O Bradesco registrou lucro recorrente de R$ 4,5 bilhões no segundo trimestre de 2023, uma queda de 35,8% na comparação anual.
O número, contudo, veio acima do esperado, já que o consenso Refinitiv previa lucro líquido de R$ 3,596 bilhões no período.
Comparando com o primeiro trimestre de 2023, o lucro recorrente do Bradesco cresceu 5,6%.
O retorno sobre patrimônio (ROAE, na sigla em inglês) do banco foi de 11,1%. Houve uma melhora de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas o indicador segue distante dos 18,1% registrados um ano antes.
A margem financeira do banco totalizou R$ 16,6 bilhões, um crescimento de 1,2% em relação ao mesmo período de 2022. Já em relação ao primeiro trimestre, houve uma queda 0,6%.
A margem com clientes do Bradesco recuou 1,8% de um trimestre para o outro e ficou em R$ 16,65 bilhões. A margem com o mercado ficou negativa em R$ 96 milhões, apresentando uma melhora em relação ao saldo negativo de R$ 312 milhões do primeiro trimestre.
A receita com prestação de serviços caiu 2,5%, em bases anuais, para R$ 8,8 bilhões. Na comparação com os três primeiros meses do ano, cresceu 0,1%.
As provisões do banco para empréstimos inadimplentes (PDD) no período ficaram em R$ 10,32 bilhões. Assim, cresceram 8,4% em relação ao primeiro trimestre e 94,2% acima do valor provisionado um ano antes.
De acordo com o Bradesco, as maiores despesas com PDD continuam pressionadas pelas condições do cenário de endividamento, em especial das micro e pequenas empresas.
“As novas safras já demostram melhoras importantes na qualidade, em resposta às concessões mais restritivas nestes segmentos”, diz o Bradesco.
A inadimplência para empréstimos com mais de 90 dias de atraso ficou em 5,9%, ante 5,1% registrada no primeiro trimestre. Já o índice de atrasos de 15 a 90 dias registrou uma leve melhora no mesmo intervalo de tempo, passando de 4,6% para 4,4%.
Segundo o Bradesco, a inadimplência acima de 90 dias já começou a demonstrar sinais de desaceleração no ritmo de crescimento.
Sem citar nominalmente a Americanas, o banco explicou que o crescimento do índice em grandes empresas, de 1,3% para 1,9%, “está relacionado a um cliente específico 100% provisionado em dezembro de 2022”. Desconsiderando esta operação o índice melhoraria 0,2 p.p.
Em junho de 2023, a provisão desse cliente foi realocada de provisão complementar para provisão específica.
O índice de cobertura do banco caiu de 182,4% para 163,7%.
“Observamos melhora no índice de inadimplência nas novas safras, contudo, a taxa média líquida permanece pressionada pelo estoque”, informou o Bradesco.
A carteira de crédito do Bradesco terminou o segundo trimestre em R$ 868,69 bilhões, um crescimento de 1,6% na comparação com o mesmo período no ano passado. A expansão ocorreu, principalmente, em produtos com garantias, que continuam ganhando participação no mix de produção.
Em relação ao primeiro trimestre, porém, houve uma redução de 1,2%, “refletindo o reposicionamento da política de crédito voltada para modalidades de menor risco”, disse o banco.
O Bradesco também informou que distribuiu R$ 2,9 bilhões em juros sobre capital próprio (JCP) no trimestre.
Banco vê menor crescimento de crédito
Junto com a divulgação de resultados, o Bradesco revisou para baixo suas projeções para o ano de 2023. Com um crescimento de 1,6% na carteira de crédito acumulado no primeiro semestre, o banco prevê uma expansão de 1% a 5% no ano cheio em relação a 2022. Antes, o guidance era de crescimento entre 6,5% e 9,5%.
A previsão de crescimento de margem financeira total também foi revisada, de expansão de 7% a 11%, para crescimento de 2% a 6%.
Por outro lado, o Bradesco agora prevê uma ampliação menor das despesas operacionais, entre 7% e 11%. Antes da revisão, esse guidance estava entre 9% e 13%.
As expectativas de crescimento de PDD foram mantidas para 2023, entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões. Também não houve mudança na previsão de crescimento de receitas com prestação de serviços, entre 2% e 6%.
Os resultados da Bradesco (BOV:BBDC3) (BOV:BBDC4) referente suas operações do segundo trimestre de 2023 foram divulgados no dia 03/08/2023.
Teleconferência
Em teleconferência com jornalistas sobre os resultados do Bradesco no segundo trimestre de 2023, o CEO do banco, Octavio de Lazari, afirma que ainda é precipitado dizer que a inadimplência chegou ao seu pico, ainda que tenha havido desaceleração no período.
“É difícil, e acho que até por prudência, a gente dizer que a inadimplência atingiu o pico. A gente não deveria falar, mas estamos bem próximos disso ou já atingimos esse pico. E certamente após esse pico, a tendência que a gente tem é de uma redução nos índices de inadimplência”, afirmou.
A inadimplência para empréstimos com mais de 90 dias de atraso ficou em 5,9%, ante 5,1% registrada no primeiro trimestre. Já o índice de atrasos de 15 a 90 dias registrou uma leve melhora no mesmo intervalo de tempo, passando de 4,6% para 4,4%.
“Esse índice, ele se mantém um pouco mais alto por conta de uma originação menor de crédito”, destacou Lazari. A carteira de crédito do Bradesco terminou o segundo trimestre em R$ 868,69 bilhões, um redução de 1,2% em relação aos três primeiros meses do ano, refletindo o reposicionamento da política de crédito voltada para modalidades de menor risco.
“O segundo semestre tem bons sinalizadores, a própria redução dos juros pelo Banco Central em meio ponto percentual traz um novo ânimo. Já percebemos no mês de julho uma maior disposição das empresas em tomar crédito”, diz o CEO.
Junto com a divulgação de resultados, o Bradesco revisou para baixo suas projeções para o ano de 2023. Com um crescimento de 1,6% na carteira de crédito acumulado no primeiro semestre, o banco prevê uma expansão de 1% a 5% no ano cheio em relação a 2022. Antes, o guidance era de crescimento entre 6,5% e 9,5%.
“Se a gente imaginar o meio do guidance, que é 3%, ele nos parece bastante razoável, por uma série de motivos. Primeiro porque a gente já vem observando um crescimento da tomada de crédito nas produções de crédito em julho. Temos pipeline robusto para crescimento de crédito”, afirmou Lazari.
Segundo o executivo, a redução da taxa de juros ainda que pequena, comparando com a Selic total, gera um novo ânimo nos agentes econômicos.
Para a margem com mercado, que segue negativa, mas melhorou no segundo trimestre, Lazari prevê um inversão de sinal para o positivo na segunda metade do ano.
- Recuperação de rentabilidade será gradual
Ainda na teleconferência, o CEO do Bradesco afirmou que a volta do retorno sobre patrimônio (ROE) ao patamar histórico será gradual. No segundo trimestre, a rentabilidade do banco foi de 11,1%. Houve uma melhora de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, mas o indicador segue distante dos 18,1% registrados um ano antes.
“O nosso compromisso é, a cada trimestre, entregar o melhor resultado, com o melhor ROE. Mas, por uma questão de cautela, dado o cenário todo, entendemos que o retorno será gradual”, afirmou Lazari.
VISÃO DO MERCADO
Credit Suisse
Para o Credit Suisse, os números do Bradesco no segundo trimestre reafirmam a tese de um ambiente fraco para o crescimento de receitas. Os analistas observam melhora na qualidade dos ativos, mas os indicadores de inadimplência ainda apontam para uma continuidade da restrição de crédito, o que deve impactar as margens financeiras por mais tempo.
Com base nos números do trimestre passado, o Credit não vê tendência de crescimento de lucro acima dos R$ 25,3 bilhões previstos pelo mercado para o Bradesco em 2024. Assim, o banco negociaria a múltiplos acima dos seus pares.
Credit Suisse mantém recomendação neutra com preço-alvo de R$ 18,00…
Genial Investimentos
Na visão da Genial Investimentos, o Bradesco foi “salvo pelo seguro” no segundo trimestre de 2023. A vertical apresentou um lucro de R$ 2,4 bilhões, com uma robusta expansão trimestral e anual, ROE de 24,5% e revisão positiva no guidance.
Contudo, os analistas observam que trimestre foi marcado por resultados fracos em outras linhas operacionais, com a carteira de crédito contraindo na comparação trimestral e anual. Além disso, a receita líquida de juros teve queda trimestral e fraca expansão anual. Na visão da Genial, a provisão para crédito do banco ainda segue bem elevada.
“Na nossa interpretação, o novo guidance reflete uma dificuldade do Bradesco em alcançar uma rápida recuperação de rentabilidade do que inicialmente projetávamos, com o ROE de 18% provavelmente somente em 2025″, dizem os analistas da casa.
A partir das novas projeções do banco, a Genial calcula que o lucro do Bradesco para o ano deve ficar abaixo de R$ 20 bilhões, com uma queda provavelmente superior a 4% (ano a ano), além de um ROE fraco frente ao histórico da empresa, em um nível próximo a 12-13%.
Itaú BBA
O Itaú BBA avalia que o segundo trimestre do Bradesco foi fraco e prevê uma recuperação lenta para o ROE da companhia, que ficou em 11,1% , “ainda muito abaixo do custo de capital”.
“O lucro líquido foi ligeiramente melhor que o esperado, mas a qualidade foi ruim em nossa visão”, afirmam os analistas do BBA. Eles avaliam que o índice de cobertura do banco caiu de forma relevante em meio a uma deterioração de crédito.
A casa destacou a revisão do guidance do banco e acredita que o Bradesco vai ficar na parte mais baixa das projeções em margem financeira. Com isso, o ROE permaneceria entre 10% e 11% nos próximos dois trimestres, provocando um carrego negativo para 2024.
Morgan Stanley
O Morgan Stanley tomou como base o resultado operacional do Bradesco no período, de R$ 4,990 bilhões, dizendo que o número veio 11% abaixo do esperado. O banco observa que a linha do balanço foi impactada por um crescimento nas provisões para perdas com empréstimos inadimplentes, para cobrir, sobretudo, créditos mais antigos e deteriorados.
Além disso, a margem financeira do banco foi fraca, já que o Bradesco tornou a restrição de crédito mais restrita para lidar com o problema da inadimplência. “Dito isso, os itens que vão guiar o futuro do Bradesco parecem promissores”, afirmam os analistas do banco, destacando a desaceleração na inadimplência do banco.
O índice de empréstimos com atraso acima de 90 dias ficou em 5,9% – continuou crescendo, mas em ritmo menor. “Suspeitamos que os índices de inadimplência chegaram o pico e vão começar a cair no terceiro trimestre”, diz a análise do Morgan.
O banco também destacou o melhor desempenho da margem financeira com o mercado, que continua no negativo, mas deve inverter o sinal já no terceiro trimestre. Os analistas explicam que o item é importante para a normalização do retorno sobre patrimônio (ROE) do banco, que segue na casa dos 11%.
“As despesas do banco continuam entregando boa performance, mostrando que a alavancagem operacional deve melhorar assim que as receitas se recuperarem”, dizem os analistas.
O Morgan Stanley manteve recomendação overweight para Bradesco e preço-alvo de US$ 5,10 para seus ADR’s, os ativos do banco negociados na Bolsa de Nova York.
XP Investimentos
A equipe da XP avalia que as ações do Bradesco se valorizaram recentemente, apostando na melhoria dos resultados no futuro. “Acreditamos numa curva de melhoria, mas vemos o ponto de inflexão um pouco mais distante”, afirmam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre. Eles explicam que a elevada inadimplência e o baixo crescimento da carteira do banco se traduzem em baixos níveis de rentabilidade.