O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira reduzir a taxa básica de juros, Selic, em 50 pontos-base, para 12,75% ao ano.
No comunicado, o Copom esclareceu que a decisão foi unânime. A autoridade monetária apresentou projeções mais altas para a inflação fechada em 2023, 2024 e 2025. Os números passaram de 4,9%, 3,4% e 3,0% para 5,0%, 3,5% e 3,1%, respectivamente.
Além disso, o comunicado trouxe uma nova preocupação: a política fiscal. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, diz um trecho do documento.
A decisão desta noite correspondeu à expectativa da maioria dos 21 analistas de mercado consultados pela Mover para o TC Consenso, que esperava um corte de 0,50 ponto percentual.
Copom avalia que novos cortes de 0,50 pontos-base são apropriados para processo desinflacionário
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou no comunicado divulgado nesta quarta-feira que manterá a magnitude de corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do colegiado, e que este é o ritmo adequado para o processo desinflacionário no país.
Há pouco, a autoridade monetária anunciou a segunda redução consecutiva de 50 pontos-base na meta da Selic, levando a taxa básica de juros brasileira para 12,75% ao ano.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, antevêem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz um trecho do comunicado.
A primeira leitura é de que, ao trazer novos fatores de incerteza ao seu cenário de referência, o Copom não prevê acelerar os cortes, por exemplo, para 75 pontos-base, como chegou a ser cogitado por agentes de mercado nos últimos dias.
Segundo o documento, a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo – ou seja, até onde o BC poderá cortar a taxa Selic –, dependerá da evolução da dinâmica de componentes da inflação mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação de maior prazo, do hiato do produto e do balanço de riscos.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, disse o Copom.
A autoridade elevou sua projeção para a inflação deste ano para 5,0%, ante 4,9% previstos na reunião de agosto, e também elevou a estimativa para 2024 em 0,1 ponto percentual, a 3,5%; para 2025, a nova projeção é de 3,1%, ante 3,0%.
No caso da inflação para preços administrados, a previsão é de 10,5% em 2023, ante 9,4% em agosto; de 4,5% para 2024, ante 4,6% estimados em agosto; e de 3,6% para 2025, ante 3,5% no mês passado.
Na decisão desta noite, o Copom também não realizou mudanças nos fatores altistas e baixistas para a inflação que compõem seu balanço de riscos.
No cenário externo, o Copom enxergou o ambiente como “mais incerto”, ante somente “incerto” em agosto, diante da continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de preços ainda elevados e de um mercado de trabalho resiliente em diversos países.
O Copom também citou, nominalmente, a perspectiva de menor crescimento da atividade econômica chinesa, além da elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos.
REAÇÃO DO MERCADO
Órama
Para o economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, a decisão explícita no comunicado foi correta, por reforçar o compromisso da autoridade no combate à inflação.
“Não acredito que seja o momento de deixar a porta aberta com sinalizações de aceleração do ritmo de cortes no fim do ano. A inflação demora a ser combatida e deve continuar priorizada. A depender do andamento do cenário macroeconômico, ano que vem a pauta de cortes maiores pode voltar ao debate, mas, ao meu ver, por enquanto o BC tomou a decisão correta”, afirmou Espírito Santo à Mover há pouco.
A tese de redução da Selic em 75 pontos-base na reunião do Copom de dezembro ganhou força nos últimos dias entre agentes do mercado, após dados do setor de serviços de agosto mais fracos que o esperado. No entanto, alguns analistas acreditam que novos sinais inflacionários advindos do ambiente externo acabam minando essa hipótese.
Espírito Santo disse ainda que sentiu falta de menções no comunicado do BC à alta global do petróleo, que tem levantado preocupações acerca da inflação, e do impacto do fenômeno climático El Niño nas safras brasileiras, que deve gerar pressão sobre as commodities.
“Apesar de não ter categorizado questões que estão reverberando no momento, o primeiro parágrafo do comunicado deixa implícito ao mencionar a incerteza do cenário externo e a resiliência dos núcleos de inflação ainda elevados. Para mim, deveria ter trazido mais detalhes, mas foi um comunicado contundente”, concluiu.
Garde Asset
Em um comunicado contrastante com o emitido na última reunião, em agosto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), assumiu um tom cauteloso, na leitura de Luis Menon, economista da Garde Asset.
Menon acredita que o cenário externo mais desafiador contribuiu para a moderação maior do Comitê. No comunicado que anuncia a decisão de reduzir a taxa em 0,50%, levando a Selic a 12,75%, foram acrescentadas menções à política monetária restritiva nos Estados Unidos e à perspectiva de menor crescimento na China, “ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes”
A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) de manter a taxa de juros nos Estados Unidos elevada, entre 5,25% e 5,50%, e a possibilidade de aumentar novamente no fim do ano tiram o ímpeto do Banco Central ser mais voluntarioso nos cortes, na visão do economista. “O setor externo jogou o Banco Central para um lado mais “hawkish do que na reunião anterior. A chance de aumentar a magnitude dos cortes no futuro próximo diminui com um cenário mais desafiador lá fora.”
No cenário doméstico, Menon enxerga que uma atividade mais resiliente do que o esperado pode ter contribuído para a moderação do Copom. “Para sinalizar um aumento da magnitude dos cortes no futuro, o Banco Central esperava três condições: a ancoragem da expectativa inflacionária, uma desaceleração da atividade econômica e a melhora da inflação corrente de serviços. Apenas uma aconteceu: de fato houve melhora na inflação nos serviços, mas isso não altera o cenário todo”, comentou. Ele destacou também o PIB do segundo trimestre mais robusto do que o esperado como um fator de pressão sobre o Copom.
Por fim, o economista da Garde Asset ressaltou que outros fatores de risco internos foram acrescentados novamente ao comunicado, como a parte fiscal, que estava ausente no pronunciamento anterior. “O Copom se mostrava mais seguro com a parte fiscal em agosto, mas agora coloca o cumprimento da meta primária como fator importante para ancorar a expectativa”, afirmou.
XP
“Decisão dentro do esperado. Chamou a atenção no comunicado, em primeiro lugar, no cenário internacional que o Comitê notou o aumento das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China. “Estes fatores exigem maior atenção por parte dos países emergentes”, disse Rodolfo Margato, economista da XP.
No campo doméstico, o economista destacou o fato do comunicado ter notado a maior resiliência da atividade econômica, mas que trabalha com desaceleração nos próximos trimestres, o que combina com as projeções da XP. As projeções de inflação dão um sinal mais dawvish, porque vieram abaixo do esperado. “Mas, na nossa avaliação, isso foi compensado por um parágrafo incluído falando sobre fiscal, especificamente destacando a importância do cumprimento das metas fiscais. Esse é um elemento mais hawkish”, completa.
‘Temos uma avaliação neutra para mais dura, devido ao parágrafo sobre a necessidade de cumprimentos das metas fiscais”, conclui. A XP mantém estimativa de 11,75% para a Selic em 2023 e 10% em 2024.