O mês de setembro chega ao fim, levando consigo o terceiro trimestre deste ano, mas o comportamento recente do mercado financeiro brasileiro deixou claro que os ajustes para embelezamento de carteira já foram feitos nos últimos dias. Com os negócios locais mais leves, os investidores podem reavaliar o cenário, preparando-se para a reta final de 2018 (com as eleições de outubro no meio do caminho).
Ontem, o retorno da Bovespa para os 80 mil pontos e a queda do dólar para abaixo de R$ 4,00, ambos em níveis não vistos há mais de um mês, esteve relacionado ao fluxo de recursos estrangeiros e à redução da postura defensiva, com os investidores comprando a ideia de um governo Bolsonaro liberal-reformista ou de um governo Haddad pragmático-centrista.
Porém, ainda é prematuro tentar adivinhar o vencedor das eleições de outubro e, principalmente, a agenda de governo a ser adotada a partir de janeiro de 2019. Até porque, o Congresso Nacional também será renovado e será necessário capacidade de articulação política para colocar em prática as medidas propostas pelo presidente eleito.
Nesse sentido, o mercado financeiro brasileiro pode até reagir com euforia a uma vitória de Bolsonaro, mas logo vai perceber que “o mundo não é tão cor de rosa assim”. É necessário ter base de apoio para governar e o novo embaraço causado pelo vice na chapa presidencial do PSL, Hamilton Mourão, reacende os muitos conflitos internos ainda durante a campanha.
Depois de criar uma nova polêmica ao dizer que o 13º salário e adicional de férias são “jabuticabas trabalhistas” a uma plateia de empresários no Sul, Mourão tomou um pito público de Bolsonaro pela enésima vez e disse que, a partir de agora, vai ficar em “silêncio obsequioso”. A ver se o general irá obedecer o pedido do capitão.
Ao mesmo tempo, o adiamento da alta médica do candidato do PSL talvez para este fim de semana pode redobrar a cautela entre os ativos domésticos, gerando até algum movimento de realização de lucros. Em contrapartida, os investidores também digerem os acenos de Haddad ao mercado financeiro brasileiro, de que ele irá ter disciplina com as contas públicas.
Ainda assim, apenas alterações bruscas no rumo da eleição até o próximo dia 7 (e depois 28 de outubro) é que podem confirmar (ou não) o otimismo do investidor. E os próximos dias prometem ser agitados.
De hoje até o início da semana que vem estão previstos uma série de eventos em torno das eleições. A começar pela avalanche de pesquisas de intenção de votos. Já nesta sexta-feira sai pela manhã mais um levantamento semanal do Ipespe, feito a pedido da XP Investimentos.
À noite (20h55), é a vez de um novo Datafolha. O instituto iniciou a coleta ontem e vai a campo até hoje para consultar pouco mais de 8 mil eleitores em todo o país. Na sondagem anterior, o Datafolha não mostrou Haddad isolado em segundo lugar, ao mesmo tempo que consolidou Bolsonaro na liderança, com mais de 10 pontos à frente do rival do PT.
Depois, na terça-feira, o Datafolha publica uma nova pesquisa, que será feita no mesmo dia com cerca de 3 mil eleitores. Antes, na segunda-feira, o Ibope também divulga, à noite, um novo levantamento, que pode corroborar (ou não) o encurtamento da distância entre os candidatos do PSL e do PT para apenas seis pontos.
Mas a próxima semana deve começar com os números das pesquisas da CNT/MDA, realizada entre ontem e amanhã, e a sondagem semanal do BTG/FSB. Além disso, os negócios locais abrem o pregão de segunda-feira reagindo à mobilização popular contra Bolsonaro, que promete levar milhares de mulheres às ruas neste sábado em várias cidades do país e também no exterior.
Na agenda econômica do dia, destaque para os números atualizados até agosto sobre o desemprego no Brasil (9h). A previsão é de um novo recuo na taxa de desocupação, o terceiro seguido, mas ainda assim a 12,2%, totalizando aproximadamente 13 milhões de desempregados. Em relação à renda, a média deve seguir em torno de R$ 2,2 mil.
Em meio a esses números, parece complicado questionar o 13º salário e o adicional de férias – algo que a maioria absoluta de eleitores (uns 80 milhões de votos) tem ou gostaria de ter. Antes, sai o índice de confiança no setor de serviços em setembro (8h). Depois, é a vez da nota do BC sobre o resultado primário consolidado do setor público em agosto (10h30).
Já no exterior, saem dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos Estados Unidos em agosto (9h30), além da leitura final do índice de confiança do consumidor norte-americano em setembro (11h). Na zona do euro, destaque para a prévia deste mês do índice de preços ao consumidor (CPI), que deve reforçar a chegada da inflação na Europa.
Os mercados internacionais amanheceram em baixa neste último dia do mês, com as preocupações políticas voltando ao centro do palco. As principais bolsas europeias abriram no vermelho, apesar da sessão de ganhos na Ásia, em meio à pressão nos bônus italianos, após o governo populista conseguir um déficit orçamentário maior que o esperado.
O rendimento (yield) do papel soberano da Itália registrou o maior aumento desde junho, em meio à vitória do governo na batalha pelos gastos. O movimento contaminou os títulos de outros países europeus, ao passo que o euro escorregou. A libra também cai, em meio ao imbróglio sobre o Brexit. Já os títulos norte-americanos e o dólar estão mais firmes.
Entre as commodities, o petróleo caminha para a mais longa sequência de ganhos semanais em quatro meses, com muitos já apostando no retorno do barril para US$ 100, diante de temores de uma crise de oferta. Por sua vez, o cobre é cotado na mínima em mais de uma semana.