A AES Brasil, em parceria com a Fohat Corporation, finalizou um projeto pioneiro de balcão organizado em blockchain para a compra e venda de energia, num ambiente digital, com a existência de uma contraparte central, que garante a custódia e a liquidação dos contratos negociados. O blockchain é uma tecnologia que facilita o processo de registro de transações e o rastreamento de ativos em redes, muito usado para negociação de criptomoedas.
A plataforma, que ainda não está disponível comercialmente, teve início de desenvolvimento em 2019 e recebeu investimento de R$ 3,4 milhões, no âmbito do programa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realiza trading online e oferece integração com outras soluções externas para a comercialização de contratos de energia e certificados de energia renovável (IREC), no mesmo ambiente com blockchain.
A iniciativa pela AES Brasil (BOV:AESB3) acontece num momento em que se discute uma remodelação do setor. O Projeto de Lei (PL) 414/2021, que altera o marco regulatório do setor elétrico, já foi aprovado pelo Senado, e está em tramitação na Câmara dos Deputados, dará a possibilidade de abertura total do mercado livre de energia, facilitando a migração de consumidores para compra e venda de energia. O PL permite ainda a portabilidade da conta de luz, semelhante ao que acontece no setor de telefonia, onde o consumidor pode escolher sua operadora.
A plataforma desenvolvida pela AES Brasil e a Fohat atua basicamente em três frentes, sendo uma a conexão via usina virtual (Virtual Power Plants, em inglês) à mesa de comercialização, na compra de certificados de IREC em um ambiente 100% digital e na infraestrutura para a criação do primeiro balcão organizado com blockchain.
“Foi pensado uma infraestrutura escalável a um custo acessível. Ao mesmo tempo, foi percebido o default nos contratos bilaterais e como trazer segurança e liquidez para o trading. As infraestruturas hoje não são tão democráticas assim. Pensando nisso, foi feito um projeto de P&D para desenvolver a infraestrutura”, explicou o presidente da Fohat Corporation, Igor Ferreira, em entrevista exclusiva ao Broadcast Energia.
Segundo ele, trazer toda a infraestrutura da B3, bolsa brasileira, que possui uma plataforma de energia, seria um canhão para um setor que ainda está passando por digitalização no processo. “Trazer a infraestrutura da B3 fica muito caro, por isso o pessoal não utiliza tanto. Uma premissa que o projeto adotou foi que todas as empresas podem participar da infraestrutura”.
Para a gerente de P&D e Inovação da AES Brasil, Julia Rodrigues, a empresa começou a estudar melhor a tecnologia blockchain em 2017 e 2018 para incorporar ao portfólio. “Chegamos a Fohat pela tecnologia para explorar esse universo de blockchain. Essa autenticação centralizada e verificação de contratos seria um ganho para o setor”.
De acordo com a executiva, que também falou com exclusividade ao Broadcast Energia, a AES Brasil identificou uma oportunidade na forma como o mercado livre opera hoje. “O setor está em abertura e existe o plano para que consumidores com menor demanda de energia possam participar, democratizando o mercado livre. Com isso, torna-se necessário a organização desse mercado com a contraparte”, afirmou Rodrigues.
A gerente de P&D da AES Brasil explicou também que a companhia nunca quis ou buscou ser a empresa que sozinha colocaria isso no mercado, já que é um projeto de P&D da Aneel e o objetivo é o que essa plataforma poderia agregar para o setor elétrico.
“Nem é muito a nossa prerrogativa do que irá para o mercado. Esse projeto é para trazer soluções e segurança para o mercado de energia. O objetivo é tentar atender as empresas”, diz o analista sênior de P&D e Inovação e gerente do projeto por parte da AES Brasil, Mathias Ludiwing.
O presidente da Fohat disse que a plataforma está pronta, mas que ainda não existe nenhum parceiro que vai operar, uma vez que o objetivo é democratizar o acesso, podendo ter uma ou mais empresa engajada nisso.
“A tecnologia está pronta para ser levada a mercado, a tecnologia é uma decisão estratégica de qual tecnologia levar a mercado. Não criamos uma empresa para competir com a BBCE, de taxas mais baratas. Se olharmos os mercados mais liberalizados, existem diferentes meios”, analisou Ludiwing.
Dentro da plataforma, além da compra e venda de energia, também existe o backoffice da toda a operação. Assim como qualquer sistema, quem fará a gestão das informações será o próprio usuário, por meio de login e senha.
Indagada sobre se o projeto poderia sair do P&D e ganhar uma escala maior, Rodrigues explicou que o objetivo é desenvolver algo replicável a mercado, com mais funcionalidades. “Isso é uma decisão mais estratégica, mas vendo valor nesse projeto de P&D, é possível que tenha novos investimentos para suportar esse apoio no produto”.
A AES Brasil pretende divulgar os resultados do 3T21 no dia 03 de novembro.
Informações Broadcast