O Governo de Jair Bolsonaro apresenta o pior índice de aprovação de um presidente recém-eleito, desde Fernando Collor. Com isso, nesses primeiros 100 dias de ação a chamada “lua de mel” com a opinião pública foi inexistente e, por incrível que pode parecer, praticamente todos os problemas e crises enfrentadas foram geradas dentro do próprio governo, seja por declarações desastradas de Bolsonaro, de seus filhos, de seus ministros ou de membros de seu partido, o PSL.
A maioria dos analistas, portanto, avaliam como negativos esses 100 primeiros dias, seja no plano nacional ou internacional. Os bolsonaristas, que são diferentes dos eleitores de Bolsonaro, correm para afirmar que é pouco tempo, que o estrago do lulopetismo foi bem grande e estendeu por cerca de 16 anos. Há, apenas, parte de verdade na afirmação. Os 100 dias de um governo é uma amostra, como, para o médico, uma amostra de sangue.
Não se retira todo o sangue de um paciente para detectar uma doença, como não se espera metade de um mandato para se avaliar as ações governamentais. Em termos positivos, há dois ministros que dão sustentação racional ao governo: Paulo Guedes, na Fazenda e Sérgio Moro na Justiça; o primeiro se esforça para dar conteúdo e forma à Reforma da Previdência e o segundo apresentou um pacote anticrime, que já sofreu descaracterização e está em compasso de espera, tendo perdido força política.
Outro ponto a ser destacado é a racionalidade e certa estabilidade oriunda no núcleo militar do governo e, ainda nesta seara, a boa atuação do vice-presidente, Hamilton Mourão. Já o presidente Jair Bolsonaro só na última semana fez um gesto de aproximação com os líderes dos partidos político, porque até há pouco todos eram chamados de membros da “velha política”. Deu-se, assim, nestes primeiros meses a manutenção de um discurso de campanha e, por isso, Bolsonaro não compreendeu a liturgia do cargo e nem a importância do papel de liderança que o Presidente da República exerce.
O fato de Bolsonaro gostar e se dar bem nas redes sociais fez com ele continuasse a se concentrar naquele público que já lhe é fiel, já convertido, deixando de lado os demais brasileiros. As confusões entre interesses familiares e do Estado foram, inúmeras vezes, sentidos, até o ponto de um ministro de Estado ser demitido por antipatia de um dos filhos do presidente.
Muitos dos seus ministros – sem a liderança do presidente – foram de uma incompetência singular, falando bobagens, paralisando seus ministérios e, também, apresentando currículos inverídicos em suas biografias. O pior, em tudo, foi conjugar a retórica de campanha com a falta de articulação política, que não foi feita nem pelo presidente e nem por seus ministros ou por líderes de seu partido.
Aliás, o PSL mostrou-se um amontado de personalidades, mas sem organicidade e uma liderança capaz de dar sentido e rumo às dimensões da política seja no parlamento seja junto à sociedade. No plano internacional, as declarações de intenções foram, muitas vezes, no sentido oposto da tradição de nossa diplomacia e as visitas presidenciais (Davos, EUA, Chile e Israel) trouxeram mais problemas que soluções até agora.
Houve, enfim, um governo sem líder, um presidente e ministros mais ligados às posições ideológicas do que capazes de governar com estratégia. Esses 100 primeiros dias foram ruins. Pode, se quiserem, melhorar, mas dependerá de esforço individual e coletivo. Talvez, a síntese do governo tenha sido o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez: despreparado, confuso, ideológico e inoperante. Bolsonaro deverá assumir as rédeas de seu governo ou, então, outros poderão fazer isso.
Por Rodrigo Augusto Prando – Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.