O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que o Brasil é mais resistente à volatilidade do dólar do que a Turquia, que vem enfrentando desvalorização de sua moeda após crise com os Estados Unidos. A crise entre os dois países envolve o pastor norte-americano Andrew Brunson, preso na Turquia desde 2016, acusado de espionagem. Para os Estados Unidos, ele é um refém político que deve ser libertado imediatamente.
“O Brasil tem uma situação muito diferente [da Turquia], porque as nossas contas externas estão em situação bastante robusta, então o país não tem dívida externa. Na realidade, o setor público é credor em dólar, as reservas são superiores à dívida, o setor privado tem dívida menor, e nós temos uma posição de reserva internacional grande, deficit pequeno em conta corrente, financiado por investimento direto estrangeiro”, disse o ministro, em entrevista coletiva na capital paulista, após participar da 45ª edição do prêmio Melhores & Maiores da revista Exame, na noite de ontem (13).
De acordo com Guardia, a Turquia tem situação externa pouco confortável, já que acumula um déficit elevado em transação corrente, que não é financiado por investimento estrangeiro direto, além de uma dívida externa de mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) e reservas internacionais em torno de 10% do PIB.
O Banco Central da Turquia anunciou, nessa segunda-feira, o aporte de US$ 6 bilhões no sistema financeiro do país, para garantir a liquidez dos bancos e interromper a queda da lira turca em relação ao dólar.
“Não obstante, eu sempre chamo a atenção, nesses momentos em que a gente olha maior volatilidade do cenário internacional, da absoluta necessidade da continuidade do processo de reformas estruturais, particularmente da consolidação fiscal”, disse Guardia. Para ele, isso deve assegurar a capacidade de maior resiliência da economia brasileira a crises internacionais.
Questionado sobre a impotência do governo diante da incerteza de investidores por causa do cenário eleitoral, o ministro disse que é natural que haja mais dúvidas em momentos assim. “Agora, até por isso, é fundamental a gente reforçar os fundamentos da economia brasileira. Quanto mais sólidos forem, menor será a preocupação com o processo de transição política. Isso faz parte da democracia em qualquer país; em qualquer lugar do mundo há alternância de poder”, disse, ao reafirmar a importância da consolidação fiscal.
Em relação a uma possível ação do Banco Central para conter a alta do dólar, Guardia lembrou que houve uma intervenção há cinco semanas porque o governo entendeu que, naquele momento, havia excesso de volatilidade e uma disfuncionalidade dos mercados de câmbio e juros. “Não é o que estamos observando neste momento, é uma desvalorização que afetou outras moedas também, vamos aguardar os acontecimentos, continuaremos a monitorar o mercado com muita atenção”.