Dezesseis anos após sua construção ter sido anunciada pelo presidente Lula, o antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), hoje Gaslub, vai iniciar a primeira operação comercial com o processamento de gás natural vindo do pré-sal no próximo dia 11. O projeto agora é uma versão que une a produção de gás natural e lubrificantes. Ao Broadcast, a diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Renata Baruzzi, informou que a nova data para que todo o projeto entre em operação é 2029.
A expectativa é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2006 colocou a pedra fundamental da obra, participe no dia 13 de uma cerimônia para marcar o início da operação. Nos corredores da empresa, também vem sendo comentado que a intenção da estatal é mudar novamente o nome do Polo, mas que a presidente, Magda Chambriard, ainda não havia batido o martelo.
No começo serão processados 10,5 milhões de metros cúbicos diários (m3/d) de gás natural, volume que sobe para 21 milhões quando o segundo trem da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) ficar pronto, o que deve ocorrer no próximo mês, segundo Baruzzi. O volume produzido vai ajudar a substituir importações da estatal para atender seus clientes, mas terá sobra para o mercado, garantiu a diretora. Desse total, 18 milhões de metros cúbicos por dia virão do pré-sal, e mais 3 milhões de m3/d do Terminal de Cabiúnas, também da Petrobras (BOV:PETR3) (BOV:PETR4), unidade que forneceu o gás para o comissionamento, uma etapa antes da operação comercial.
Afastada há 10 anos do setor de engenharia, a diretora foi convocada em junho pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, para acelerar as obras da estatal. Ela conta que para conseguir entregar a UPGN, o canteiro de obras trabalhou praticamente 24 horas por dia nos últimos meses. Ao todo, são 3.500 pessoas envolvidas. Quando todas as unidades estiverem sendo construídas, a expectativa é que esse número chegue a 10 mil trabalhadores.
“E sempre com muita conformidade, sem atropelar nada. Esse é um mantra nosso. Vamos fazer rápido, mas dentro da conformidade”, ressaltou.
Segundo Baruzzi, ainda não é possível estimar o valor total do Gaslub, já que terá que desfazer parte do que já foi construído. “Você imagina uma obra que está parada há 10 anos. O que eu vou ter que desfazer pra depois fazer, né? É mais do que qualquer valor que eu vá falar”, explicou.
Quando foi anunciado pelo presidente Lula no seu segundo mandato, o Comperj tinha previsão para entrar em operação em 2012. O complexo chegou a ser um dos símbolos da corrupção que originou a Operação Lava Jato na Petrobras em 2014. Ao ser lançado, o investimento girava em torno dos US$ 6 bilhões, valor que foi sendo escalonado até cerca de US$ 14 bilhões, apesar do projeto não ter saído do papel. Atualmente, a empresa não informa quanto já investiu ou pretende investir no Gaslub.
Inicialmente, o projeto foi idealizado com objetivo de atrair o setor petroquímico para Itaboraí, um município pobre do estado do Rio de Janeiro. Após interromper as obras por suspeitas de corrupção, o empreendimento ficou resumido à UPGN, e agora ganha uma nova configuração com unidades de produção de combustíveis e lubrificantes, além de duas térmicas que aguardam o leilão de reserva de capacidade do governo, sendo uma de 600 megawatts e outra de 1.200 megawatts.
Operação
Depois do comissionamento para fazer os últimos ajustes necessários e vistoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para a concessão da autorização, concedida ontem pela agência, a UPGN foi liberada para operar e vai processar o gás extraído no pré-sal, escoado pela Rota 3, um gasoduto de cerca de 355 quilômetros de extensão total, sendo 307 km referentes ao trecho marítimo e 48 km referentes ao trecho terrestre.
A obra da UPGN, interrompida pela primeira vez em 2014, foi retomada em 2020 por um consórcio formado pela chinesa Kerui e a brasileira Método, mas desentendimentos com a Petrobras levaram ao rompimento do contrato em julho de 2022, e a obra foi suspensa novamente. Em março do ano passado, com a nova gestão, a Petrobras assinou contrato com a empresa japonesa Toyo Setal, que concluiu a UPGN.
“Hoje a Petrobras atende o gás que ela vende com produção interna, Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), e eventualmente precisa se suprir com alguma coisa de importação. Então, a Petrobras compõe esse pool e entrega para os clientes. Quando o Rota 3 entrar, vai entrar também nesse pool de venda”, informou a diretora. “Como a Petrobras não importa os 21 milhões que a unidade vai processar, haverá adição de gás para o mercado”, explicou.
A UPGN é apenas parte do Gaslub, destaca Baruzzi. Outras licitações já estão na rua, como as unidades de produção de diesel, querosene de aviação (QAV) e lubrificantes. A nova configuração do empreendimento prevê unidades de Hidrocraqueamento Catalítico (HCC), de Hidrotratamento (HDT), de Desparafinação por Isomerização por Hidrogênio (HIDW), unidades auxiliares, utilidades e off-sites (extramuros). Uma biorrefinaria, porém, ainda está sendo estudada. Os planos são de produzir 12 mil barris por dia de óleos lubrificantes grupo II; 75 mil barris por dia de diesel S10 e 20 mil barris por dia de querosene de aviação de baixo teor de enxofre.
“As obras da parte de refino começam no segundo semestre de 2025”, informou Baruzzi, explicando que a unidade de biorrefino ainda não chegou à sua diretoria porque está sendo avaliada pelas áreas de negócio, “que são as áreas que realmente produzem, desenvolvem os projetos iniciais, e quando já tem alguma coisa um pouco mais firme eles passam para a gente construir”, informou Baruzzi, que além do Gaslub é responsável pela retomada da expansão da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.