- Selic disse: a
- Todo mundo: vamos comprar SULA11!
Foi mais ou menos assim que aconteceu após a reunião do Copom
realizada no dia 17 de março e que marcou o fim de uma trajetória
de quase 6 anos com a Selic mantida nas mais baixas históricas. Foi
só o mercado receber a informação de que a taxa básica de juros
brasileira anual saiu dos 2% e foi para 2,75% que a ação com a
maior alta registrada no dia e no decorrer do restante da semana
foi (BOV:SULA11).
Isso chamou atenção dos investidores mais atentos às novas
tendências pós-alta da Selic e, é claro, fez pensar sobre a empresa
por trás desse papel: a SulAmérica. Será que a alta da Selic é a
única vantagem para ela? Por que antes disso ela nunca apareceu
tanto? É um bom investimento? Vamos descobrir isso e muito mais
agora.
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Entenda de vez a Selic – em dois
parágrafos
Se você ainda não entende bem essa coisa de Selic, fica
tranquilo, não é coisa de outro mundo. Na verdade, faz mais parte
do seu mundo do que você imagina. Selic nada mais é do que a taxa
básica de juros. E isso já diz tudo. Funciona assim: o governo
precisa de dinheiro para financiar suas atividades, certo? Para
conseguir essa bufunfa, ele emite títulos no mercado sob o pretexto
de que, quem comprar esses títulos, pode receber um “jurinho” em
cima do valor. Os maiores compradores desses títulos são justamente
aqueles que mais trabalham com dinheiro: os bancos. Assim, o
governo empresta essa verba e paga em forma de “jurinho” a taxa
básica Selic.
Mas por que ela é chamada de taxa “básica”? Porque, se os bancos
ganham no mínimo esse “jurinho” do governo, quando forem emprestar
dinheiro para a pessoa física ou para as empresas, eles terão de
lucrar um pouco a mais que isso. Portanto, se o governo quer
facilitar os financiamentos no mercado, diminui de leve a taxa –
daí os bancos vão cobrar também mais de leve na hora do empréstimo
na praça. Porém, se ele quer dar uma enxugada no consumo, aumenta a
taxa Selic.
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Agora que você já sabe o que é Selic, pode entender por que a
SulAmérica foi tão beneficiada pela alta da taxa de juros. Acontece
que não são apenas os bancos que saem ganhando com o acréscimo no
“jurinho” que eles embolsam. As seguradoras, como é o caso da
SulAmérica, também investem muito em títulos públicos e renda fixa
em geral, o que gera um retorno maior para elas – e isso também
justifica por que essa empresa ficou “escondida” nesse tempo todo
em que a Selic esteve em baixa, afinal isso estava impactando os
retornos dela.
Mas espera, por que as seguradoras investem em renda fixa?
Seguradoras são investidoras natas, como consequência do negócio
que elas operam. Vamos analisar: um seguro de vida ou ainda uma
previdência privada são produtos de longo prazo, certo? Vitalícios,
como dizem nesse ramo. Portanto, faz sentido as seguradoras
investirem parte dos recursos captados com as vendas dos produtos
em ativos que gerem retorno ao longo do tempo. Assim também elas
conseguem garantir o cumprimento de suas obrigações com os
segurados, distribuindo durante o tempo o valor que precisam arcar
com eventuais sinistros e com outros pagamentos acordados nas
apólices.
Além de atuar com seguros de vida e previdência, a SulAmérica
administra serviços de saúde e odontológicos, e faz a gestão de
ativos (dessa vez dos clientes, e não dela própria, como comentamos
anteriormente) por meio do seu braço SulAmérica Investimentos. Em
2020, ela vendeu sua operação com seguros de automóveis e ramos
elementares (residencial, condomínio, empresarial e outros) para o
grupo alemão Allianz – e, diga-se de passagem, foi um 7×1 de
vantagem para esta companhia após essa aquisição e também um ótimo
negócio para a SulAmérica, que pôde focar nas suas áreas mais
rentáveis e ainda embolsar R$ 3 bilhões.
=> Veja a notícia sobre a venda das operações para a
Allianz clicando aqui.
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O que a venda da operação de seguros de auto e ramos
elementares representa para a SulAmérica
Somos obrigados a fazer um parêntese aqui. Afinal, viemos
desenvolvendo ainda mais a explicação sobre o impacto da Selic na
SulAmérica que nem entramos, de fato, em sua história. E ela é
importante, você vai entender por quê.
A SulAmérica é uma das empresas mais antigas do Brasil, surgiu
em 1895! Ela é 100% brasileira, com operações concentradas apenas
no país. Começou com seguros de vida e, quando os primeiros carros
apareceram no país, na década de 1900, ela passou também a iniciar
as atividades de seguros de automóveis. Portanto, foram muitos e
muitos anos nesse ramo antes de pensar em vender essas operações.
Quando isso realmente aconteceu, ela alcançou o seu maior lucro
líquido já registrado na história da empresa, somando R$ 2,3
bilhões no acumulado de 2020.
=> Maior lucro da história da SulAmérica veio
justamente no ano pandêmico.
Antes da venda para a Allianz, ou seja, até 2019, o segmento de
seguros de auto e ramos elementares representava 14,6% do
faturamento total da companhia, enquanto saúde e odonto ficavam com
77,5%. A venda fez com que a SulAmérica pudesse entrar de cabeça
nos seguros envolvendo apenas pessoas. Atualmente (até o quarto
trimestre de 2020), saúde e odonto correspondem a 92,1% da receita
da empresa, enquanto vida, previdência e gestão de ativos ficam com
o restante.
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Mesmo com a venda da parte de seguros para auto e ramos
elementares o portfólio da SulAmérica continua bem diversificado,
não é mesmo? Na verdade, isso é estratégia. Perceba que é possível
fazer a famosa venda cruzada: quem tem um serviço de saúde, por
exemplo, pode aderir ao odontológico e também optar por uma
proteção financeira – ainda mais nos tempos de reforma da
previdência e da pandemia.
Por falar em pandemia, a SulAmérica e as seguradoras em geral
foram até beneficiadas por esse trágico momento da nossa história,
mas ainda que indiretamente, como afirmam os analistas da Toro
Investimentos em relatório: “Devido às medidas de isolamento social
implementadas no país, os principais custos dessas empresas
(sinistros) tiveram redução importante no período. Isso se dá, por
exemplo, pela diminuição no número de consultas e procedimentos
médicos eletivos”.
E após a pandemia, como será que são as expectativas para a
empresa? Ainda conforme a Toro, essa queda de sinistralidade, é
claro, tende a reverter lentamente e levar a companhia de volta aos
patamares anteriores de rentabilidade. Apesar disso, ainda existe
uma boa perspectiva para o crescimento do segmento de seguros
odontológicos e previdência privada (devido à reforma, que
comentamos anteriormente), uma vez que no Brasil ainda são
operações com baixa penetração. A visão vai de encontro com uma
tendência já projetada pela SulAmérica, acompanhe:
Fonte: Apresentação Institucional da empresa (4T20).
No segmento de saúde, isso também é visível:
Fonte: Apresentação Institucional da empresa (4T20).
Mas, quando falamos em penetração de mercado, precisamos
entender melhor quem faz parte dele, afinal a SulAmérica não é a
única seguradora brasileira, apesar de ter sido uma das primeiras a
surgirem no Brasil.
O senhor mercado
Se você já precisou cotar um seguro, deve ter passado por isto:
uma enxurrada de opções de seguradoras no mercado, todas competindo
freneticamente pelo cliente, oferecendo os melhores benefícios e
descontos nas apólices – além de chaveirinhos, canetas, mimos em
lojas ao pontuar no cartão-fidelidade etc.
Portanto, quando se avaliam os pontos de atenção a respeito da
SulAmérica, a concorrência é a primeira que entra na lista.
Avaliando as duas frentes em que a empresa mais atua – saúde e
odonto –, já dá para se ter uma ideia do tamanho dos gigantes que
competem com ela.
Fonte: Apresentação Institucional da empresa (4T20).
Bradesco Seguros (BBDC3 e BBDC4) e Amil (ex-AMIL3, deixou de ser
listada na Bolsa em 2013) ainda são os maiores players à
frente da SulAmérica. Porém, além de olhar para frente, é preciso
acionar o retrovisor, afinal quem chega logo atrás são NotreDame
Intermédica (GNDI3) e Hapvida (HAPV3), empresas que vêm ensaiando
uma possível fusão, o que pode abrir grandes vantagens diante de
todos os outros concorrentes – incluindo da SulAmérica.
Embora a SulAmérica tenha mais de 7 milhões de clientes e uma
cobertura geográfica abrangente, com programa de relacionamento com
os corretores independentes que fazem as vendas para a empresa (o
que previne a alta rotatividade deles) e um alto nível de retenção
entre os clientes, ainda assim ela enfrenta um cenário desafiador.
Mas isso não mudou muito desde 1895, certo? E agora o foco da
companhia está ainda mais forte em saúde e odonto, depois da venda
de auto, portanto as concorrentes que se cuidem.
Justamente pelo fato de a SulAmérica ser tão antiga é que não
contamos toda sua história, mas vale dizer que ela é marcada também
por muitas fusões e aquisições, o que significa uma carta a mais na
manga para continuar concorrendo de cabeça erguida nesse mercado.
Além disso, apesar de ser uma senhora em idade, a companhia tem
seguido as tendências. Prova disso é que o seu aplicativo de saúde
está entre os top 10 mais baixados e ele é líder no ranking de
avaliação, alcançando nota 4,3 (em um máximo de 5).
O senhor mercado na Bolsa
Já em outro mercado, o financeiro, a SulAmérica também enfrenta
concorrência desde 2007, quanto abriu capital. Como comentamos
anteriormente, Amil já é carta fora do baralho na Bolsa. Porém,
Bradesco Seguros (BBDC3 e BBDC4), NotreDame Intermédica (GNDI3) e
Hapvida (HAPV3) já servem para dar uma canseira.
Um detalhe importante: enquanto as outras companhias têm ações
ordinárias e preferenciais disponíveis, a SulAmérica tem as
chamadas units, que nada mais são do que um combo. Assim,
quem compra SULA11 está adquirindo, na verdade, uma ação ordinária
(SULA3) e duas preferenciais (SULA4). Alguns investidores torcem o
nariz para companhias que têm apenas units no mercado, devido à
questão de liquidez. Isso porque vender e liquidar a posição pode
ser mais difícil do que se tivesse os papéis separadamente.
Entretanto, a dica para investir em units é aquela que serve
para toda e qualquer compra de ação no mercado: procurar uma boa
empresa. A SulAmérica só entrou para a lista do Ibovespa – onde se
encontram as ações consideradas mais líquidas e das companhias com
maior valor de mercado – em 2020, mas, muito antes disso, ela já
integrava a carteira do Índice de Ações com Governança Corporativa
Diferenciada (IGC) e do Índice de Ações com Tag Along Diferenciado
(ITAG), e também fazia parte do importante índice britânico
FTSE4GOOD Index Series, que mede o desempenho de empresas que
possuem sólidas práticas ambientais, sociais e de governança
(ASG).
Outra lista que ela compõe – e que o investidor adora – é a de
empresas com bom potencial de pagamento de dividendos. Se você
entrar na página de análise aprofundada da empresa no site da ADVFN
(clique aqui e conheça), vai ver, entre
informações de performance do papel, solidez e governança e saúde
financeira da companhia, a área de proventos. Atualmente (até 25 de
março de 2021), o dividend yield de SULA11 está em 4,58%,
o que equivale a 212% a mais do que o do ano passado. Para
facilitar, veja como fica isso no gráfico:
Fonte: ADVFN (2021).
=> Veja a página completa de análise da empresa no
site da ADVFN. Clique aqui.
=> Saiba quais são as maiores pagadoras de dividendos
em 2021.
Para 2021, a Economatica projeta um dividend yield de
4,08%, enquanto o BTG Pactual, em relatório, estima 2,9% para este
ano, porém 7,8% para 2022. O banco ainda traz outras projeções
bastante otimistas para esse papel:
Fonte: BTG Pactual (2021).
Mas e em termos de valorização das ações, será que SULA11 também
se torna uma boa opção ao pensar em investir dentro desse setor? O
papel já chegou a bater R$ 67,88 na máxima dos últimos cinco anos.
Na mínima, foi a R$ 14,64. Veja o histórico das cotações,
considerando a data de 25 de março como ponto de partida:
1 Ano |
56,01 |
57,44 |
23,08 |
42,55 |
3.237.994 |
-22,98 |
-41,03% |
3 Anos |
20,80 |
67,88 |
17,54 |
40,39 |
2.363.429 |
12,23 |
58,8% |
5 Anos |
15,90 |
67,88 |
14,64 |
36,26 |
1.736.318 |
17,13 |
107,74% |
Fonte: ADVFN (2021).
=> Veja o histórico de cotações de SULA11
aqui.
=> Confira a cotação atual de SULA11 em tempo real
clicando aqui.
Ainda segundo o BTG: “A SulAmérica é uma das melhores opções na
área de saúde, oferecendo uma combinação vencedora de
valuation atrativo (P/E 2021 a 17,3x) e dinâmica de lucros
robusta, enquanto as potenciais fusões e aquisições podem trazer
alta”. A recomendação do banco é de compra para SULA11 nesse
momento.
Porém, a decisão final é sempre sua, investidor. Até porque, se
não houvesse riscos na vida e no mercado, não haveria seguradoras
como a SulAmérica para reter tais riscos, não é mesmo? Analise sua
estratégia e, se pensar em diversificar com alguma seguradora,
agora você já conhece mais essa opção.
Gostou deste conteúdo? Comenta aqui embaixo e aproveita para
compartilhar com seus amigos, afinal, com a alta da Selic, vemos
muitas pessoas entrando em SULA11, mas sem conhecer a fundo a
companhia. É um ótimo momento para saber mais! Aproveitem e bon$$
investimento$$!