🌶️ O mercado de leilões de imóveis no Brasil registrou uma explosão de crescimento no primeiro semestre de 2024, refletindo a pressão financeira enfrentada pelas famílias brasileiras. Dados recentes apontam que 44 mil propriedades foram arrematadas nesse período, mais do que o dobro do total dos dois anos anteriores somados — 9 mil imóveis em 2022 e 26 mil em 2023. O aumento vertiginoso é atribuído, principalmente, à incapacidade de muitos brasileiros de manter em dia os financiamentos imobiliários.
Em grandes cidades, os leilões despontam como uma alternativa dinâmica no setor imobiliário, atraindo interessados em busca de propriedades com descontos que chegam a ser significativos. A advogada Natália Roxo, especialista em direito imobiliário, destaca que o volume de imóveis em editais cresceu 80%, saltando de cerca de 200 imóveis por mês para até 1.000 atualmente. O processo é objetivo: após notificação e um prazo de 15 dias sem pagamento da dívida, o imóvel pode ser consolidado e levado a leilão em até 60 dias.
Por trás desses números, no entanto, há histórias de perda e frustração. A inadimplência relacionada a financiamentos, taxas de condomínio e impostos tem levado muitas famílias à perda de seus lares. O problema reflete uma crise mais ampla: o endividamento das famílias brasileiras atingiu níveis alarmantes, com cerca de 80% da população endividada, segundo Maria Paula Bertran, professora de Direito Econômico da USP.
Bertran ressalta que o alto índice de informalidade no mercado de trabalho, aliado às incertezas econômicas, torna essencial um planejamento financeiro rigoroso. “Compromissos financeiros devem estar sempre alinhados à realidade do orçamento familiar. A instabilidade econômica do país exige prudência”, afirma.
Enquanto os leilões representam uma oportunidade para quem busca imóveis a preços reduzidos, para muitos são o amargo desfecho de uma jornada marcada por dificuldades financeiras. Além do impacto direto sobre os devedores, a proliferação de leilões evidencia os desafios estruturais da economia brasileira e reforça a urgência de políticas que promovam a educação financeira e o alívio do endividamento das famílias.