O pico de investimentos da Telefônica Brasil/Vivo pode até ter ficado para trás, depois de o capex alcançar R$ 9,5 bilhões feitos em 2022. Mas isso não quer dizer que a empresa decidiu pisar no freio e desacelerar sua expansão. Após a integração de clientes da Oi Móvel e quitar pagamentos referentes à compra de frequência 5G, a Vivo mira na ampliação de sua rede de fibra e quer chegar em localidades onde há pouca ou nenhuma cobertura de rede móvel.
“Tivemos, sim, eventos excepcionais no ano passado e que não se repetiram este ano, por isso a gente dá um target de capex mais baixo. [Mas] Isso não tira a nossa obrigação de continuar crescendo”, afirmou Christian Gebara, CEO da companhia, em entrevista ao Por Dentro dos Resultados, do InfoMoney. “Temos um interesse enorme de chegar em cobertura onde ainda não chegamos, tanto com móvel como com fibra”.
Nos nove primeiros meses de 2023, a Vivo (BOV:VIVT3) fez R$ 6,7 bilhões em investimentos, 5,3% menos que no mesmo período em 2022. A companhia projeta capex abaixo de R$ 9 bilhões para este ano. “Segue sendo um capex elevado. Já dá uma tendência de redução importante, comparando com outras empresas mundiais, e acreditamos que vamos manter, talvez, esses níveis nos próximos anos”.
Gebara reafirmou a meta da Vivo de fazer com que a rede de FTTH (fibra) chegue a 29 milhões de domicílios até o ano que vem — ao final do terceiro trimestre, a companhia tinha 25,1 milhões de casas passadas e 6 milhões de casas conectadas.
“Nós vamos construir mais [rede], mas a maior parte já foi construída”, afirma o CEO, explicando que o os investimentos em fibra, daqui para frente, estarão mais associados à expansão da base de clientes, e não à construção de infraestrutura.
No segmento móvel, a companhia tem sido desafiada a gerenciar os investimentos em um contexto de transição tecnológica. A Vivo precisa cumprir com as obrigações relacionadas às frequências que adquiriu nos leilões 5G, o que demanda mais investimento nessa tecnologia. Ao mesmo tempo, desacelera os recursos voltados ao 4G e seus antecessores.
“O 2G e o 3G são duas tecnologias que estamos pensando, inclusive, em ir desativando pouco a pouco. Principalmente o 2G, porque já não tem mais demanda”, afirma Gebara.
O CEO, que atualmente também é presidente da Telebrasil, a associação brasileira de telecomunicações, voltou a falar da urgência que os investimentos em aumento de capacidade de rede, para lidar com o crescente tráfego de dados, sejam divididos com as big techs, principais responsáveis pela expansão desse fluxo.
“Se a gente precisar ficar investindo capex em aumento da capacidade na rede já existente, sobrará pouco para colocar em nova rede, ou seja, na cobertura de novas cidades ou de novas áreas ainda não cobertas”, afirma. “A inclusão só vai ser possível se tivermos mais agentes se responsabilizando pelos investimentos”.
Segundo o executivo, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) tem se mostrado aberta ao diálogo sobre o tema ao colher insumos para a abertura de uma consulta pública. “Entendo, sim, que esse tema tem cada vez mais ressonância, na Anatel, no governo, na sociedade”.
Gebara também defendeu acordos de compartilhamento de rede entre as operadoras (RAN sharing) como forma de que a cobertura chegue a mais lugares e classificou a iniciativa como “fundamental para o crescimento da digitalização do Brasil”. A Vivo faz RAN sharing com a TIM no 4G em 716 cidades e, com isso, consegue economizar capex enquanto aumenta sua cobertura.
“O dinheiro que eu não preciso investir onde tem o RAN sharing eu invisto em outras cidades e assim você aumenta a cobertura de redes no Brasil”, afirma. “Estamos confiantes de que vamos seguir com esse modelo”.