A opção do Banco Central (BC) por manter a taxa básica de juros (Selic) intacta em 6,50% ao ano surpreendeu a maioria dos investidores, que aguardavam uma nova redução de 0,25 ponto porcentual (pp), para 6,25%. Boa parte desta expectativa era resultado do comunicado divulgado pela autoridade monetária em março, que sinalizava a possibilidade de corte adicional nos juros.
Naquela época, a instituição sabia que a inflação em 12 meses medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuava perdendo força – atingindo 2,84% em fevereiro – e que a recuperação da economia estava lenta – o índice de atividade econômica (IBC-Br) de janeiro, o mais recente divulgado até então, havia encolhido 0,56% na comparação com dezembro.
Até aí, nada impedia o BC de prosseguir com o novo corte na Selic, dado que os preços continuavam subindo num ritmo menor que 3% a 6% ao ano, a meta de inflação da instituição, e não havia sinais evidentes de que este cenário mudaria tão cedo.
Nos meses seguintes, porém, a situação ficou mais complexa. A inflação desacelerou para 2,68% em março e teve um repique para 2,76% em abril, pressionada pelo aumento dos preços de produtos farmacêuticos e planos de saúde. O núcleo da inflação – que exclui do cálculo os preços de combustíveis e alimentos – estava em 2,91% em março e teve leve recuperação em abril, para 2,96%.
Somou-se a este contexto de recuperação da atividade inflacionária a disparada do dólar em escala global. A moeda norte-americana atingiu o maior nível em dois anos na comparação com o real e renovou máximas históricas em relação às moedas de outros países emergentes – como a Argentina – diante do alto grau de dúvidas em relação à economia mundial e à redução gradual da liquidez no sistema financeiro dos Estados Unidos – que resulta em menos dólares circulando no mercado mundial.
O câmbio desfavorável aumenta os preços de produtos importados e pode ajudar a fortalecer a inflação no país. Além disso, a Petrobras adota desde meados do ano passado uma política de reajuste constante nos preços dos combustíveis que leva em consideração as cotações do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional. Ambos estes preços subiram nas últimas semanas. Com isso, a gasolina vendida pela empresa ficou 14,4% mais cara desde o final de abril, enquanto o valor do diesel teve alta de 12,5%.
Aumentos em preços de combustíveis tendem a ser transmitidos para outros produtos, pois estão atrelados ao custo de transporte das mercadorias, de forma que funcionam como um fator amplo de pressão inflacionária. Deparado com este cenário, o banco central preferiu ser cauteloso para não ter que compensar com mais rigor no futuro a falta de cuidado com a inflação agora. A instituição também ficou mais agressiva em sua tentativa de limitar o impacto do dólar sobre a economia. Na sexta-feira, triplicou a oferta de contratos de swap cambial prevista para o leilão desta segunda-feira.
A volatilidade no mercado de câmbio deve continuar pelo menos até a metade de junho, quando o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, anunciará sua decisão de política monetária e indicará ao mercado como interpreta os movimentos recentes de fortalecimento do dólar e aumento nos juros projetados pelos títulos de dívida do país. Parte do mercado atribui a alta da moeda norte-americana a apostas crescentes de que o Fed vai apertar a política monetária mais vezes do que o previsto ao longo deste ano, e que a alta nas taxas de juros da dívida do país corrobora esta visão.
Os números do mercado, porém, não confirmam inteiramente esta tese. Dados do CME Group mostram que os investidores continuam amplamente divididos em relação à trajetória da taxa básica de juros dos Estados Unidos neste ano apesar da alta nos juros dos Treasuries para os maiores níveis dos últimos anos. Na sexta-feira, os negócios com contratos futuros dos fed funds indicavam uma probabilidade de 42,80% de o Federal Reserve seguir o que ele mesmo projeta e encerrar 2018 com os juros entre 2,00% e 2,25% ao ano.
Este cenário corresponderia a dois aumentos adicionais de 0,25 ponto porcentual (pp) na taxa até dezembro. A segunda hipótese mais provável (41,96%) é de que a instituição encerre este ano com a taxa entre 2,25% e 2,50%, o que seria equivalente a três altas de 0,25 pp no mesmo intervalo. As probabilidades para os dois cenários são semelhantes às que eram observadas em 1 de maio, um dia antes da reunião de política monetária mais recente do Federal Reserve – 41,51% e 40,00%, respectivamente -, mesmo diante da alta observada nos juros dos títulos de dívida dos Estados Unidos ao longo desta semana.