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Os acontecimento mais importantes do mercado brasileiro de criptomoedas e blockchain em 2020

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Se há “décadas em que nada acontece, e anos em que décadas acontecem,”  2020 com certeza é um candidato para o prêmio de ano da disrupção no mundo e no setor das criptomoedas.

O Bitcoin (BTC) abriu o ano de 2020 com uma performance que já anunciava o que estava por vir: janeiro fechou com uma valorização de 35% no par BRL/BTC, enquanto o Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na bolsa brasileira (B3), caiu 1,63% no mesmo mês. No dia 21 de outubro, o Bitcoin atingiu sua máxima histórica no Brasil quando foi negociado acima de R$ 70 mil. Após 30 dias desse marco, o Bitcoin subiu 50% e atingiu os R$ 100 mil, acumulando ganhos de mais de 200% no par BTC/BRL. No dia 24 de novembro, o Brasil estabeleceu uma nova máxima histórica de R$ 105 mil, impulsionada pelo desempenho global da criptomoeda e da desvalorização de mais de 20% do real em relação ao dólar. Em dezembro, o ativo atingiu os R$ 120 mil, acumulando uma valorização de mais de 300% em 2020.

Quando um ativo cypherpunk de 12 anos, cujo criador segue sendo um mistério desbanca todas as classes de ativos, dos metais às melhores ações das bolsas, é esperado que haja questionamentos, dúvidas e acusações de ‘farsa’ ou ‘bolha’. O debate sobre os fundamentos do mercado de criptomoedas sempre volta aos holofotes em períodos de alta. Uma forma interessante de fazer a ‘ficha cair’  e justificar o desempenho do ativo, é olhar para o cenário macro. Para cada ataque ao Bitcoin, um fundamento, um fato, uma parceria e um produto capaz de mostrar que enquanto a tendência de alta faz com que o impacto de curto prazo pareça exagerado, nossas perspectivas de longo prazo parecem subestimadas.

O aumento do preço do Bitcoin, longe de representar um hype, é o prólogo de um novo mundo. Nada melhor do que olhar para os maiores e mais importantes acontecimentos do mercado brasileiro de criptomoedas e blockchain 2020 para contar a história dos 300% no par BRL/BTC.

Os Maiores Destaques:

Fonte: Tradingview

  • 31 de Janeiro: Bitcoin ‘fecha’ janeiro com valorização de mais de 35% enquanto Ibovespa tem queda de 1,63%
  • 17 de fevereiro: Vitreo anuncia parceria que permite que brasileiros comprem Futuros de Bitcoin da CME ou da Bakkt.
  • 13 de março: Bitcoin atinge a maior mínima do ano, após anúncios relacionados a covid-19 e a queda de mais de 30% em um dia.
  • 29 de abril: Decreto presidencial Nº 10.332  estabelece criação de uma blockchain oficial para o Governo Federal.
  • 20 de maio: BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, lança criptomoeda própria na blockchain da Tezos para pagar derivativos.
  • 12 de Junho: O BNDES anuncia aporte de R$ 20 milhões em fundo para aceleração de startups e, pela primeira vez, uma empresa de Bitcoin é beneficiada.
  • 2 de Julho: Real completa 26 anos com 759% de ‘desvalorização’ desde seu lançamento, 29,6% só em 2020.
  • 1 de Agosto: Bitcoin atinge 100% de valorização no par BTC/BRL, é cotado em R$ 60 mil e fecha mês com novo recorde de R$ 14 bilhões negociados mensalmente em criptomoedas.
  • 13 de Agosto: Exchanges de Bitcoin se unem e lançam Código de Autorregulação.
  • 21 de Setembro: Primeiro ETF de Bitcoin e criptomoedas do mundo é aprovado e foi feito pela Brasileira Hashdex com a Nasdaq.
  • 21 de Outubro: Bitcoin atinge máxima histórica brasileira de R$ 70 mil
  • 15 de Novembro: TSE testa eleições com blockchain.
  • 20 de Novembro: Bitcoin bate recorde e passa de R$ 100 mil no Brasil
  • 24 de Novembro: Nova máxima histórica é estabelecida em R$ 105 mil.
  • Dezembro: O Bitcoin atinge a máxima história em dólares e os  R$ 120 mil e é o melhor investimento brasileiro de 2020, com um rendimento de mais de 300% no par BRL/BTC.

Regulamentação

Em 2020, o quinto Projeto de Lei (PL n° 4207/20) de regulamentação do mercado de criptomoedas no Brasil foi proposto, mas nada foi decidido. Buscando acelerar o desenvolvimento e segurança do mercado, as maiores exchanges de Bitcoin do Brasil se uniram e lançaram o Código de Autorregulação para o setor.

Apesar da incerteza regulatória, a fiscalização do setor cresceu exponencialmente: exchanges reportaram milhares de transações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), Coinbene e Binance foram proibidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de oferecer contratos futuros de Bitcoin no Brasil, o Estado de São Paulo criou uma polícia especial para investigar as criptomoedas e a Chainalysis começou a trabalhar com o governo, sugerindo aos deputados a inclusão das criptomoedas na nova lei de lavagem de dinheiro.

Na disputa entre exchanges de Bitcoin contra o encerramento de contas correntes pelos bancos, alguns bancos foram obrigados a pagar mais de um milhão para exchanges, enquanto outros continuam se negando a abrir conta para empresas de criptomoedas. Em maio, a conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) reconheceu que os bancos prejudicam as exchanges de criptomoedas e cobrou respostas do Banco Central, da Receita Federal e da CVM. O Banco Central declarou que os bancos podem encerrar contas correntes de exchanges de Bitcoin sem especificar motivação, mas bancos foram punidos por isso, marcando uma encruzilhada sem definição.

Envolvimento Institucional: Fundos Regulados e o ETF

Durante o ano de 2020, os investidores e produtos institucionais se expandiram rapidamente, novos fundos foram aprovados e disponibilizados.

Atualmente, há quatro gestoras reguladas (QR Asset, Vitreo, Hashdex e BLP), oferecendo 14  fundos multimercados com diferentes tipos de exposição às criptomoedas. Juntas, elas atingiram a marca de R$ 743 milhões AuM. No dia 31 de agosto,  pela primeira vez na história, um fundo de Bitcoin foi eleito o mais rentável do Brasil, com 66% de valorização no ano. Em dezembro o marco se repete e, fundos com exposição em Bitcoin superam todas as outras aplicações financeiras no Brasil, acumulando rentabilidades acima de 200% até 10 de dezembro.

Fonte: Mais Retorno

Em um ano, o mercado foi de apenas dois fundos regulados com exposição parcial às criptomoedas à fundos 100% cripto que atingiram as maiores rentabilidades do setor e a participação de uma gestora brasileira na criação do primeiro ETF de Bitcoin do mundo, aprovado, em uma parceria entre a gestora brasileira Hashdex e a Nasdaq. O Hashdex Nasdaq Crypto Index ETF, negociado na Bolsa de Valores de Bermudas, é voltado para investidores institucionais estrangeiros. No entanto, os investidores brasileiros que queiram ter exposição indireta podem fazê-lo por meio dos nossos fundos brasileiros da gestora , que investem no ETF.

Blockchain e o Governo Brasileiro: vocês se surpreenderiam.

aSe na regulamentação grandes avanços não foram feitos, quando a questão é adoção da blockchain pelo governo, a coisa é bem diferente. Parafraseando o Secretário do Ministério da Economia:

‘ Você se surpreenderia com o quão bem vista é blockchain dentro do governo’.

No primeiro semestre de 2020, o Brasil instituiu sua Estratégia de Governo Digital através do Decreto 10332/2020, estabelecendo como diretrizes a unificação de canais digitais, a interoperabilidade entre sistemas, a disponibilização de identificação digital e a otimização da infraestrutura digital existente. E de fato, ele o fez.

Centenas de iniciativas governamentais utilizando tecnologia blockchain entraram em vigor esse ano, com destaque para os projetos de transparência das transferências de recursos da união, autenticação de documentos e intercâmbio de informação entre as instituições federais.

Alguns exemplos interessantes: o exército brasileiro instituiu a obrigatoriedade do uso de blockchain para o Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército (PCE).  Um mês depois, Jair Bolsonaro publicou o Decreto Nº 10.332, estabelecendo a criação de uma rede em blockchain institucional e interoperável para o Governo Federal, logo após investir R$25 milhões na tecnologia. A Receita Federal desenvolveu uma blockchain própria que conta com a adesão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Cartórios de Notas em todo o Brasil passam a autenticar documentos com blockchain. E além disso, o  TSE testou eleições com blockchain em novembro.

O governo também anunciou inúmeras vezes interesse em uma CBDC, mas pouca coisa se sabe a respeito, além da criação de um grupo de estudo sobre a emissão da moeda digital No caminho da digitalização da economia brasileira, a Caixa Econômica foi autorizada a criar um banco digital para 120 milhões de brasileiros.

Adoção das Criptomoedas no Brasil

Usuários registrados em exchanges e volume de negociação

De acordo com os dados disponibilizados pela Receita Federal, os brasileiros declararam a negociação de mais de R$100 bilhões em criptomoedas nos últimos 12 meses, com destaque para o mês de Julho, em que mais de R$14 bilhões foram declarados. Entre novembro de 2019 e outubro de 2020, 1.296.001 CPFs únicos foram cadastrados em exchanges e 39.955 CNPJs únicos.

Volume de negociações declaradas para a Receita Federal. Fonte dos Dados: RFB

Em setembro, o mercado registrou 101 milhões de novos usuários, em um crescimento de 200% nos últimos dois anos. Nesse ritmo, o Mercado Bitcoin, maior exchange brasileira, atingiu a marca de 2 milhões de usuários e R$ 15 bilhões em negociações.

Stablecoins: BRZ,  USDT e Paxos Gold

Apesar do Brasil ser um país maximalista, com o Bitcoin sendo responsável por 92% das buscas que os brasileiros fazem no Google, em outubro, dados da Receita Federal mostraram que o USDT foi a moeda favorita dos brasileiros, com negociações em USDT somando R$ 2.7 bilhões, enquanto que as negociações com Bitcoin chegam a pouco mais de R$ 2.1 bilhões.

Além da stablecoin lastreada em dólares, a stablecoin lastreada em reais, BRZ ganhou bastante destaque no ano de 2020. Já em maio, ela conseguiu se tornar a 5 criptomoeda mais negociada no Brasil, superando o Ethereum.  Através do BRZ, é possível manter posições em reais internacionalmente, o que não era possível antes, já que o real é considerado uma fiduciária non deliverable forwards, que não pode ser negociada nem mantida por nenhum player no exterior.

A listagem do token brasileiro em outras plataformas como a BTSE e Bittrex também impulsionou o volume em reais dessas plataformas.  Outro feito notável foi a participação da Transfero Swiss, emissora da BRZ, na criação da Stablecoin Alliance, uma parceria entre diferentes países para o desenvolvimento de stablecoins.

Stablecoins lastreadas em ouro também chamaram atenção dos investidores brasileiros. Em agosto, a exchange Mercado Bitcoin liberou a negociação da Paxos Gold e registrou no primeiro dia, 25% de todo volume de ouro negociado naquele dia na B3, bolsa de valores brasileira, com 1.400 investidores negociando R$ 2,5 milhões.

Adoção da Blockchain e desenvolvimento do mercado

O Brasil tem sido destaque mundial nos últimos anos no setor de fintech e na modernização da economia brasileira. Em 2019, o país ficou em terceiro lugar com maior número de novos unicórnios. Em 2020, apesar da crise do coronavírus, as fintechs brasileiras conseguiram  levantar US$ 1 bilhão em investimento e as startups de criptomoedas passaram a representar 6,3% do setor. Em junho, o BNDES anunciou um aporte de R$ 20 milhões em fundo para aceleração de startups e, pela primeira vez, uma empresa de Bitcoin foi beneficiada.

Em conformidade com as determinações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), O Mercado Bitcoin lançou tokens “lastreados” em dívidas de consórcios e lançou um Banco Digital regulado pelo Banco Central do Brasil. A startup brasileira Gavea anunciou uma plataforma digital de negociação de commodities baseada na blockchain Corda. A Bolsa de Valores do Brasil, B3, anunciou uma parceria para uso de tecnologia blockchain na verificação de duplicatas.

O BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, lançou uma criptomoeda própria na blockchain da Tezos, o ReitBZ e o utilizou para distribuir dividendos.  A maior mineradora do mundo, a Vale do Rio Doce, realizou a a primeira venda de minério usando blockchain e uma fazenda de Ouro no Amazonas foi tokenizada no Ethereum, se tornando uma das primeiras ‘cryptoproperty’ do Brasil

Perspectiva futura para o Bitcoin: o cenário macro

O ano de 2020 para o setor cripto girou em torno de uma questão bem importante: o Bitcoin é um hedge capaz de fazer frente à impressão de trilhões como estímulo e o caos provocado pela pandemia? O cenário do vírus e do crash financeiro foi o maior teste da história do ativo, colocando suas narrativas de reserva de valor e ativo antifrágil em jogo.

Em março, após os anúncios da pandemia, o Bitcoin caiu abaixo de US$ 4.000 pela primeira vez desde o ‘inverno das criptomoedas’ e as coisas não pareciam boas. Exchanges relataram em abril, queda de mais de 40% em suas negociações. O hash da rede do Bitcoin caiu  29% e até gigantes de mineração de Bitcoin  precisam suspender suas operações devido a baixa de preço do ativo.

Entretanto, à medida que as coisas se complicaram e as únicas respostas econômicas foram novos incentivos trilionários , o ativo começou a se recuperar, de forma que no dia 29 de abril, o Bitcoin já tinha atingido os patamares pré-pandemia.

À medida que a turbulência econômica ganhou fôlego e as perspectivas futuras inflacionárias começaram a ficar mais sérias, o Bitcoin começou a ganhar os holofotes como um refúgio da economia mundial e aqui, do risco fiscal brasileiro:  Halving vs Quantitative Easing. Enquanto o Bitcoin passou pelo seu terceiro halving, governos emitiram dinheiro freneticamente.

Os países nas piores crises foram aqueles que mais abraçaram o ativo. No Brasil, a desvalorização do real frente ao dólar atingiu patamares históricos, assim como o preço da criptomoeda.  É inegável, o coronavírus foi uma prova sem precedentes para o Bitcoin. E ele passou. O interesse mundial no em investimentos em Bitcoin cresceu  e ele desbancou praticamente todas as outras classes de ativos do mundo. No Brasil, ele foi o investimento mais rentável. O segundo lugar, a Taurus Armas, com a ação brasileira mais rentável de 2020, teve um rendimento de 170%, muito atrás do Bitcoin. Quando estamos olhando para o cenário global, o Bitcoin ficou atrás de apenas cinco ações no mercado americano (TSLA, ZM, PTON, MRNA, ENPH).

Apesar desse cenário, alguns críticos dizem que ‘boas notícias’ sobre a crise do coronavírus , tais como vacinas contra o coronavírus podem desencadear crash do Bitcoin. Segundo essa narrativa, o Bitcoin é um ativo para ‘ o fim do mundo’, se o apocalipse é adiado, novas máximas também são.

No Brasil, tendências inflacionárias apontam como um cenário futuro ainda (mais) complicado. Segundo o Copom, a  “ociosidade” na economia, pode produzir trajetória de inflação. De acordo com o comunicado:

“O risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional”.

O Bitcoin nasceu como uma resposta à crise financeira de 2008 e após 12 anos, provou seu valor, frente à uma nova crise. Para os brasileiros, ele tem se mostrado um grande aliado frente à erosão da economia doméstica.

Mas, apesar das luzes serem direcionadas ao ativo, os processos de tokenização via blockchain, somadas ao sandbox regulatório do país, também apontam para um cenário positivo, em que novos mercados podem se abrir, ajudando nessa recuperação.

Apesar de incerto, o futuro parece pertencer àqueles que acreditam na criptomoeda.

Por Rafaela Romano

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