MÍDIA: NY Times sinaliza o futuro
06 Maio 2009 - 7:21PM
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S�O PAULO, 6 de maio de 2009 - Thales Guaracy, diretor editorial de
An�lise e Opini�o, fala em seu artigo sobre o futuro da m�dia: O NY
Times sinaliza o futuro Com um preju�zo de 74,5 milh�es de d�lares
no primeiro trimestre do ano, o New York Times viu apenas
aprofundar-se com a recess�o americana a crise que amea�a a pr�pria
alma do neg�cio. O maior e melhor jornal americano sinaliza agora o
futuro - n�o por sua proverbial capacidade de an�lise, mas como
s�mbolo da transi��o das velhas m�dias para a era digital, em que �
mais f�cil come�ar o novo do que transformar o velho. Com uma queda
de 28,4% na receita publicit�ria em papel e 8% na receita de
internet este ano, e um preju�zo muito maior que os 335.000 d�lares
do primeiro trimestre do ano passado, o Times foi obrigado a cortar
custos e come�ou a conviver com os boatos de que pode ser vendido.
Respira gra�as � venda de parte de sua sede na Oitava Avenida por
225 milh�es de d�lares e ao empr�stimo de outros 250 milh�es do
empres�rio mexicano Carlos Slim, dono da Claro e Embratel no
Brasil. Uma legi�o de cr�ticos apontou como um erro estrat�gico do
Times a abertura de seu site ao p�blico, abrindo m�o de uma
receita. Entre eles est�o jornalistas da velha guarda, como o
heptagen�rio Gay Talese. 'Buscar a verdade custa caro, e isso n�o
deveria ser entregue de gra�a', defendeu, em entrevista ao jornal
Folha de S. Paulo. Por�m, nesta fase de transi��o, o Times vive o
mesmo dilema da maioria das empresas de m�dia do mundo. Tem de
competir com os portais, que possuem receita como provedores de
internet e oferecem informa��o percebida pelo usu�rio como
gratuita. Nesse ambiente, parece n�o haver vantagem competitiva em
um servi�o pago, ainda que reconhecidamente qualificado. Ao mesmo
tempo, o Times tem de sustentar seu neg�cio tradicional: a velha
opera��o do jornal, com o custo de mat�ria-prima (sobretudo papel e
tinta), impress�o, armazenagem, distribui��o, capta��o e
administra��o de assinaturas. Trata-se de um processo que hoje
parece extremamente oneroso se comparado ao virtual, no qual o
jornal pode ser atualizado o dia inteiro, � entregue no computador
pessoal a custo zero e nem suja a m�o do leitor. O neg�cio dos
antigos empreendedores sempre esteve garantido at� que a internet
atingisse um n�mero substancial de leitores, a ponto de come�ar a
substitui��o sistem�tica da leitura do jornal em papel pelo da
internet. Nos Estados Unidos, onde praticamente a popula��o inteira
tem acesso � rede, esse momento j� chegou. E tudo o que a maioria
dos jornais tem feito � procurar retardar o futuro, evitando
mergulhar nele de cabe�a, enquanto as m�s not�cias do dia a dia v�o
minando aos poucos seu neg�cio at� um ponto sem retorno. Mesmo
antes da recess�o, a imprensa americana e o Times em particular j�
vinham sofrendo com a r�pida dissemina��o da internet. A circula��o
paga dos jornais dos Estados Unidos caiu 7% no �ltimo quadrimestre
de 2008, enquanto a audi�ncia de websites de jornais vem crescendo
- o aumento foi de 10,5% no primeiro trimestre deste ano, de acordo
com o pr�prio Times. Entre os 25 principais peri�dicos americanos
de acordo com o levantamento do Audit Bureau of Circulation, todos
sofreram baixas na circula��o - exceto o The Wall Street Journal,
que cresceu 0,6%. Jornais centen�rios vem fechando suas portas,
como o Rocky Mountain News, do Colorado, o Cincinati Post, nascido
em 1881, e o Philadelphia Inquirer. Outros peri�dicos importantes,
como o San Francisco Chronicle, t�o ligado � cidade como o Estado
de S. Paulo ou a Folha de S. Paulo � capital paulista, com a
diferen�a de n�o possuir outros concorrentes locais, encontram-se
em estado falimentar. O problema dos jornais americanos na era
digital � que, mesmo com o prest�gio de seu conte�do, � mais
dif�cil transformar um neg�cio velho no novo do que come�ar outro
do zero. Ao converter seu conte�do digitalmente, os ve�culos
tradicionais de comunica��o passam a concorrer consigo mesmos - e
prejudicam a receita do neg�cio original, que passa a pesar no
or�amento, devido aos custos da imprensa convencional. Quando os
contatos publicit�rios saem a campo, sua primeira obriga��o n�o �
vender e levantar o novo neg�cio, mas salvar o velho, que arrisca a
sa�de financeira de todo o grupo. Ao mesmo tempo, a publicidade
encontrou na internet n�o apenas um canal alterativo para o an�ncio
tradicional, como outras formas de marketing e fideliza��o do
cliente que n�o dependem mais da forma��o de um p�blico cativo por
um ve�culo de imprensa. Ainda que um jornal ou revista possua
credibilidade, a agilidade do e-mail e outras vias digitais que
permitem �s empresas conhecer seus clientes e ter um acesso direto
a comunidades de interesse acelera a migra��o dos recursos para a
�rea digital. Para piorar, por ter que sustentar sua estrutura, os
antigos grupos de comunica��o n�o podem se beneficiar plenamente
das vantagens da informa��o virtual. Historicamente, a venda avulsa
de jornais e revistas, a chamada receita de circula��o, sempre
colaborou para para pagar a conta da impress�o e distribui��o. A
receita de publicidade, por sua vez, paga a conta da folha de
sal�rios e outras despesas inerentes ao trabalho jornal�stico, como
viagens. Na teoria, os jornais poderiam abrir m�o da receita de
assinatura de seu conte�do na internet, pois n�o precisariam mais
imprimir o jornal e distribui-lo de porta em porta, desde que
mergulhassem de cabe�a no futuro. Por�m, a decis�o de interromper a
produ��o f�sica de um jornal e cortar esse custo de uma hora para a
outra � uma mudan�a t�o radical - e t�o desapontadora para os
leitores mais fi�is do jornal impresso -, que a maioria das
empresas se encontra no meio do caminho entre o passado e o futuro,
o pior cen�rio poss�vel. Nos Estados Unidos, alguns ve�culos
tomaram a decis�o de abdicar por completo do passado para recome�ar
como neg�cios online. � o caso do Seattle Post-Intelligencer e
outras publica��es que encerraram a produ��o em papel para ficar
apenas na vers�o digital. A vantagem � livrar-se dos custos
operacionais do jornal impresso, mesmo correndo o risco de n�o
transferir todos os seus para o servi�o virtual. E implantar na
internet os mesmos crit�rios do jornalismo que trouxeram
credibilidade e interesse � publica��o original. Trata-se de uma
decis�o grave, pois implica n�o apenas na desmobiliza��o de toda a
opera��o convencional de impress�o e circula��o como numa dr�stica
reengenharia para redu��o de custos. Ao final, a empresa ter� um
neg�cio muito menor do que antes, apostando que poder� voltar a
crescer no futuro. E coloca-se imediatamente no enfrentamento da
realidade de ter que competir num novo ambiente e com uma nova
concorr�ncia - a come�ar pelos pr�prios portais, que oferecem
informa��o em tempo real, embora sem o mesmo peso de credibilidade,
independ�ncia e import�ncia da imprensa tradicional. � esse o
trunfo da imprensa escrita, cultivado em anos de tradi��o, ainda
t�o importante quanto antes para sua sobreviv�ncia de qualquer
ve�culo no mundo novo. No Brasil, a crise da m�dia impressa ainda
parece num est�gio ainda anterior, embora a tend�ncia aponte para o
mesmo desfecho. Com a ajuda da economia em expans�o, as receitas de
publicidade cresceram 14% no ano passado e a fatia da internet
parece ainda pouco expressiva - cerca de 3% do volume total - ,
ainda que com um crescimento de quase 50% em rela��o ao ano
anterior. A desacelera��o da economia e o pr�prio progresso da
internet no pa�s, cujos �ltimos indicadores do IBOPE/Net Ratings
sinalizaram a exist�ncia de mais de 40 milh�es de usu�rios acima de
16 anos, sugerem que n�o est�o t�o distantes os mesmos dilemas das
empresas de m�dia nos Estados Unidos. No Brasil, os jornais
trataram de investir no futuro. A Folha de S. Paulo comprou a
participa��o acion�ria da Abril no UOL, aproveitando-se de um
momento em que a editora passava por dificuldades financeiras em
sua opera��o a cabo. O Estado de S. Paulo associou-se a outro
portal e provedor, o Terra. Com isso, ambas as empresas criaram um
colch�o em que, pesando custo e benef�cio, poder�o decidir quando
ser� a hora de cortar as amarras com a era do papel. Mais delicada
� a situa��o de empresas como a Abril, que retomou uma s�lida
posi��o como a maior editora do pa�s, focada novamente na produ��o
de conte�do para suas revistas, mas que desde sua sa�da da TVA e do
UOL perdeu seu plano estrat�gico e, em consequ�ncia, uma sa�da
vi�vel para o futuro. Mesmo a TV, que no Brasil continua soberana
das verbas publicit�rias, assiste a uma divis�o da audi�ncia entre
canais, al�m de uma diminui��o no tempo dispon�vel do telespectador
em benef�cio da internet. Em seguida, vir� a perspectiva da fus�o
das m�dias a longo prazo - internet, TV e servi�os num mesmo
aparelho - que deve lan��-la nos mesmos dilemas da m�dia impressa.
Tanto quanto os jornais, a TV tem dificuldade em abandonar o
presente para dedicar-se ao futuro. Embora esse futuro pare�a ainda
um pouco mais distante que o fim do jornal em papel, o problema �
que ele vir�. A quest�o � que as decis�es tomadas hoje ter�o
influ�ncia daqui a dois ou tr�s anos - e decis�es erradas, nesse
segmento, significar�o n�o somente o fim de um neg�cio, como a
parte mais dolorosa da hist�ria do fim de uma era. www.
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