Investing.com – O mercado brasileiro opera com forte queda nesta sexta-feira (10) e se encaminha para devolver 5 mil pontos na semana e retornar aos 76 mil pontos de meados de julho. O culpado da vez para a realização? A escalada da crise diplomática entre Turquia e Estados Unidos, gatilho para amplificar o mau humor internacional.
Somente nesta sexta-feira, a moeda turca perde 14,35% ante o dólar comercial. Em um ano, as perdas acumuladas são de 36%.
O país passa por um quadro inflacionário considerado grave, com o banco central sendo visto por analistas como inoperante e sujeito a pressões políticas, já que não eleva os juros para conter a tendência de alta nos preços e a fraqueza da lira.
Por que a lira está caindo?
A Turquia vive um momento de prolongada crise política, que faz com que a moeda local perca força diante do dólar americano. A situação se agravou hoje após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar em seu Twitter que deu autorização para que sejam duplicadas as tarifas sobre o aço e o alumínio procedentes do país.
A decisão aumenta a pressão sobre Ancara, cuja economia se mostra debilitada e demonstra uma escalada da crise diplomática entre os dois países que disputam a prisão e extradição de cidadãos.
O humor do investidor com a Turquia se deteriorou nos últimos dois anos desde a tentativa fracassada de golpe em 2016, que deu lugar a uma resposta autoritária comandada pelo presidente Recep Erdogan, já considerado ditador de fato da república.
Hoje mais cedo, Erdogan fez um discurso avaliado como extremamente populista para convocar a população a ajudar o pais a superar a adversidade. Ele tediu que a população de seu país troque dólares, euros e ouro por liras trucas, para que a Turquia possa responder à instabilidade como uma nação unida. No discurso, o presidente descartou medidas como alta dos juros.
O tom desagradou ainda mais investidores, contribuindo para a derrocada da moeda.
Exportação da crise
O ambiente internacional azedou após o Financial Times publicar uma reportagem informando que o Banco Central Europeu (BCE) está preocupado com a exposição dos bancos da zona do euro à Turquia.
O BCE não quis comentar a notícia do jornal britânico. As instituições que estariam mais expostas e sujeitas à crise são o BBVA, UniCredit e BNP Paribas, já que possuem uma presença maior na Turquia, com as operações no país sendo mais representativas em seus balanços. Dados do Bank for International Settlements (BIS) apontam que os bancos espanhóis têm a receber US$ 83,3 bilhões de clientes turcos, com os franceses sendo credores de US$ 38,4 bilhões e os italianos de US$ 17 bilhões.
A troca de comando na economia da Turquia ainda não é considerada crítica pelo FT, sendo que a maior preocupação é se os bancos estão protegidos contra a fragilidade da lira, dado que os empréstimos em moeda estrangeira representam 40% dos ativos do setor bancário turco.
O novo ministro das Finanças do país, Berat Albayrak, deve apresentar novas propostas para a economia turca. A notícia não agradou os investidores, ainda mais devido à exposição os bancos europeus que emprestaram dinheiro na Turquia nos últimos anos e agora correm risco de calote.
Emergentes sofrem com aversão ao risco
Com investidores atentos aos desdobramentos da crise turca, o sentimento de aversão ao risco tomou conta do cenário internacional, com peso especial sobre os emergentes. O ETF que mede o desempenho dos emergentes perde 2,4% e se encaminha para o pior fechamento semanal em um ano.
A bolsa russa fechou com perdas de 3,7%, seguida pela polonesa com -3,3%. O Ibovespa vem logo a seguir com perdas de 3%, mas ainda em operação. O principal índice turco cedeu 2,3%, enquanto DAX alemão, país com fortes laços com a Turquia, recuou 2%.
Por que isso afeta o Ibovespa e o real?
A H.Commcor, em relatório enviado a clientes nesta sexta-feira, informou que o movimento da lira turca preocupa praticamente a todos, em um momento com os investidores acionando o ‘modo pânico’ em meio à preocupação com a solvência daquele mercado.
Para a SulAmérica Investimentos, a crise econômica e financeira vivenciada pela Turquia, ameaça contaminar economias europeias, somada às tensões comerciais e geopolíticas, empurra os investidores em direção a ativos considerados seguros.
Esse cenário contribui, por exemplo, para a alta do dólar, que tem nessa sexta-feira valorização de 1,35% a R$ 3,8526, movimento que é semelhante principalmente entre outros países emergentes.
Com esse movimento, a curva a termo de juros precificava nesta sessão quase 95 por cento de chances de alta de 0,25 ponto percentual da Selic em setembro, com o restante indicando manutenção, segundo operadores. Hoje, a taxa básica de juros está na mínima histórica de 6,50 por cento ao ano.
Os contratos de DI para janeiro de 2020, de maior liquidez, avançam 0,210 p.p. para um total e 8,32%, enquanto os de janeiro de 2021 têm ganhos de 0,230 p.p. para 9,4%. A maior variação é registrada para os papéis para julho de 2023, com ganhos de 0,4 p.p. a 11,19%.
Já o Risco Brasil, medido pelo CDS de 5 anos, está com 225,4 pontos, representando uma alta de 4,45% na semana.