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Pré Market: Sorte ou Revés?

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O mercado financeiro brasileiro iniciou 2019 com o pé direito. O dólar caiu abaixo de R$ 3,80 e a Bolsa cravou nova pontuação recorde, já nos 91 mil pontos, em meio ao entusiasmo dos investidores com o novo governo. Esse otimismo foi capaz de desviar os negócios locais do temor de desaceleração econômica que impera no exterior. Mas essa “blindagem” será colocada à prova novamente nesta quinta-feira.

Afinal, por mais que Wall Street tenha conseguido encerrar a primeira sessão do novo ano em ligeira alta, a volatilidade reinou entre os ativos de risco ontem, diante de dados de atividade mais fracos na zona do euro e na China. Hoje, novos indicadores sobre o desempenho da indústria no mês passado, desta vez, nos Estados Unidos (13h), devem ditar o rumo do mercado financeiro no exterior.

Por ora, o sinal negativo volta a prevalecer no ambiente internacional, em meio às renovadas preocupações quanto ao enfraquecimento da segunda maior economia do mundo e ao impacto da guerra de tarifas nas empresas norte-americanas. Ontem, a Apple afirmou que as vendas de fim de ano serão bem mais baixas que o esperado, por causa da menor demanda na China.

O executivo-chefe, Tim Cook, disse em carta aos acionistas que a receita no primeiro trimestre fiscal da gigante de tecnologia deve ser de US$ 84 bilhões, abaixo da previsão anterior de até US$ 93 bilhões. A notícia atingiu em cheio as ações do setor na Ásia, com destaques para os papéis na Coreia do Sul e em Taiwan, enquanto Tóquio seguiu fechado por causa de um feriado. Em Xangai e Hong Kong, as perdas foram menores, entre 0,3% e 0,4%.

Após os dados fracos de atividade na China em dezembro, Pequim mostra-se firme no processo de amadurecimento da economia – nos moldes do que ocorreu com outros países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul. A fraqueza da indústria chinesa denota que a produção em larga escala de produtos de baixo valor agregado não se sustenta mais. Por isso, a busca pelo crescimento econômico ganha novas dimensões, com elevado investimento em pesquisa e inovação.

Já nos EUA, tem sido cada vez mais difícil defender a guerra comercial emplacada pelo presidente Donald Trump. A Casa Branca argumenta que o ganho de longo prazo com uma disputa de tarifas contra a China justifica a dor de curto prazo às empresas, aos consumidores e investidores. Mas esse dano pode causar mais efeitos colaterais que o esperado, prejudicando as garantias de que a América poderia continuar crescendo rapidamente, apesar do conflito.

Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem queda acelerada nesta manhã, de mais de 1%, diante de mais um indicador sobre a perda de tração da economia chinesa, que sofreu sobretaxa de produtos importados aos EUA em mais de US$ 200 bilhões – embora o iPhone ainda não tenha sido diretamente afetado. Nas negociações no after-hours, as ações da Apple caíram quase 8%.

Entre os demais ativos, o iene se fortalece em relação aos rivais mais fortes, como o dólar e o euro, ao passo que a moeda norte-americana ganha terreno em relação às divisas de países emergentes e correlacionadas às commodities. O petróleo tipo WTI, por sua vez, devolve todo o ganho da véspera e volta a ser cotado na faixa de US$ 45, enquanto o barril do Brent segue abaixo de US$ 55. O ouro avança.

A agenda econômica do dia no exterior também traz dados sobre o mercado de trabalho norte-americano, com destaque para o relatório ADP sobre a geração de vagas no setor privado em dezembro (11h15). A previsão é de criação de 180 mil postos. Também serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA (11h30), além de dados do setor imobiliário em novembro (13h).

Mas os investidores estão mesmo atentos é ao noticiário político, tanto lá fora quanto aqui. Os democratas retomam hoje o controle da Câmara dos Representantes, equilibrando o jogo político em Washington, o que pode elevar a pressão sobre Trump. O status do republicano vem perdendo força, o que tende a manter um elemento de volatilidade dos ativos globais.

Porém, enquanto o mercado financeiro brasileiro conseguir se esquivar desse elemento de disrupção e escorar-se nos anúncios do governo Bolsonaro e, principalmente, da nova equipe econômica, o entusiasmo local visto no primeiro dia de 2019 pode continuar. Por enquanto, o otimismo dos investidores se baseia na aposta de que o novo governo irá cumprir o que prometeu.

A expectativa é de que a equipe liderada pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, irá entregar uma agenda liberal que contemple propostas que vão desde privatizações até medidas tributárias, passando, obviamente, pela reforma da Previdência. Se colocada em prática e com o apoio do Congresso, a confiança dos empresários e consumidores tende a subir, dando maior previsibilidade ao país.

Há quem diga que tudo isso, combinado, pode ser suficiente para fazer o Brasil recuperar o grau de investimento. O principal risco doméstico, porém, é o cenário externo. Guerras comerciais tendo a China como principal alvo, muro na fronteira com o México que opõe democratas e republicanos, retirada das tropas norte-americanas da Síria, e, acima de tudo, investigações da campanha de Trump.

O fato é que esses elementos, somados aos temores com a desaceleração do crescimento global e uma possível recessão da economia norte-americana, podem impedir o retorno do capital externo ao Brasil, seja nos ativos financeiros, seja no setor produtivo. Ontem mesmo ficou claro que havia a presença de investidores estrangeiros nas duas pontas (vendedora e compradora) entre as ações, e um movimento de realocação de carteira e de posição nos juros futuros e no dólar.

Assim, ainda é difícil prever se a arrancada do Ibovespa e a valorização do real no primeiro pregão de 2019 foi apenas sorte – e haverá um revés em algum momento, com essa onda vinda, principalmente do exterior – ou se esse movimento está firmado em bases mais sólidas… A única certeza, por ora, é de que o noticiário político no Brasil tem sido a melhor forma de proteger o mercado financeiro brasileiro da volatilidade externa.

Com isso, merece atenção hoje a primeira reunião ministerial do governo Bolsonaro, às 9h, no Palácio do Planalto. O conselho é formado pelo presidente, Jair Bolsonaro, e o vice, Hamilton Mourão, além dos 22 ministros de Estado e o chefe de gabinete da Presidência. À tarde, Bolsonaro recebe o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo.

Também à tarde, toma posse o novo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, às 16h. Será importante acompanhar a fala do ex-funcionário de carreira da Vale sobre o programa de investimentos da petrolífera, a política de preços de combustíveis e, principalmente, a venda de ativos. Ontem, as ações da Eletrobras saltaram 20%, diante da intenção de Bolsonaro de levar adiante a ideia de privatização da elétrica.

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