic, alterando a taxa de 13,75% para 14,25% a.a, como parte de uma estratégia de forte aperto monetário para controlar a inflação corrente e suas expectativas. A taxa Selic se manteria no patamar de 14,25% por longos 14 meses, derrubando o IPCA acumulado de 12 meses de 9,56% em julho de 2015 para 7,87% outubro de 2016. Da mesma forma, as expectativas do mercado, medida pelo Relatório Focus, para o ano de 2016 e para 2017 despencavam, sinalizando 6,89% e 5,00%, respectivamente. Indiscutivelmente uma vitória importante sobre um dos indicadores mais perversos e traumáticos da economia brasileira, a inflação. Obviamente, o combate à inflação através do aperto monetário gera os indesejáveis efeitos colaterais, tais como o agravamento da recessão e do desemprego.
Os investidores em títulos renda fixa, engordavam suas contas com ganhos reais crescentes, só para exemplificar em julho 2015 para uma SELIC de 14,25% e IPCA dos últimos 12 meses de 9,56%, o ganho real era de 4,28% ao ano. Essa mesma conta feita em outubro de 2016, quando a SELIC cai para 14% a.a. e inflação de 12 meses está em 7,87%, o ganho real vai para 5,68%, ou seja, um verdadeiro paraíso para o aplicador de renda fixa, a inflação começa a cair numa velocidade bem maior que a queda das taxas de juros.
Em julho de 2017, a trajetória de queda iniciada lá em outubro de 2016 leva a SELIC a atingir um dígito (9,25%), em meio as comemorações de todos os setores da economia real e do próprio governo, os investidores de renda fixa refazem suas contas e verificam que o IPCA dos últimos doze meses agora é 2,71%, resultando em um ganho real de 6,36%, mais uma vez permanece a lógica, a inflação continua caindo mais rápido que os juros, o COPOM continua conservador.
A trajetória de queda persiste e chega-se a fevereiro de 2018, quando o COPOMderruba a SELIC para históricos 6,75%, clima de inquietação entre os aplicadores de renda fixa, refazendo as contas, com uma inflação de 12 meses acumulada em 2,95% e a o Relatório Focus projetando 3,67% de IPCA para 2018, os juros reais ficam em 3,69% e 2,97%, sinalizando que as taxas de juros reais caíram.
A inquietação dos aplicadores da renda fixa aumentou gerando uma certa histeria, principalmente quando alguns membros da equipe econômica do governo sinalizam com a possibilidade de um novo corte nas taxas de juros, podendo chegar a 6,50%, o que se poderia trazer a taxa real de juros para algo próximo 2,72% ao ano, fazendo com que os investidores de renda fixa saiam “desesperados” atrás de alternativas capazes de oferecer melhores taxas de remuneração. No entanto, esta busca, afoita, por ativos de maior rentabilidade precisa ser melhor ponderada.
A primeira reflexão importante é que este juro real ainda é elevado, pois conforme trabalho publicado pelo site moneyou em parceria com a Infinity Asset Management, em fevereiro de 2018, o Brasil ainda é o quinto maior juro real em um ranking de 40 países analisados, ficando atrás da Argentina (6,04%), Turquia (5,31%), Rússia (3,68%) e México (3,66%), ou seja, o juro real brasileiro ainda é alto quando comparado com o Mundo.
A segunda reflexão necessária é examinar o quanto esse movimento de queda nas taxas de juros reais é consistente no longo prazo, quais os fatores que podem consolidar esse movimento como uma tendência de longo prazo. O movimento de queda nas taxas de juros reais é resultado de um bom desempenho das commodities com a safra de grãos recorde, da taxa de câmbio comportada, do elevado nível de capacidade ociosa da economia, consequência da recente recessão, e das expectativas de que o governo está efetivamente comprometido com a responsabilidade fiscal e irá realizar todos os esforços necessários para implementar um amplo conjunto de reformas capazes de reverter a trajetória do déficit e dívida pública no médio e longo prazo, tudo isso, dentro de um cenário internacional benigno.
No entanto, existem incertezas, que podem afetar muitos dos fatores que favoreceram essa trajetória de queda nas taxas de juros, dentre eles vale destacar o cenário eleitoral e a dificuldade de se encontrar candidatos com uma pauta eleitoral pragmaticamente favorável ao equilíbrio fiscal de longo prazo. Além disso, os movimentos da economia americana, sinalizando um dólar mais forte no longo prazo com juros mais elevados no mundo e com perspectiva de inflação no mercado americano.
O terceiro ponto importante, diz respeito a análise da relação risco x retorno, o investidor precisa estar consciente de que a busca de maior nível de retorno irá levá-lo a agregar mais risco em seu portfólio e abrir mão de liquidez imediata. Assim, a agregação de uma perspectiva de retorno mais atraente precisa ser ponderada pelo efetivo apetite de risco do investidor, por uma escolha adequada de produtos, que levem em conta os riscos intrínsecos de cada produto em si e, por uma análise das suas reais necessidades de liquidez.
Em síntese, o momento do mercado financeiro convida os investidores de renda fixa a refletirem o quanto querem buscar de retorno no longo prazo, o quanto estão dispostos a assumir riscos (possibilidade de perdas) e quanto precisam de liquidez, antes de qualquer movimento brusco, cabendo sempre respeitar o mínimo de diversificação, uma das regras vitais na gestão de risco de investimentos.
Finalmente, os movimentos dos investidores precisam ser acompanhados com uma disposição de conhecer com profundidade as alternativas de investimentos disponíveis, pois só se assume riscos com o conhecimento adequado.
*Marco A. S. Martins, Prof. Dr.