A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu parecer na noite desta segunda-feira recomendando a aprovação da fusão entre Localiza e Unidas mediante remédios, conforme antecipou o Broadcast. Segundo o documento, o ato de concentração “gera riscos relevantes para o ambiente competitivo no mercado de locação de veículos (RAC)”, principal negócio da Localiza.
Agora, a compra da Unidas (BOV:LCAM3) pela Localiza (BOV:RENT3) segue para ser avaliada pelo Tribunal do Cade, com prazo até os primeiros dias de janeiro de 2022.
De acordo com investigações da própria autarquia, a união entre Localiza e Unidas poderia resultar em uma concentração de mercado, no RAC, de aproximadamente 70%. Conforme o parecer, os mercados afetados pela operação são, além do RAC, gestão e terceirização de frotas (GTF) e venda de veículos usados no atacado e varejo (seminovos). “A presente operação acarreta sobreposições horizontais em todos os mercados indicados.”
No mercado de RAC, a análise demonstrou a existência de barreiras de entrada em todo o território nacional e, caso novos players entrem no segmento, isso não seria suficiente para contestar um eventual exercício de poder de mercado por parte das requerentes. “O mercado pós-operação seria altamente concentrado, contaria com apenas um outro concorrente com atuação nacional (Movida) e a franja, composta por players regionais e locais, e não seria capaz de rivalizar efetivamente com as locadoras nacionais.”
Sobre o poder de portfólio de marcas, verificou-se que as requerentes passarão a deter controle da oferta de marcas fortes de RAC (Localiza, Unidas e as internacionais da Vanguard, Enterprise, National e Alamo). “A oferta de todas essas marcas por um player tão relevante no mercado de RAC tem o potencial de gerar uma falsa ilusão para os clientes de que eles estariam comparando preços de concorrentes, quando, na verdade, trata-se de marcas gerenciadas por um mesmo agente”, diz o parecer.
O documento concluiu que o poder de portfólio a ser detido pela empresa resultante da operação suscita preocupações concorrenciais na oferta de aluguel de carros por meio de plataformas do setor de viagens e turismo. Também concluiu-se que o acordo de aliança entre Localiza e Vanguard restringe a possibilidade de entrada do grupo no mercado brasileiro, reduzindo a concorrência potencial, “o que aumenta ainda mais as preocupações concorrenciais advindas da presente operação.”
Já em GTF, a SG entendeu que não é provável o exercício de poder de mercado pelas requerentes. A Unidas é o maior player de gestão de frotas do País.
Em relação a um eventual aumento de poder de compra junto às montadoras e ao acesso das requerentes a uma política de descontos que garantiria significativa vantagem sobre as concorrentes em RAC e GTF, a análise foi “inconclusiva”, não sendo possível definir com clareza a probabilidade de ocorrer.
A partir de agora, as requerentes devem analisar a recomendação de remédios para mitigar os efeitos da operação. A SG recomenda celebração de Acordo em Controle de Concentrações (ACC), com remédios estruturais e comportamentais, o que deve ser analisado pelo Tribunal do Cade.
VISÃO DO MERCADO
Credit Suisse
O parecer da Superintendência do Cade sobre a proposta de fusão entre Localiza e Unidas foi melhor do que o esperado, na opinião do Credit Suisse. Segundo o banco, as medidas a serem adotadas, também conhecidas como “remédios”, podem facilitar a aprovação do negócio pelo Tribunal da autarquia. Para o Credit, os remédios sugeridos “são menos severos do que consideramos em nossa avaliação”.
Informações Broadcast