Um levantamento feito pela Economatica com as maiores companhias
aéreas do mundo mostra como ficou o valor de mercado delas nas
fases de pré-pandemia até o fim de maio deste ano. Ou seja,
considerando o desempenho do cenário “normal” antes da Covid-19 e
agora do “novo normal”.
Ao todo foram estudadas 21 empresas, que, com seus valores de
mercado somados, acumularam em janeiro de 2020 (meses antes da
pandemia se instaurar globalmente) US$ 186,6 bilhões. Porém, dessa
data até apenas 15 de maio de 2020 (um dos períodos mais críticos
do início da pandemia), as empresas perderam US$ 117,3 bilhões em
valor de mercado.
Elas só foram se recuperar do tombo em 17 de março de 2021,
quando atingiram US$ 190 bilhões, ultrapassando de leve o valor
alcançado no período pré-pandemia. Porém, a oscilação ainda é
grande, tanto que apenas dois meses depois, em 19 de maio, as
aéreas encerraram o dia fechando em US$ 178,4 bilhões. Comparando
esse resultado com o observado lá em 20 de janeiro de 2020 (antes
da pandemia), ele ainda é US$ -8,1 bilhões menor, o que representa
uma queda de -4,4% nesse comparativo.
Portanto, ainda há muita turbulência em se tratando desse setor.
Apenas em 2021 (até 19 de maio), as companhias registram queda de
US$ 11,4 bilhões em valor de mercado. Mas isso quando se fala no
acumulado, porque, ao visualizarmos as empresas separadamente,
alguns países – e os investidores das aéreas – já têm muito que
comemorar.
Cenário global e brasileiro
É fato que muito do prejuízo em termos de valor de mercado das
companhias aéreas se refere à falta de mobilidade urbana ocasionada
pela pandemia e que, logicamente, o inverso dessa situação tende a
trazer desempenhos melhores para o setor. Quando se olha para a
relação de empresas que mais se recuperaram de janeiro de 2020 até
maio de 2021, isso fica ainda mais claro, afinal a maioria é dos
Estados Unidos (embora o primeiro lugar seja do México, algo que
explicaremos em breve), país em que mais de 60% da população já foi
vacinada.
As companhias, ao contrário, que ainda têm valor de mercado
evaporado estão sobretudo localizadas na América Latina, onde
nossas brasileiras GOL (BOV:GOLL4) e Azul (BOV:AZUL4) se encontram.
Veja o ranking:
O primeiro lugar fica para a Volaris, empresa aérea que melhor
se recuperou durante o último ano. De acordo com a revista de
informações financeiras mexicana Expansión, o que
justifica esse desempenho é o fato de no período outras grandes
concorrentes da empresa terem apresentado falta de capital, o que
fez com que a Volaris pudesse ganhar uma vantagem sobre elas,
aumentando sua fatia de mercado (market share). Além
disso, colaborou ainda o fato de que o público estrangeiro atendido
pela Volaris foi de apenas 18% em 2019, portanto ela não ficou tão
exposta assim aos fechamentos de fronteiras ocorridos no período de
pandemia.
A Aeromex, ao contrário disso, atendeu 37% de público
estrangeiro em 2019 e o resultado está bem exposto na tabela
anterior. Ela tem o terceiro pior desempenho no período de análise
da pesquisa. Somado a isso, ainda conforme a revista
Expansión, a Aeromex teve atraso no pagamento de dívidas e
a pandemia a deixou bastante debilitada em termos de liquidez.
Voltando à tabela, o segundo lugar para a China Southern, que é
apenas a maior companhia aérea do mundo atualmente, portanto seu
lugar no ranking é mais do que garantido. Mas vale frisar que o bom
resultado também é fruto de o mercado doméstico chinês não ter
sofrido muitas mudanças durante a pandemia. O país continuou
operando, em alguns momentos com restrições, em outros apostando no
preço baixo para garantir mais demanda, mas no geral se manteve
estável.
Agora, quando analisamos as companhias aéreas dos Estados
Unidos, fica evidente que todas as ações realizadas pelo governo
durante a pandemia corroboraram para que essas empresas – e não
somente elas – pudessem voar cada vez mais alto. Além de mais da
metade da população já ter sido vacinada, os pacotes de estímulos
econômicos e de infraestrutura também auxiliaram. Com vacina e
dinheiro no bolso, é um movimento natural haver a retomada desse
setor, ainda mais depois de tantos lockdowns e incertezas
quanto à pandemia ao longo do último ano.
Porém, no fim da tabela temos as latino-americanas. E dentro dos
top 5 piores desempenhos, dois lugares ficam para companhias
brasileiras. Por aqui, somente 10% da população já foi totalmente
imunizada, enquanto o México está logo atrás, com 9,9% das pessoas
vacinadas. No Chile, ao contrário, 42% da população já segue
imunizada e na Colômbia a porcentagem é de 6,5%.
Portanto, não é apenas questão de vacinação em dia, embora isso
conte muito. De acordo com Luis Sales, analista da Guide
Investimentos: “A crise nos países da América Latina comprometeu
mais o dinheiro da população por conta do aumento do custo de
alimentos e combustível, diferente da população de países mais
desenvolvidos, que, aliado à vacinação, possuem disponibilidade de
renda para o turismo”.
Já conforme o analista Roberto Martins de Castro Neto, da
Capitalizo, “o ano de 2021 ainda será bastante desafiador para o
setor aéreo como um todo, até que se tenha a plena retomada da
normalidade pós-Covid”. Para 2022, de acordo com o guidance
(projeção) da Azul, a companhia espera ver suas operações
totalmente recuperadas, o que, segundo o analista da Capitalizo,
pode realmente ocorrer, desde que a imunização da população esteja
bem desenvolvida, já que a aérea é muito dependente do mercado
doméstico.
Quanto à Gol, a companhia espera uma conclusão bem-sucedida da
vacinação, esperada para ainda este ano. “Combinada com os nossos
atuais balanço patrimonial fortalecido e base de custos mais
enxuta, propiciam maior confiança quanto ao nosso desempenho no
segundo semestre de 2021”, afirma Paulo Kakinoff,
diretor-presidente da empresa, em fato relevante. Para ele, as
projeções são de forte recuperação na demanda por viagens, conforme
chega a temporada de verão no hemisfério sul.
Se todas as expectativas de concretizarem, vai dar muita praia,
viagens e retornos de investimentos ainda este ano. Até lá,
continue acompanhando tudo por aqui na ADVFN.
AZUL PN (BOV:AZUL4)
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