Diante da maior crise da história do setor de aviação no Brasil e no mundo, a Gol registrou um prejuízo de R$ 5,98 bilhões em 2020 ante resultado negativo de R$ 117,3 milhões no ano anterior.
Os resultados da Gol (BOV:GOLL4) referentes suas operações do quarto trimestre de 2020 foram divulgados no dia 18/03/2021. Confira o Press Release completo!
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A receita líquida no ano passado atingiu R$ 6,37 bilhões, retração de 54% sobre o desempenho de 2019.
A companhia reportou um Ebitda recorrente de R$ 1,08 bilhão em 2020, queda de 75,2% sobre o resultado do ano anterior.
A margem Ebitda no ano passado foi de 17%, recuo de 14,5 pontos porcentuais na mesma base de comparação.
Renovação de frota
O presidente da Gol defendeu que a renovação de frota da empresa terá prioridade neste momento. O processo foi comprometido diante da suspensão do modelo Max 737 da Boeing após dois acidentes deixarem centenas de mortos. O modelo voltou aos céus em dezembro passado após cerca de 20 meses de revisão.
“Não mudamos em nada nossa estratégia de fazer renovação”, disse, destacando a economia de 15% no consumo de combustível do Max na comparação com o NG. Se possível, o grupo quer acelerar o processo de troca das aeronaves.
Em 31 de dezembro do ano passado, a Gol possuía 95 pedidos firmes para aquisição de aeronaves Boeing 737 Max, sendo 73 de 737 Max-8 e 22 pedidos de 737 Max-10. No fim de 2020 a frota total da Gol era de 127 aeronaves Boeing 737, sendo 120 NGs e sete (7) Max operacionais.
4T20
A maior companhia aérea do Brasil teve um lucro líquido modesto no quarto trimestre, de R$ 16,8 milhões, queda de 95,2%. Excluindo variações cambiais e monetárias, despesas líquidas não recorrentes, entre outros ajustes, a empresa registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 861,9 milhões nos últimos três meses do ano, revertendo o lucro de R$ 378,3 milhões de um ano antes.
Diante da forte turbulência, a empresa resolveu dar passos para trás. Cortou significativamente a perspectiva de oferta de assentos para o primeiro trimestre deste ano e elevou de R$ 2 milhões para R$ 3 milhões a expectativa de consumo de caixa ao dia. No quarto trimestre, a empresa gerou R$ 3 milhões de caixa ao dia.
A crise é vista de forma mais clara no número de passageiros transportados, que fechou o quarto trimestre em 5,2 milhões, queda de 46,2%. No ano todo, foram transportados 16,77 milhões de passageiros, queda de 54%.
Estimativas 1T21
A Gol divulgou novas projeções para o primeiro trimestre de 2021. No geral, a empresa traçou agora um cenário de menor demanda no segmento e elevou suas perspectivas de endividamento, na esteira de um corte nas estimativas para o crescimento do PIB do País no período. O grupo elevou de R$ 2 milhões para R$ 3 milhões a expectativa de consumo de caixa ao dia diante da piora do cenário de pandemia no País. No quarto trimestre, a empresa gerou R$ 3 milhões de caixa ao dia.
A Gol estima operar agora 159 rotas domésticas em média no primeiro trimestre, contra 167 rotas projetadas anteriormente para o período. O novo número representa uma queda de 1,2% na comparação com a média de rotas do quarto trimestre de 2020. A empresa reduziu também sua estimativa de frota operacional, de 102 para 74 aeronaves, o que representará 67% da frota média operada no mesmo trimestre de 2019, segundo a companhia.
A oferta de assentos da empresa (medida em assentos disponíveis por quilômetro) foi cortada em 24,5% no trimestre. Em fevereiro, a Gol operou cerca de 355 voos ao dia, colocando a operação da companhia em cerca de 48% do realizado em fevereiro de 2020. E em março, a Gol implementou uma redução ainda maior e opera cerca de 250 voos ao dia, o que significa cerca de 40% do realizado em março de 2020. “No mês corrente, a Gol está adaptando sua frota e operará 59 aeronaves em sua malha para controlar a capacidade e os custos no período de menor demanda”, informou a empresa.
A taxa de ocupação projetada é de 82%, crescimento de 4 pontos percentuais na comparação com a projeção anterior.
A receita operacional foi revisada de R$ 2,4 bilhões para R$ 1,7 bilhão. O novo número representa uma queda de 10% na comparação com o registrado no quarto trimestre. A empresa cortou de R$ 2,5 bilhões para R$ 1,9 bilhões sua estimativa de liquidez total para o primeiro trimestre, contra R$ 2,6 bilhões no quarto trimestre de 2020.
A estimativa de dívida líquida da empresa foi elevada de R$ 13,1 bilhões para R$ 14,3 bilhões – o que representa um crescimento de 10% na comparação com o quarto trimestre. O endividamento da empresa (dívida líquida sobre o Ebitda) teve estimativa elevada de 8 vezes para 17 vezes no primeiro trimestre. No quarto trimestre de 2020, o indicador ficou em 5,3 vezes.
Teleconferência
O presidente da Gol, Paulo Kakinoff, destacou que a vacinação da população do Brasil acima de 60 anos será um indutor importante para a retomada das viagens aéreas no País. “A maioria dos óbitos estão acima de 60 anos”, disse.
O executivo apontou que o atual cronograma de vacinas prevê que até o final de abril o país já teria a quantidade de doses necessária para vacinar esse grupo.
“Considerando o período de primeira dose, a população estaria imunizada até o final do segundo trimestre deste ano. Esse seria um principal fator indutor de uma retomada da demanda, ao nosso ver”, disse. O executivo ponderou que o cronograma pode sofrer variações.
Kakinoff disse esperar que com a entrada do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, novas medidas importantes sejam adotadas para enfrentar a pandemia.
“Diante das circunstâncias e da urgência, esperamos novas medidas. E vamos ter novos passos sendo tomados e mais efetivos”, disse. O executivo ponderou, entretanto, não acreditar que a mudança represente uma disrupção no cenário político, mas é perceptível que o nível de urgência cresceu. “E esperamos algumas boas notícias em nossa frente”, disse nesta quinta-feira, durante teleconferência com analistas.
Mesmo com as dificuldades o executivo destacou que a empresa conseguiu manter a ocupação das aeronaves acima de 75% durante toda a pandemia. “Ainda há irracionalidade causada por excesso de oferta que me impede de falar em que patamar o yield vai se estabelecer”, disse o executivo, ao ser questionado por analistas na tarde desta quinta-feira.
O yield (valor médio pago por passageiro para voar um quilômetro) da Gol no quarto trimestre fechou em 27,55 centavos de real, queda de 16,9% no ano. Apesar da pressão, o diretor vice-presidente financeiro e diretor de RI da Gol, Richard Freeman Lark, explicou que o setor deverá ter uma melhora gradual no indicador com a melhora na curva de reservas. “Aqui na Gol nesta pandemia a gente não destruiu o yield. A gente tem mantido o ticket médio durante a pandemia entre R$ 300 e R$ 350, que é muito parecido com o que a gente tinha antes da pandemia. Geralmente a gente tem mantido o yield na ordem de 15% menor do que era em 2019. Na indústria (a queda) é o duro disso”, disse.
Lark apontou um cenário ainda atípico para a curva de reservas no setor. “Hoje, a fatia da curva de reservas em até 20 dias está em 50%. Antes era 30%. A curva está bem curta”, disse.
O executivo afirmou que as medidas da empresa para mitigar os efeitos da covid-19 nas operações da aérea trouxeram uma economia de R$ 9 bilhões em um ano. “Acordos com fornecedores e apoio dos acionistas tiveram impacto na preservação da liquidez”, disse.
Entre as economias estão R$ 2,5 bilhões com custos de combustíveis e o mesmo montante em diferimento de taxas aeroportuárias, manutenção de slots e a medida provisória 925, que modificou temporariamente a regra para reembolso de passagens. A empresa conseguiu ainda uma economia de R$ 1,3 bilhão com diferimentos e descontos em arrendamentos.
O grupo registrou ainda economia de R$ 300 milhões diante dos acordos coletivos com sindicatos para redução de jornada. “A Gol mantém o ajuste na jornada de trabalho em patamares equivalentes aos níveis de capacidade”, disse o presidente.
Na teleconferência, Kakinoff disse que a Gol não pretende especular sobre as possibilidades de avançar no processo de incorporação da Smiles neste momento, antes da assembleia da companhia de fidelidade, marcada para o próximo dia 24 de março.
VISÃO DO MERCADO
Citibank
Os analistas Stephen Trent, Brian Roberts e Roberta Versiani, do Citi, destacam, em relatório, que os riscos para o setor devem se concentrar no primeiro trimestre. Segundo eles, os desafios da Gol incluem movimentos adversos de preços de combustível de aviação, condições econômicas negativas ou mudanças regulatórias e um impacto mais profundo do que o esperado de surto da covid-19.
A avaliação é de que os resultados da aérea foram bons, em meio a um cenário de forte retração da demanda.
Os analistas também acreditam numa melhora de cenário no Brasil mais adiante, conforme avancem as taxas de imunização. A percepção é de que “tanto a Gol quanto sua principal rival doméstica parecem preparadas para se beneficiar do crescimento da demanda.”