A Gol anunciou na última quinta-feira (25) que acionou o mecanismo Chapter 11 nos EUA, similar à recuperação judicial do Brasil. Embora a notícia não tenha sido surpresa para o mercado, investidores se questionam sobre o que pode acontecer agora que o pedido de reestruturação da dívida da aérea foi confirmado. Afinal, como fica a situação do investidor que tem ações da empresa, no Brasil ou lá fora?

Em meio às incertezas, especialistas respondem o que é possível esperar para as ações, o que pode acontecer com os papéis negociados no Brasil, e o quais os caminhos que se colocam para o acionista minoritário neste momento. Veja respostas para as principais dúvidas.

As ações da GOL vão sair do Ibovespa?

Não, ao menos por enquanto. A deslistagem das ações da bolsa de valores é opcional para as empresas quando entram em processo de reestruturação de dívida mediada pala Justiça, diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos. A Gol (BOV:GOLL4) optou por não deslistar, e como o pedido de recuperação judicial é nos Estados Unidos, a B3 não é obrigada a retirar do papel do Ibovespa.

Quais são os direitos dos minoritários?

“Como sócio da empresa, tem que arcar com os ônus e com os bônus”, diz Meira. O pedido de recuperação judicial, nos EUA ou no Brasil, não confere nenhum direito aos acionistas, sejam eles minoritários ou majoritários. Somente no caso de falência, se a empresa não conseguir reestruturar suas dívidas, haverá uma fila de prioridade para os pagamentos.

Acionistas da Gol no exterior, no entanto, podem ser preteridos em relação aos credores. Por conta de uma característica do processo de recuperação judicial americano chamado Absolute Priority Rule (regra de prioridade absoluta, em traudução livre), credores ganham preferência ante os investidores.

Como ficam as ações?

Em um primeiro momento, as ações da Gol devem passar por forte desvalorização, no exterior e no Brasil. Espera-se uma debandada de investidores dos papéis, como já está começou a ser observado nesta sexta-feira (26), posterior ao aviso de pedido de recuperação judicial. As ações caíram mais de 12% no Ibovespa.

Os analistas acreditam que a liquidez das ações deverá diminuir com o passar do tempo, os preços devem cair bastante e o risco aumentar consideravelmente.

“Daqui para a frente vemos forte volatilidade para as ações da Gol. Não temos recomendação, mas uma visão estruturalmente negativa para a ação”, diz Luan Alves, analista-chefe da VG Research.

Melhor vender ou esperar?

De modo geral, a recomendação dos principais bancos é de venda das ações brasileiras (GOLL3 e GOLL4) e dos recibos (GOL) listados nos Estados Unidos. O Goldman Sachs decidiu parar de cobrir as ações da empresa, enquanto o Itaú BBA decidiu colocar a recomendação sob revisão.

Muitos bancos já tinham recomendação de venda para as ações da Gol. Somente em janeiro, até o dia 26, as ações preferenciais perderam mais de 30% do valor.

Meira destaca que ações são, em geral, investimentos de longo prazo, e recomenda esperar as próximas etapas do plano ao invés de realizar o prejuízo agora. A situação da Gol não é inédita entre companhias aéreas. Em 2020, a Latam entrou com o mesmo pedido no Tribunal dos EUA. Antes dela, outras companhias foram Delta e United Airlines.

Quais são os próximos passos para a Gol?

A Gol irá apresentar um plano de restruturação de dívida, com detalhes sobre pagamentos e financiamento, e cabe aos credores decidirem se aprovam ou não – é necessário aval de mais de dois terços. Se aprovado, o plano passará em seguida pela Justiça para validação, e a empresa terá um prazo para colocá-lo em prática.

Empresa aguarda aprovação de financiamento e pode pedir reconhecimento do processo no Brasil

“É um processo muito longo e é importante acompanhar. É muito cedo [para ter certezas] sobre a situação da Gol”, diz o sócio da Valor Investimentos.

No Brasil, um caminho provável é que a companhia peça também o reconhecimento do processo junto à lei brasileira para evitar processos judiciais dos credores locais.

Informações Infomoney