O Brasil entra no nono dia de paralisação dos caminhoneiros, que mesmo após a redução de R$ 0,46 no litro do diesel, querem mais. Questões que surgem depois dos bloqueios de estradas – como a queda no preço da gasolina e também do presidente Michel Temer – mantêm o desabastecimento no país. Enquanto isso, o governo pressiona para acabar com o movimento.
Em meio à greve e aos transtornos, a Petrobras realiza uma teleconferência com investidores (14h) para tratar a crise que reduziu o valor de mercado da companhia em quase R$ 130 bilhões. As ações da petrolífera despencaram mais de 14% ontem e provocaram a maior queda da Bolsa brasileira desde o episódio envolvendo a JBS, zerando os ganhos de 2018.
O dólar, por sua vez, içou ao patamar de R$ 3,70, no maior nível desde o fim do ano passado. Há suspeitas de que a teleconferência da estatal seja para tratar dos rumores sobre a saída do presidente Pedro Parente. Talvez a empresa dê novos esclarecimentos sobre a política de preços, pois há cinco dias a gasolina cai nas refinarias, enquanto o diesel está congelado.
Em atos e interdições de rodovias pelo país, o movimento que envolve os caminhoneiros questiona, entre outros assuntos, a escalada nos preços dos combustíveis. Tal reivindicação também entra na pauta dos petroleiros, que buscam apoio popular para a pausa de 72 horas a partir de amanhã, o que pode piorar o fornecimento de combustível no país.
Nesse cenário, o mercado financeiro ainda tenta se recompor do baque sofrido ao longo deste mês, mas é difícil medir os impactos sofridos desde o revés vindo da decisão do Banco Central de não cortar a taxa básica de juros (Selic) até os efeitos na atividade e na inflação com os sucessivos dias de paralisação dos caminhoneiros. E uma nova greve vem aí.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, até que tentou minimizar os possíveis efeitos inflacionários vindo dos protestos há mais de uma semana, mas é difícil imaginar que os preços mais salgados de diversos produtos, diante da restrição na oferta, não irá provocar uma espiral. No mínimo, deve intensificar a trajetória de alta já esperada para os próximos meses.
A pressão não vem apenas dos alimentos, que pereceram por falta de transporte, mas também de itens administrados, com o custo da conta de luz subindo R$ 5 a cada 100 KwH consumido a partir de junho. Na atividade econômica, o ritmo lento e gradual da recuperação pode ter sido interrompido, beirando o precipício, em meio à queda na confiança.
Tudo isso em um período que antecede as férias de verão no hemisfério norte, que tende a disparar a saída de recursos dos investidores estrangeiros de ativos mais arriscados, ao mesmo tempo em que eleva a demanda pelo prêmio pago para quem quiser manter tal risco na carteira.
Na renda variável brasileira, o saldo negativo de capital externo em maio ampliou para R$ 5,5 bilhões, invertendo o resultado no ano para o vermelho, com um déficit de pouco mais de R$ 1 bilhão. Até segunda ordem, os “gringos” estão apenas olhando a cena doméstica, com tantos eventos conturbados.
Afinal, a questão dos caminhoneiros nem parece ter sido resolvida e os investidores devem redobrar a cautela com a possibilidade de os petroleiros também cruzarem os braços. Tais movimentos tendem a manter a pressão sobre a atividade e a inflação, elevando as incertezas às vésperas das eleições presidenciais.
E o cenário externo tampouco contribui para aliviar a pressão doméstica. As preocupações com a formação de um governo na Itália se aprofundam, disparando uma fuga dos ativos de risco, o que pesa nas bolsas e moedas. O euro é negociado abaixo da faixa de US$ 1,16 pela primeira vez desde novembro, em meio às perdas de 3% na Bolsa de Milão.
As forças a favor e contra a zona do euro estão em disputa em Roma, com outra eleição prevista no país para setembro, depois que partidos não formaram um governo desde o pleito em março. O temor de contágio afeta também a Bolsa de Madri, que também cai ao redor de 3%, em meio às memórias dos problemas na região da moeda única na década passada.
As demais praças europeias também têm perdas aceleradas, pressionadas pelo recuo dos índices futuros das bolsas de Nova York. Na Ásia, o clima também foi pessimista. Nos bônus, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) cai abaixo da faixa de 2,90% na mínima em seis semanas, o que não impede o dólar de ganhar terreno das moedas rivais.
Além do euro, a libra esterlina também perde valor, cotada no menor nível em cerca de seis meses, enquanto o iene sobe à máxima em cinco semanas. A lira turca volta a ser destaque de baixa, após o Banco Central local adotar medidas para simplificar a política monetária do país. Nas commodities, o petróleo tipo WTI cai pelo quinto dia no menor valor em seis semanas, enquanto o barril do Brent se sustenta ao redor de US$ 75.
A agenda econômica doméstica está repleta de indicadores relevantes. A começar pelo IGP-M de maio (8h), que deve ganhar força e subir 1,3%, acelerando-se fortemente em relação à alta de 0,57% em abril. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve dar um salto e subir a 4,20%, refletindo a pressão do dólar nos preços, principalmente no atacado.
Aliás, às 9h, o IBGE informa o índice de preços ao produtor (IPP) em abril. O indicador mede a evolução dos preços para a indústria “na porta da fábrica” – antes, portanto, do custo do frete. No mesmo horário, será conhecida a taxa de desocupação da população brasileira, que deve ficar em 13% no dado atualizado até abril, interrompendo três altas seguidas.
Ainda assim, o nível de desemprego no país deve seguir no maior nível em cerca de um ano, somando quase 14 milhões de pessoas sem ocupação profissional. Já a população ocupada deve seguir ao redor de 90 milhões, com apenas um terço desse total de trabalhadores tendo a carteira assinada. Com isso, a renda média deve seguir em torno de R$ 2,1 mil.
Ainda na agenda doméstica, sai (10h) o índice da CNI sobre a expectativa do consumidor (Inec). Já no exterior, o calendário econômico do dia está bem fraco, trazendo como destaque apenas o índice de confiança do consumidor norte-americano em maio (11h). Antes, saem os preços de imóveis residenciais nos Estados Unidos em março (10h).