Ibovespa cai 0,03%, pressionado por Itaú, piora do cenário fiscal, incertezas sobre política monetária e intervenção do BC no câmbio

O Ibovespa encerrou o pregão desta sexta-feira em leve queda, pressionado por papéis PN do Itaú, após governo elevar ao Congresso projeto de lei que propõe aumento de alguns impostos sobre a renda, incluindo um aumento de alíquota mais significativo sobre instituições financeiras.

O índice Bovespa fechou com queda de 0,03%, aos 136.004 pontos. O volume ficou em R$ 45,5 bilhões, acima da média de 50 pregões. Desde segunda-feira o Ibovespa acumulou um leve avanço de 0,29%, já no mês de agosto uma alta de 6,54%, sendo a maior alta mensal desde novembro de 2023.

Os juros futuros encerraram a sessão em alta de até 24 pontos-base, com as taxas de longo prazo voltando a operar acima dos 12%, com investidores exigindo mais prêmio e de certa forma pressionando o Banco Central a elevar a Selic no curto prazo.

O dólar à vista também fechou em alta de 0,24% a R$5,6363, após uma sessão com bastante oscilação diante de falas de autoridades monetárias, além de dois leilões promovidos pelo BC ao longo do dia. O índice Dólar DXY, que mede o desempenho da moeda norte-americana ante uma cesta de divisas, operava ao fim da tarde em alta de 0,34%, aos 101,71 pontos.

Déficits primário e nominal piores que o consenso para o mês de julho no setor público consolidado levantaram temores, entre investidores, quanto à trajetória da dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto. Investidores acompanharam, na sessão, falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento de corretora.

De acordo com o BC, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$21,3 bilhões, pior que o consenso, enquanto o déficit nominal – que leva em consideração despesas com juro – foi de R$101,5 bilhões. De acordo com Alberto Ramos, do Goldman Sachs, uma política fiscal claramente expansionária e a relutância em controlar os gastos severamente minam as metas fiscais.

Em julho, a dívida pública bruta do Brasil como proporção do PIB chegou a 78,5%, de 77,8% no mês anterior.

Posteriormente, em participação na Expert, Campos Neto disse que há um prêmio no mercado que “não é compatível” com a comunicação da autarquia e completou dizendo que “se e quando houver um ciclo de ajuste” nas taxas de juros, “esse ciclo será gradual”. As falas contribuíram, momentaneamente, para queda nos vértices curtos da curva de juros.

O presidente da autarquia ainda destacou que “tempo é importante” para entender o processo de desinflação, em meio a fatores de incerteza, como sinais de desaceleração nos Estados Unidos e na China.

Operadores também avaliam a divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os dados da PNAD, informando que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 6,8% nos três meses até julho, em linha com as expectativas do mercado e mostrando um leve recuo em relação ao dado anterior, reforçando que o mercado do trabalho no país segue resiliente.

As atenções também se voltaram para uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à uma rádio na Paraíba e voltou a fazer críticas ao atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dizendo que ele age como político, não como economista, e que o indicado à sucessão de Campos Neto no BC, Gabriel Galípolo, é “extraordinário”.

Lula afirmou que Galípolo é “extremamente competente” e que, se aprovado pelo Senado, e lhe disser que é necessário elevar a taxa de juros, tudo bem. Ao mesmo tempo, Lula disse que o atual patamar da taxa Selic, em 10,5% ao ano, não tem explicação.

Entre as ações que compõem o Ibovespa, as maiores detratoras do índice foram as PN do Itaú, as ON da Rede D’Or e as ON do Banco do Brasil, que recuaram 0,70%, 1,72% e 0,64%, na sequência.

Entre as maiores quedas percentuais do Ibovespa, destaque para as ON da Petz, da Magazine Luiza e da Azzas, que recuaram 5,81%, 5,66% e 3,39%, na sequência.

Na ponta positiva, destaque para as ON da CPFL, da Dexco e da Engie, que avançaram 3,74%, 3,01% e 2,31%, nesta ordem.

No mercado de commodities, os futuros do Brent reverteram os ganhos da manhã e operavam em queda de 2,49%, a US$76,89 por barril ao fim da sessão, com os investidores avaliando as expectativas de um aumento na oferta da Opep+ a partir de outubro, juntamente com as esperanças cada vez menores de um forte corte nas taxas de juros dos EUA no mês que vem, após dados de inflação nos EUA.

Os preços dos contratos futuros de minério de ferro caíram 0,53% na última madrugada em Dalian, pressionados pela retração persistente da demanda de curto prazo e pelo aumento dos estoques na China, mas em base semanal o minério para uma segunda alta consecutiva.

Os principais índices acionários de Wall Street fecharam a sessão em alta, após dados do PCE afastarem os temores em torno de uma possível recessão econômica nos Estados Unidos, e com operadores concentrando atenções, agora, aos dados da geração de postos de trabalho de agosto, mensurados pelo Payroll, na próxima sexta-feira.

Os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 encerraram em alta 0,55%, 1,01% e 1,13%, respectivamente. As Treasuries yields de dois e dez anos avançavam 2,7 pbs e 5,4 pbs, a 3,925% e 3,917%.

O índice de inflação medido de PCE e divulgado mais cedo, subiu 0,2% em julho, em linha com as expectativas, porém mostrando uma aceleração frente ao 0,1% registrado em junho. Na leitura anual, o PCE subiu 2,5%, uma alta em linha com o consenso. Já o núcleo do PCE, métrica favorita do Federal Reserve, avançou 0,2% em julho, na base mensal, e em linha com o consenso. Na base anual, o núcleo do PCE subiu 2,5%, ligeiramente abaixo do consenso, que previa alta de 2,6%.

Os mercados esboçam uma leve reação ao dado, visto que a inflação segue convergindo a meta de 2% do Federal Reserve, como já precificado, e alimenta a narrativa de um “soft landing’” nos EUA. Ainda assim, uma atividade econômica resiliente favorece, até o momento, tese de corte de 25 pontos-base pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em setembro.

A reação neutra se dá por conta de as atenções dos investidores estarem voltadas principalmente para os dados de mercado de trabalho, que serão divulgados ao longo da semana que vem, com o mandato de emprego do Federal Reserve concentrando atenção entre seus formuladores desde os indícios de alívio adicional na geração de postos de trabalho.

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   (Com informações da TC Mover e Momento B3)