O dólar saltava mais de 1% ante o real nesta sexta-feira, ganhando contínuo fôlego a partir do começo da tarde enquanto os mercados externos seguiam ressabiados em relação à evolução da pandemia e da atividade econômica.
Mas a moeda brasileira novamente liderava, por ampla margem, as perdas globais, em meio a um debate sobre a tolerância do Banco Central ao nível de volatilidade da taxa de câmbio doméstica, a mais alta entre as principais divisas emergentes.
Na véspera, quando a “gangorra cambial” prosseguiu e o real liderou a valorização entre cerca de 30 pares do dólar, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autarquia ainda não tem uma boa explicação sobre as causas do aumento da volatilidade do câmbio no país e que continua investigando a questão. Mas Campos Neto afirmou ter a sensação de que a volatilidade tende a diminuir.
“Sem querer, Campos Neto acabou adicionando volatilidade à moeda, na medida em que você vê a autoridade monetária dizer que não sabe o que está causando (a volatilidade)”, disse um profissional do mercado que preferiu não ser identificado. “Isso acaba gerando incerteza para o investidor, porque se espera que a autoridade monetária tenha clareza do que está acontecendo para gerenciar a situação”, completou.
A volatilidade implícita para o real dentro de três meses está em 17,2% ano, contra cerca de 14% do peso mexicano e 11% da lira turca.
Às 15h42, o dólar avançava 1,17%, a 5,3900 reais na venda, perto da máxima do dia, quando subiu 1,19%. Na mínima, a cotação caiu 0,23%.
O real perde 25,5% ante o dólar em 2020, em termos nominais, mais do que qualquer outra moeda relevante.
O noticiário político tampouco trazia tranquilidade ao mercado. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem se mostrado contrário a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de criar imposto que de acordo com algumas análises seria nos moldes da antiga CPMF. Guedes afirmou na véspera que a primeira parte da proposta elaborada pelo governo para a reforma tributária será entregue ao Legislativo na terça-feira.
Mas, ainda que o real liderasse as perdas entre as principais moedas nesta sessão, o dólar se mostrava forte também contra outras divisas emergentes, como peso mexicano, que caía 0,6%, e peso colombiano (-0,4%).
Divisas latino-americanas por vezes têm estado na lista de piores desempenhos nos mercados de câmbio, em meio a temores de que a economia local demore mais para se recuperar conforme a região tem dificuldades em lidar com a pandemia de Covid-19.