A produção industrial brasileira recuou 1,6% em janeiro ante dezembro, interrompendo assim um período de cinco meses sem queda, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com janeiro de 2023, houve avanço de 3,6%. Em 12 meses, a indústria acumula avanço de 0,4%.
A queda no mês foi mais forte que a esperada pelo consenso LSEG de analistas, que previa queda de 1,3% no mês. A projeção para a variação anual era de alta de 2,8%.
Duas das quatro grandes categorias econômicas e 6 dos 25 ramos industriais pesquisados pelo IBGE tiveram redução na produção em janeiro.
“Mesmo com o setor industrial marcando uma variação negativa mais intensa desde abril de 2021, quando assinalou perda de 1,9%, verifica-se perfil disseminado de taxas positivas, alcançando 18 dos 25 ramos industriais pesquisados”, explicou em nota o gerente da pesquisa, André Macedo.
Entre as atividades, as influências negativas mais importantes vieram das indústrias extrativas (-6,3%) e dos produtos alimentícios (-5,0%). A primeira interrompeu dois meses consecutivos de avanço na produção, período em que acumulou ganho de 6,7%. A segunda eliminou parte da expansão de 11,3% acumulada no período julho-dezembro de 2023.
Outras contribuições negativas relevantes sobre o total da indústria vieram de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,4%) e de produtos têxteis (-4,2%).
Entre as dezoito atividades que apontaram expansão na produção, produtos químicos (7,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (13,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (4,0%) e máquinas e equipamentos (6,4%) exerceram os principais impactos em janeiro de 2024.
Entre as grandes categorias econômicas, ainda na comparação com o mês imediatamente anterior, bens intermediários (-2,4%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-1,0%) assinalaram as taxas negativas do mês.
Apesar da queda mensal da indústria, economistas veem sinais de recuperação
Embora o indicador cheio da produção industrial de janeiro tenha mostrado uma queda mensal de 1,6%, interrompendo uma sequência de cinco meses sem dados negativos, os economistas avaliam que já era esperada uma retração no início do ano. Eles chamam a atenção para sinais de retomada que aparecem nos dados desagregados, uma vez que o comportamento da indústria continuou desigual entre os setores.
João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro, diz que essa heterogeneidade da indústria segue relevante, com alguns setores mostrando forte crescimento e outros apresentando quedas relevantes.
“Quando comparamos com o período pré-pandemia, isso fica evidente. A indústria como um todo está agora 0,8% abaixo desse nível, mas temos as indústrias extrativas operando 5,8% acima e a de transformação 2,0% abaixo”, compara.
Para o ano, a Kínitro espera resultado melhores, compatíveis com uma aceleração do crescimento da indústria em relação ao ano anterior. “A manutenção dos cortes de juros, a taxa de câmbio bem-comportada e as políticas de estímulo à infraestrutura são elementos que colaboram para essa perspectiva, a partir do afrouxamento das condições financeiras e creditícias no país ao longo do ano”, afirma Savignon.
Bens de capital
Rodolfo Margato, economista da XP, também vê sinais encorajadores em alguns segmentos, uma vez que os dados de janeiro mostraram uma dinâmica um pouco melhor da indústria de transformação como um todo.
“A queda do índice cheio decorreu em grande parte da contração da indústria extrativa. Vemos isso como um ponto e não como uma reversão de tendência e o cenário ainda é bastante favorável para as indústrias extrativas em 2024”, detalha, destacando tanto a extração de petróleo bruto, que vem ganhando participação na balança comercial e no PIB, como de minérios.
Já outras classes mostraram sinais de recuperação, ainda que incipientes, diz Margato. Ele cita como exemplo a categoria de bens de capital (máquinas e equipamentos). “Observamos a primeira alta nessa métrica depois de nove meses consecutivos de contração. Ainda é cedo para falar sobre o ritmo de retomada dessa categoria de bens de capital, mas é uma sinal encorajador”, reforça.
A XP projeta uma recuperação paulatina de bens de investimento no PIB ao longo do ano, com a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) crescendo 1,2% em 2024, após o tombo de 3% em 2023.
Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, observa que o resultado mensal da produção industrial superou a projeção, mas não muda a visão de que o setor seguirá em ritmo fraco no restante do ano.
Ela também destaca a alta de 5,2% do segmento de bens de capital, mas pondera que o setor ainda se encontra em patamar muito abaixo de 2022. “Esse resultado do mês reflete mais a volatilidade do índice do que uma tendência para o restante do ano”, avalia
Para ela, ainda que a queda dos juros traga algum alívio para a atividade econômica ao longo do ano, isso não será suficiente para fazer a indústria voltar a crescer. “Por isso, o setor não deve contribuir positivamente para o resultado do PIB de 2024. O que deve impulsionar o crescimento do PIB desse ano é o aumento das despesas do governo e das exportações”, afirma, Claudia, que projeta uma alta de 2,2% para o PIB em 2024.
Igor Cadilhac, do PicPay, é outro economista a destacar a discrepância entre os dados setoriais. Ele lembra que os principais impulsionadores da queda no mês foram a indústria extrativa (-6,4%) e os produtos alimentícios (-5%). Isso apesar do avanço da extração de petróleo e minério de ferro, além de uma maior demanda devido ao aumento da massa salarial e da inflação controlada no setor alimentício.
“Em resumo, esse resultado foi pontual e não indica a tendência para o ano, que segue com uma visão relativamente positiva. Devemos seguir observando crescimentos nas variações ano contra ano”, sugere..
Olhando à frente, Cadilhac cita entre as preocupações que colocam um viés de baixa para a indústria, a economia global tem menor crescimento, os juros altos e alto comprometimento de renda das famílias. “São ruins para consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito”, explica.
Do outro lado, o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria. “Projetamos uma variação de 1,2% para a produção industrial brasileira neste ano.”